Evan Gershkovich foi condenado a 16 anos de prisão numa colónia penal.
Um tribunal russo condenou esta sexta-feira o jornalista norte-americano Evan Gershkovich, do Wall Street Journal, a uma pena de prisão de 16 anos por espionagem, a ser cumprida numa colónia penal.
Gershkovich, 32 anos, foi detido em março de 2023 durante uma viagem de trabalho à cidade de Yekaterinburgo, nos Montes Urais. Foi acusado de recolher informações para os Estados Unidos durante a reportagem e tem estado detido desde então.
Foi o primeiro jornalista americano detido sob acusação de espionagem desde Nicholas Daniloff, em 1986, no auge da Guerra Fria.
A detenção de Gershkovich chocou os jornalistas estrangeiros na Rússia, apesar de o país ter em vigor leis repressivas em matéria de liberdade de expressão, sobretudo depois da invasão da Ucrânia.
As alegações finais decorreram à porta fechada no julgamento de Gershkovich, onde o jornalista não admitiu qualquer culpa, segundo o serviço de imprensa do tribunal.
Contrariamente ao que aconteceu na abertura do processo, a 26 de junho, em Yekaterinburgo, e às audiências anteriores em Moscovo, em que os jornalistas foram autorizados a ver Gershkovich por instantes antes do início das sessões, não houve acesso à sala de audiências na quinta-feira, mas os meios de comunicação social foram autorizados a entrar no tribunal esta sexta-feira para o veredito.
Os tribunais russos condenam mais de 99% dos arguidos e os procuradores podem recorrer de sentenças que considerem demasiado brandas. Até podem recorrer de absolvições.
Possível troca de prisioneiros?
“A detenção injusta de Evan tem sido um escândalo desde a sua prisão injusta há 477 dias e tem de acabar agora”, afirmou o Wall Street Journal numa declaração divulgada na quinta-feira. “Mesmo enquanto a Rússia orquestra o seu julgamento vergonhoso, continuamos a fazer tudo o que podemos para pressionar pela libertação imediata de Evan e para afirmar inequivocamente: Evan estava a fazer o seu trabalho como jornalista, e o jornalismo não é um crime. Tragam-no já para casa”.
O Departamento de Estado dos EUA declarou que Gershkovich foi “detido injustamente”, comprometendo o governo a procurar ativamente a sua libertação.
Questionado na sexta-feira sobre uma possível troca de prisioneiros envolvendo Gershkovich, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, recusou-se a comentar.
O Ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergey Lavrov, afirmou na quarta-feira, nas Nações Unidas, que Moscovo e os "serviços especiais" de Washington estão a discutir uma troca envolvendo Gershkovich. A Rússia já tinha assinalado anteriormente a possibilidade de uma troca, mas diz que primeiro teria de haver um veredito. Mesmo depois de um veredito, qualquer acordo deste género pode demorar meses ou anos.
Na quinta-feira, o porta-voz adjunto do Departamento de Estado, Vedant Patel, recusou-se a discutir as negociações sobre uma possível troca, mas disse à impresa: “Temos sido claros desde o início que Evan não fez nada de errado e não deveria ter sido detido. Até à data, a Rússia não apresentou qualquer prova de crimes e não conseguiu justificar a detenção de Evan”.
O presidente russo, Vladimir Putin, deu a entender no início deste ano que estaria aberto a trocar Gershkovich por Vadim Krasikov, um russo que cumpre pena de prisão perpétua pelo assassinato em 2019, em Berlim, de um cidadão georgiano de ascendência chechena.