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França: o que se segue e quem pode ser o próximo primeiro-ministro

O presidente de França, Emmanuel Macron, cumprimenta o primeiro-ministro, Francois Bayrou, em Paris, 5 de setembro de 2025.
O presidente de França, Emmanuel Macron, cumprimenta o primeiro-ministro, Francois Bayrou, em Paris, 5 de setembro de 2025. Direitos de autor  Christophe Ena/Copyright 2025 The AP. All rights reserved
Direitos de autor Christophe Ena/Copyright 2025 The AP. All rights reserved
De Sophia Khatsenkova
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Após a queda de François Bayrou, Emmanuel Macron enfrenta a difícil decisão de encontrar um quinto primeiro-ministro em menos de dois anos ou convocar eleições antecipadas.

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França mergulhou numa nova crise política na segunda-feira após o primeiro-ministro, François Bayrou, e o seu governo minoritário caírem na sequência da perda de uma moção de confiança crucial no parlamento.

Os deputados votaram contra o governo por 364-194, forçando o presidente Emmanuel Macron a procurar um novo chefe de governo.

Bayrou — no cargo há menos de um ano — apostou o futuro político nesta moção de confiança sem precedentes, confiando que os deputados apoiariam os seus cortes profundos nos gastos para controlar a dívida crescente de França.

Em vez disso, tanto a esquerda como a extrema-direita, aproveitaram a oportunidade para o derrubar.

Quais são os próximos passos?

O gabinete de Macron confirmou que o presidente vai aceitar a demissão de Bayrou na terça-feira e nomear um substituto “nos próximos dias.”

Segundo a constituição francesa, Bayrou pode permanecer em funções interinas até lá, tratando apenas de assuntos rotineiros.

França já operou sob governos interinos duas vezes nos últimos dois anos: entre julho e setembro de 2024, após a demissão do governo de Gabriel Attal, e em dezembro de 2024, após a queda do governo de Michel Barnier.

Macron tem agora duas opções: nomear um novo primeiro-ministro, capaz de sobreviver no parlamento dividido, ou dissolver a Assembleia Nacional e convocar eleições antecipadas.

Até agora, ele resistiu à segunda opção, mas o impasse pode eventualmente deixá-lo sem escolha.

Resultados da moção que levou o primeiro-ministro François Bayrou a demitir-se, Paris, 8 de setembro de 2025.
Resultados da moção que levou o primeiro-ministro François Bayrou a demitir-se, Paris, 8 de setembro de 2025. Christophe Ena/Copyright 2025 The AP. All rights reserved

Se Macron optar por novas eleições, a constituição exige que sejam realizadas entre 20 e 40 dias após a dissolução.

Por tradição, o presidente nomeia, em seguida, um primeiro-ministro do partido que ganhar o maior número de assentos, embora constitucionalmente não seja obrigado a fazê-lo.

Se um único partido ganhar a maioria absoluta, no entanto, o presidente seria na prática forçado a nomear o seu líder como primeiro-ministro, um movimento conhecido como 'coabitação' na política francesa.

Foi o caso em 1993, quando o presidente socialista François Mitterrand teve de nomear o conservador Édouard Balladur como primeiro-ministro após a vitória esmagadora da direita nas eleições legislativas.

Se Macron ignorar este resultado e nomear um aliado, esse governo quase certamente enfrentaria uma moção de censura imediata.

Quem pode suceder Bayrou?

Já começou a especulação sobre os possíveis sucessores. Aqui estão alguns dos candidatos.

Candidatos de esquerda:

O líder do Partido Socialista, Olivier Faure, discursa após a segunda volta das eleições legislativas, 7 de julho de 2024.
O líder do Partido Socialista, Olivier Faure, discursa após a segunda volta das eleições legislativas, 7 de julho de 2024. Aurelien Morissard/Copyright 2024 The AP. All rights reserved.
  • O líder socialista Olivier Faure declarou que o seu partido está “pronto para governar” e até recebeu incentivo público do ex-presidente François Hollande. No entanto, a proposta socialista de imposto sobre os ultra-ricos pode desencorajar Macron de escolhê-lo. Além disso, vários deputados da direita conservadora e do partido de extrema-esquerda La France Insoumise são contra a nomeação de Faure.
  • Bernard Cazeneuve, ex-primeiro-ministro socialista, é visto como uma ponte para a esquerda moderada. Cazeneuve surge como uma possibilidade apenas se os socialistas concordarem em não derrubá-lo, já que deixou o partido em 2022.
  • Pierre Moscovici, chefe do Tribunal de Contas da França, tem uma reputação de prudência fiscal. Um perfil que poderia tranquilizar os mercados e atrair o apoio dos socialistas moderados.

