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Palestinianos estão há mais de um mês sem ajuda humanitária

Crianças palestinianas fazem fila à espera de alimentos, na Faixa de Gaza, 11 de abril de 2025.
Crianças palestinianas fazem fila à espera de alimentos, na Faixa de Gaza, 11 de abril de 2025. Direitos de autor  AP Photo/Abdel Kareem Hana
Direitos de autor AP Photo/Abdel Kareem Hana
De Emma De Ruiter
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Após o recente cessar-fogo em Gaza, a Euronews acompanhou a viagem de Mohammed, de 22 anos, de regresso a casa, no norte da Faixa de Gaza. Dois meses depois, diz que já não resta nada.

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A vida quotidiana na Faixa de Gaza está a tornar-se cada vez mais difícil, com os palestinianos sem acesso a ajuda humanitária há mais de um mês.

O gabinete de coordenação de emergências das Nações Unidas, o OCHA, alertou esta semana para uma situação que diz ser "provavelmente a pior dos últimos 18 meses, quando começaram as hostilidades".

Desde 2 de março que não entram alimentos, água, medicamentos ou artigos comerciais no enclave, depois de Israel ter imposto um bloqueio e renovado a campanha militar contra o Hamas em toda a Faixa de Gaza.

Há dois meses, a Euronews falou com Mohammed, de 22 anos, que pôde regressar a casa com a família, no norte de Gaza, depois de ter sido deslocado durante 15 meses. O regresso foi possível devido a um acordo de cessar-fogo de oito semanas entre Israel e o Hamas.

Este cessar-fogo permitiu a Mohammed regressar à casa da família, depois de ter sido deslocado quatro vezes. Ele esteve entre os mais de meio milhão de palestinianos que fizeram uma longa viagem para norte ao longo do corredor de Netzarim, que Israel reabriu em fevereiro.

Quando regressou, Mohammed encontrou a casa bastante destruída, mas estava agradecido por ainda restar um teto para a família.

"Estamos a viver de um milagre e a arriscar tudo, arriscando-me a mim, à minha família, aos filhos da minha irmã, só para nos protegermos do inverno", disse na altura à Euronews.

Casa da família de Mohammed, no norte de Gaza, quando este regressou em fevereiro, durante um cessar-fogo entre Israel e o Hamas.
Casa da família de Mohammed, no norte de Gaza, quando este regressou em fevereiro, durante um cessar-fogo entre Israel e o Hamas. Euronews

Mas, um mês depois do fim do cessar-fogo, diz que voltou a ser deslocado e que a família vive agora numa tenda.

Uma pancada no telhado

"Foi chocante porque veio de repente". Mohammed conta à Euronews que os ataques começaram a meio da noite, sem aviso prévio. "Era o 20º dia do Ramadão, creio eu (20 de março), e estávamos acordados para comer qualquer coisa antes de começar o nosso jejum".

Segundo Mohammed, a casa foi alvo de uma "pancada no telhado" por parte dos militares israelitas.

O Instituto de Estudos de Segurança Nacional, em Telavive, descreve a "pancada no telhado" como uma prática utilizada pelos militares israelitas "quando se teme a presença de civis num edifício definido como alvo militar".

Um pequeno míssil gerador de ruído é lançado no telhado de um edifício para avisar os civis a saírem antes de um ataque maior.

Israel tem usado esta tática desde a primeira guerra de Gaza, em 2008, e afirma que bater no telhado é um método de aviso legítimo para evitar danos civis. No entanto, os críticos do método afirmam que este prejudica os bens e os meios de subsistência da população de forma desproporcional. A Amnistia Internacional tem-se pronunciado contra esta tática desde 2014, afirmando que muitas vezes não há justificação militar para destruir infraestruturas civis.

Mohammed diz que o que restava da casa quando regressou, durante o cessar-fogo, foi agora completamente destruído. "Se esta guerra alguma vez acabar, não tenho nenhum sítio (para viver)", diz. "Agora é tudo entulho, está inabitável."

"A tenda nem sequer é minha"

Depois de a casa de Mohammed ter sido atingida, a família não teve abrigo durante duas semanas, disse à Euronews. "Só agora, nesta última semana, é que consegui, com grandes dificuldades, arranjar uma tenda para eu e a minha família nos abrigarmos. A tenda nem sequer é minha, pertence a outra pessoa e só posso usá-la temporariamente".

Mas Mohammed diz que mesmo o acampamento onde se encontra não está a salvo dos bombardeamentos. "Há pouco tempo, houve um bombardeamento no meu acampamento... O ataque atingiu uma área a cerca de cinco tendas de distância de mim".

Entretanto, os preços dos alimentos e dos medicamentos subiram em flecha desde o bloqueio e Mohammed diz que só consegue obter cerca de um quilo de arroz por dia para se alimentar a si próprio, à mãe, à irmã e aos quatro filhos desta.

A UNICEF já avisou que "a desnutrição, as doenças e outras condições evitáveis devem aumentar, aumentando o risco de mortes infantis evitáveis".

Esta agência acrescenta que só existe leite em pó para 400 crianças, "enquanto cerca de 10.000 bebés com menos de seis meses não são amamentados exclusivamente".

Os sobrinhos de Mohammed a partilhar uma refeição.
Os sobrinhos de Mohammed a partilhar uma refeição. Euronews

As autoridades israelitas dizem que o bloqueio faz parte de uma tentativa de limitar os recursos do Hamas e aumentar a pressão sobre o grupo, para que liberte os restantes reféns que fez durante o ataque de 7 de outubro de 2023 no sul de Israel, que desencadeou a guerra entre os dois lados.

O diretor regional da UNICEF para o Médio Oriente e Norte de África, Edouard Beigbeder, defende que a tão necessária ajuda deve ser autorizada a entrar na Faixa de Gaza.

"A UNICEF tem milhares de paletes à espera de entrar na Faixa de Gaza", explica Beigbeder.

"A maior parte desta ajuda é vital, mas em vez de salvar vidas, está armazenada. Tem de ter autorização para entrar imediatamente. Não se trata de uma escolha ou de caridade, é uma obrigação ao abrigo do direito internacional".

Na semana passada, os chefes de sete organizações humanitárias da ONU emitiram uma declaração conjunta apelando a uma ação urgente para proteger os civis de Gaza.

"Estamos a assistir a atos de guerra em Gaza que mostram um total desrespeito pela vida humana", escreveram.

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