A votação ocorreu poucos dias antes da reunião anual dos líderes mundiais na Assembleia Geral da ONU, onde Gaza será um dos principais temas e onde se espera que os principais aliados dos EUA reconheçam um Estado palestiniano independente.
Uma resolução do Conselho de Segurança da ONU que apelava a um cessar-fogo imediato e permanente em Gaza e à libertação dos prisioneiros foi vetada pelos EUA na quinta-feira, com Washington a afirmar que a tentativa ficou aquém da denúncia do Hamas.
A resolução foi aprovada pelos outros 14 membros do órgão mais poderoso da ONU, que apelou a Israel para que eliminasse todas as limitações à distribuição de ajuda aos 2,1 milhões de palestinianos que vivem em Gaza e descreveu a situação humanitária como "catastrófica".
"A oposição dos EUA a esta resolução não será uma surpresa", disse Morgan Ortagus, conselheira política sénior dos EUA, antes da votação.
"A resolução não condena o Hamas nem reconhece o direito de Israel a defender-se e legitima erradamente as falsas narrativas que beneficiam o Hamas e que, infelizmente, encontraram eco neste Conselho". Ortagus acrescentou que os outros membros do Conselho "ignoraram" os avisos dos EUA sobre a linguagem "inaceitável" e, em vez disso, adoptaram "uma ação performativa destinada a obter um veto".
"Posso compreender a raiva, a frustração e o desapontamento do povo palestiniano que pode estar a assistir a esta sessão do Conselho de Segurança, esperando que haja alguma ajuda e que este pesadelo possa chegar ao fim", disse Riyad Mansour, o embaixador palestiniano na ONU.
A votação ocorreu poucos dias antes da reunião anual dos líderes mundiais na Assembleia Geral das Nações Unidas, onde Gaza será um dos principais temas e onde se espera que os principais aliados dos EUA reconheçam um Estado palestiniano independente, uma medida em grande parte simbólica que tem a oposição veemente de Israel e dos EUA.
O veto dos EUA à resolução surge no momento em que cerca de metade dos americanos considera que a resposta militar israelita na Faixa de Gaza foi "longe demais", de acordo com a sondagem do The Associated Press-NORC Center for Public Affairs Research.
Última resolução vincula cessar-fogo à libertação de reféns
A resolução, redigida pelos dez membros eleitos do Conselho, que cumprem mandatos de dois anos, vai mais longe do que as versões anteriores, sublinhando aquilo a que chama o "agravamento do sofrimento" dos civis palestinianos.
A resolução reitera as exigências das versões anteriores, incluindo a libertação de todos os reféns detidos pelo Hamas e outros grupos militantes na sequência do ataque surpresa de 7 de outubro de 2023 no sul de Israel, que deu início à guerra em Gaza.
Ao opor-se a resoluções semelhantes desde novembro, os Estados Unidos queixaram-se de que as exigências, incluindo um cessar-fogo, não estavam diretamente relacionadas com a libertação incondicional dos reféns e só iriam encorajar os militantes do Hamas.
A nova resolução exprime um "profundo alarme", na sequência de um relatório publicado no mês passado pela maior autoridade mundial em matéria de crises alimentares, segundo o qual a cidade de Gaza está a ser atingida pela fome e é provável que esta se alastre a todo o território sem um cessar-fogo e o fim das restrições à ajuda humanitária.
As forças israelitas prosseguiram com uma nova ofensiva terrestre na cidade de Gaza. A mais recente operação israelita, que teve início na terça-feira, agrava ainda mais um conflito que tem agitado o Médio Oriente e que, provavelmente, torna qualquer cessar-fogo ainda mais inatingível.
As forças armadas israelitas, que afirmam querer "destruir as infraestruturas militares do Hamas", não deram um calendário para a ofensiva, mas havia indicações de que poderia demorar meses.
Os analistas acreditam que o resultado da votação de quinta-feira evidencia ainda mais o isolamento dos Estados Unidos e de Israel na cena mundial em relação à guerra de quase dois anos em Gaza.
Na semana passada, a Assembleia Geral da ONU votou esmagadoramente a favor de uma solução de dois Estados para o conflito israelo-palestiniano e instou Israel a comprometer-se com um Estado palestiniano.