Do próprio campo de Macron:

O ministro da Defesa francês, Sébastien Lecornu, chega ao Palácio do Eliseu
O ministro da Defesa francês, Sébastien Lecornu, chega ao Palácio do Eliseu Christophe Ena/Copyright 2025 The AP. All rights reserved.
  • O ministro da Defesa, Sébastien Lecornu, é a escolha mais clara de “continuidade”, um leal colaborador da era Macron que ocupa cargos na equipa do presidente desde 2017. Quase se tornou primeiro-ministro em dezembro passado antes de uma intervenção de última hora de Bayrou.
  • A ministra do Trabalho, Catherine Vautrin, oferece um foco na política social de centro-direita que poderia atrair partes da direita conservadora, mas tem oposição à esquerda. Alguns dos aliados à esquerda de Macron rejeitaram a candidatura de Vautrin devido à oposição desta ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.
O ministro das Finanças francês, Éric Lombard, durante uma conferência de imprensa.
O ministro das Finanças francês, Éric Lombard, durante uma conferência de imprensa. Ebrahim Noroozi/Copyright 2025 The AP. All rights reserved
  • O ministro da Economia, Éric Lombard, sinalizou abertura para um compromisso com a esquerda sobre o orçamento de 2026. É fluente em finanças públicas, sem ambições presidenciais, e tem laços pessoais com o líder socialista Olivier Faure, o que poderia ganhar parte da esquerda.
  • A nomeação do Ministro da Justiça, Gérald Darmanin, poderia sinalizar uma inclinação mais dura para a lei e a ordem, o que provavelmente endureceria a oposição da esquerda. Se as ambições presidenciais de Gérald Darmanin para 2027 o levariam a aceitar uma posição de perfil tão alto, ainda se está por ver.

Candidatos de direita:

O Ministro do Interior, Bruno Retailleau, no desfile do Dia da Bastilha, em Paris, 14 de julho de 2025.
O Ministro do Interior, Bruno Retailleau, no desfile do Dia da Bastilha, em Paris, 14 de julho de 2025. Christophe Ena/Copyright 2025 The AP. All rights reserved.
  • O ministro do Interior, Bruno Retailleau, encarna uma linha conservadora mais rígida. Isso poderia ganhar a tolerância de alguns deputados de extrema-direita, mas aumentaria a resistência da esquerda e inquietaria os centristas.
  • Xavier Bertrand traz um forte apoio conservador. Mas as suas relações tensas com a extrema-direita poderiam complicar qualquer cálculo de maioria.

Macron com um espaço de manobra cada vez menor

O próximo primeiro-ministro vai enfrentar a mesma tarefa quase impossível: tentar aprovar o orçamento através de um parlamento fragmentado onde nenhum partido tem maioria.

Macron prometeu permanecer no cargo até ao fim do mandato em 2027. Mas após a queda de vários governos em menos de dois anos, França arrisca-se a mergulhar ainda mais na paralisia política, com a segunda maior economia da Europa ainda sobrecarregada pela crescente dívida.

No discurso ao parlamento antes da votação na segunda-feira, Bayrou alertou sobre um país “em respiração assistida” e viciado em gastos.

A dívida pública francesa ultrapassa agora os 3,3 biliões de euros ou 114% do PIB, a terceira mais alta da zona euro depois da Grécia e Itália.

O défice atingiu 5,8% do PIB em 2023, quase o dobro do limite de 3% da União Europeia, e está previsto ser de 5,4% este ano.

O plano de Bayrou visava cortar 44 mil milhões de euros em gastos até 2026, em parte reduzindo dois feriados públicos, mas os opositores denunciaram-no como socialmente injusto.

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