Presidente russo falou ao país durante quatro horas e garantiu que os objetivos do Kremlin em relação à guerra na Ucrânia não se alteraram. Putin revelou ainda que estão mais de 600 mil militares russos a lutar em território ucraniano.
Vladimir Putin garantiu esta quinta-feira, na sua tradicional conferência de imprensa de fim de ano, em que responde às questões de jornalistas e cidadãos russos, que os seus objetivos não mudaram e que não haverá paz na Ucrânia até estes serem alcançados, nomeadamente a "desnazificação" e "desmilitarização" da Ucrânia.
O presidente russo declarou ainda que Kiev "nada conseguiu" com a sua "grande contraofensiva", que começou no verão passado, e que as tropas russas melhoraram as suas posições na frente de batalha, que se prolonga agora ao longo de "mais de 2.000 quilómetros", afiançou Putin. Segundo o presidente russo, estão a lutar na Ucrânia 617 mil militares da Federação Russa e, no ano passado, 300 mil cidadãos russos foram mobilizados para combate; 486 mil alistaram-se voluntariamente.
Putin não deu números de baixas, mas admitiu que os filhos de pessoas do seu círculo mais próximo foram para a guerra através de empresas militares privadas e revelou que morreram na Ucrânia pessoas que lhe eram próximas.
Um relatório dos serviços de informação norte-americanos que foi divulgado esta semana estima que cerca de 315 mil soldados russos tenham sido mortos ou feridos desde que a guerra começou - ou sejam, cerca de 90% dos militares que estavam ao serviço da Rússia no início do conflito em 2022.
"Haverá paz quando atingirmos os nossos objetivos que mencionaram. Agora, vamos regressar a estes objetivos. Eles não mudam. Deixem-me recordar-vos do que falávamos na altura: a desnazificação da Ucrânia, a desmilitarização, o estatuto de neutralidade", disse Putin, descrevendo o que está a acontecer na Ucrânia como "uma enorme tragédia, semelhante a uma guerra civil".
Apoio à Ucrânia está "a esgotar-se"
O presidente russo disse ainda que o apoio dos aliados à Ucrânia está a esgotar-se. "Hoje, a Ucrânia não produz quase nada. Perdoem-me a vulgaridade, mas está tudo a ser levado de graça. Mas essas borlas podem acabar a dada altura. E parece que estão progressivamente a esgotar-se", sublinhou.
Putin falou também sobre as relações com os Estados Unidos, que considerou um "país importante" mas que acusou de imperialismo, incentivando Washington a respeitar "outras pessoas e outros países". E garantiu que o Kremlin está pronto a reatar as relações com os EUA logo que a nação ponha em prática esse respeito.
Questionado pela correspondente do New York Times sobre o que será necessário para que a Rússia liberte os dois norte-americanos detidos no seu território - o correspondente do Wall Street Journal Evan Gershkovich e o veterano da Marinha Paul Whelan - o presidente russo respondeu que quer chegar a um acordo, mas que este tem de ser "aceitável" para ambos os lados.
"Está a decorrer um diálogo sobre a matéria", afirmou. "É um diálogo difícil e não vou entrar agora em detalhes, mas julgo que no geral estamos a falar uma linguagem que ambos compreendemos. Espero que encontremos uma solução", garantiu.
A certo ponto, sublinha a BBC, Putin pareceu admitir que as figuras da oposição russa são efetivamente perseguidas por Moscovo: ao ser questionado por um jornalista se o código penal poderia ser alterado para impedir uma "caça às bruxas" contra os jornalistas, incluindo a uma colega pró-Kremlin, o presidente russo respondeu: "Mas o que é que ela fez para ser perseguida? O que é que ela é, alguma grande figura da oposição ou assim?", respondeu Putin.
O líder do Kremlin falou ainda sobre o conflito Israel-Hamas, considerando-o uma "catástrofe", tendo negado que o nível de destruição na Faixa de Gaza se assemelhe ao da Ucrânia. E considerou os Estados Unidos os responsáveis pelas explosões que destruíram o gasoduto Nord Stream, em setembro de 2022 - sem fornecer qualquer prova das suas alegações.