Andryi Shevchenko: "A Ucrânia precisa de mais ajuda"

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De  Anelise Borgeseuronews
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A euronews falou com o jogador de futebol ucraniano Andryi Shevchenko sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia.

Andryi Shevchenko, um dos melhores jogadores de futebol da história da Ucrânia, é um dos embaixadores da iniciativa United 24, que visa recolher donativos para ajudar a Ucrânia. Autêntica lenda do mundo do desporto, Shevchenko representa hoje a luta do seu povo para resistir à invasão russa. 

euronews: "Vem de um mundo de sucessos e vitórias, marcou o mundo do futebol. E hoje está aqui para falar de um país que enfrenta destruição e deslocação de pessoas. Alguma vez imaginou estar nesta situação e que isto aconteceria ao seu país?”

Andriy Shevchenko: “Sim, é difícil de acreditar. É verdade que tudo começou em 2014, primeiro com a anexação da Crimeia, a guerra em Donetsk, que foi a primeira parte do conflito. Ainda me lembro, duas semanas antes, falei muito com a minha família, com a minha irmã, a minha mãe, estávamos a pensar, a falar sobre o que iríamos fazer. Mas eu não podia acreditar e a minha família dizia 'é impossível, não acreditamos que possa acontecer'. Vimos a embaixada dos Estados Unidos, a embaixada italiana, todas as embaixadas europeias a começarem a afastar-se de Kiev, da Ucrânia. Foi aí que começámos mesmo a ficar preocupados. Quando a guerra começou, na manhã do dia 24, recebi um telefonema da minha mãe. E imediatamente, quando vi a minha mãe a telefonar-me, apercebi-me que algo de muito mau tinha acontecido. Atendi o telefone e ouvi a voz da minha mãe, ela estava a chorar e a dizer que a guerra tinha começado. Foi o momento mais difícil da minha vida. Desde então, tudo mudou para nós. É difícil de acreditar para mim. O desporto nunca tinha sido realmente tocado pela política ou pela guerra, estava sempre afastado de conflitos. Porque o desporto tem uma mensagem diferente para as pessoas, aproxima as pessoas, une as pessoas, sem agressões, o fair play é muito importante.

Penso que só refletimos verdadeiramente nas coisas, quando uma situação nos toca pessoalmente.
Andriy Shevchenko

euronews: “O mundo do desporto também tem sido afetado por esta guerra. Tem sido bastante extraordinário ver como tem reagido. Temos visto equipas e atletas russos serem banidos das competições ou serem autorizados a jogar sob regras estritas de neutralidade. Muitos analistas dizem que a invasão russa da Ucrânia forçou o mundo do desporto a escolher um lado, a tornar-se mais político. Concorda com isso? E acha que isso é importante neste momento?”

Andriy Shevchenko: “Claro que sim. Como disse, o desporto envia uma mensagem muito forte especialmente para os jovens, para a geração jovem, também para o mundo: estamos juntos contra a agressão. A FIFA e a UEFA mostraram-se muito firmes quando decidiram proibir todas as equipas russas de participar em muitas competições, de proibir os clubes russos de participar em competições desde o início da guerra. Foi uma mensagem clara e eu concordo absolutamente com ela”.

euronews: “Muitas pessoas criticaram os atletas russos por não tomarem posição contra a guerra. O que pensa ? Deveria haver hoje mais atletas russos a fazer campanha contra esta invasão?”

Andriy Shevchenko: Eu não julgo as pessoas. Somos todos muito diferentes. Mas penso que, se são pessoas fortes, se querem viver a sua vida, ser justos consigo próprios, devem expressar-se. Temos de nos unir, falar alto, e ficar unidos contra esta agressão.

euronews: “Houve uma reação extraordinária face aos milhões de pessoas deslocadas, muitas tiveram de abandonar a Ucrânia. Na Europa, houve uma vontade extraordinária de ajudar essas pessoas, de as acolher. O que tem sido bastante diferente da reação face a pessoas oriundas de outras crises, como a Síria ou outras partes do Médio Oriente. Sentiu essa diferença?"

A FIFA e a UEFA mostraram-se muito firmes quando decidiram proibir todas as equipas russas de participar em muitas competições.
Andriy Shevchenko

Andriy Shevchenko: “Para ser honesto, penso que só refletimos verdadeiramente nas coisas, quando uma situação nos toca pessoalmente. Estou convencido de que temos de nos preocupar mais com este conflito. O mundo tem de reagir imediatamente. Para mim, esta é a forma como vejo o futuro. Temos de estar unidos e reagir imediatamente a esta agressão e qualquer agressão no mundo”.

euronews: “Tem uma mensagem para o povo da Ucrânia? Certas pessoas, atletas como é o seu caso, largaram tudo, abandonaram as suas velhas vidas e agora estão a lutar com armas contra a Rússia. Para as pessoas de todo o mundo que o conhecem muito bem pelas suas vitórias, pela sua bela carreira, tem uma mensagem sobre a importância de não esquecer a Ucrânia, de não desviar o olhar deste conflito?”

Andriy Shevchenko: “A minha mensagem para o mundo é que já passaram mais de seis meses desde que a guerra começou e, claro, a consciência da guerra é como as ondas, vai e vem. A minha mensagem é: a guerra continua, a situação é muito crítica. A cada dia que passa, as pessoas estão a perder a esperança, estão a perder as suas casas, as suas vidas. Precisam de muita ajuda. Não fiquem indiferentes. Eu sei que muitos de vós já ajudaram muito. E quero agradecer a todos por isso. Mas também sei que a Ucrânia precisa de mais ajuda. E por favor, não fiquem indiferentes. O meu povo tem estado sempre unido. A minha mensagem será sempre "Glória aos ucranianos!".

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