Em resposta a uma série de atos de sabotagem contra infraestruturas estratégicas polacas, o governo lança uma ampla operação denominada "Horyzont" (Horizonte).
A destruição dos carris ferroviários e a tentativa de fazer descarrilar um comboio na estação de Mika (no distrito de Garwolin, Mazóvia) e na estação de Gołąb, perto de Puławy (Lublin), são mais dois incidentes a incluir numa série de atos de sabotagem contra a Polónia. O primeiro-ministro, Donald Tusk, informou que os autores destes atos de sabotagem foram identificados: dois cidadãos ucranianos que, há muito tempo, trabalhavam para os serviços secretos russos.
"A Polónia está preparada e utilizará todos os recursos de que dispõe, em todos os Ministérios, em todas as agências estatais, para defender a segurança dos seus cidadãos e a segurança das suas infraestruturas", anunciou o ministro do Interior e da Administração, Marcin Kierwiński, durante uma conferência na Chancelaria do Presidente do Conselho de Ministros.
Cerca de 10 mil soldados estarão envolvidos na operação, os quais irão cooperar com a polícia, a Guarda Fronteiriça, o Serviço de Proteção Ferroviária e outras entidades responsáveis pela segurança do Estado.
Forças Armadas e serviços unem forças
Władysław Kosiniak-Kamysz, ministro da Defesa Nacional, informou que a escala da operação faz dela uma das maiores dos últimos anos.
"Dedicamos a esta operação até 10 mil soldados. Esta é uma das maiores", salientou, tendo destacado ainda as "operações que são realizadas todos os dias para proteger o espaço aéreo" polaco.
Conforme destacado, a operação “Horyzont” incluirá, entre outras dimensões, o reforço da proteção de infraestruturas críticas e a intensificação de patrulhas conjuntas em áreas particularmente vulneráveis a atividades de sabotagem.
O general Wiesław Kukuła, chefe do Estado-Maior do Exército da Polónia, apresentou os objetivos estratégicos da operação:
"Os nossos objetivos serão, em primeiro lugar, apoiar as ações dos serviços subordinados ao ministro do Interior e da Administração; em segundo lugar, prevenir atos de sabotagem e distração; em terceiro lugar, limitar a liberdade de ação e introduzir riscos adicionais inaceitáveis para potenciais sabotadores; e, finalmente, a mobilização dos cidadãos com o objetivo de observar o ambiente mais próximo", explicou.
O chefe do Estado-Maior Geral citou claramente a existência de um risco crescente durante o inverno:
"A noite, que constitui um período natural para este tipo de atividades, será muito longa nas próximas semanas. Daqui a pouco mais de um mês, começará o Natal. Um período em que a maioria dos polacos se deslocará, entre outros meios, utilizando transportes públicos. Esta janela temporal pode ser vista pelos nossos inimigos como o período mais propício para atacar a nossa segurança. Não podemos permitir que isso aconteça."
Mobilização total do Estado
As autoridades salientam que estas medidas são uma resposta à situação de instabilidade em matéria de segurança na Europa Central e Oriental. O terceiro nível de alerta para as infraestruturas ferroviárias, anunciado na véspera da conferência, foi um dos impulsos para o lançamento da operação.
"Esta ação, também relacionada com a introdução [terça-feira] do terceiro nível de ameaça no que diz respeito às linhas ferroviárias, visa reforçar a segurança comum. Quero afirmar com toda a responsabilidade que os polícias, os soldados, o Serviço de Proteção Ferroviária e todas as instituições do Estado irão cooperar nesta matéria", assegurou Marcin Kierwiński.
Segundo o governo, a situação atual exige a máxima coordenação, porque "funcionamos em condições que não podem ser claramente definidas nem como tempo de paz, nem como tempo de guerra".
Trabalho silencioso dos serviços secretos e resultados reais
O vice-primeiro-ministro Władysław Kosiniak-Kamysz lembrou que grande parte das operações conduzidas pelos serviços secretos permanece fora do alcance da opinião pública:
"Todos os dias, e todas as semanas, são realizadas operações para impedir ações hostis contra a Polónia. Agradecemos a todos os agentes dos serviços secretos, uniformizados e soldados envolvidos na defesa do país."
De acordo com os dados apresentados durante a conferência, mais de 70 pessoas são suspeitas ou foram acusadas de atividades de distração, incluindo mais de 50 com acusações formais.
Kosiniak-Kamysz salientou que tal uso das Forças Armadas é padrão em muitos países da UE:
"Nas capitais dos países europeus, é frequente ver soldados nas ruas. [...] A Polónia está preparada para isso."
Polónia exige explicações da Ucrânia
Durante uma conferência de imprensa, o ministro do Interior, Marcin Kierwiński, foi questionado sobre como uma pessoa condenada na Ucrânia conseguiu atravessar a fronteira polaca e cometer um ato de sabotagem.
"Exigiremos explicações da parte ucraniana sobre por que razão não foram emitidos os marcadores geralmente aceites que permitem identificar essas pessoas nos sistemas internacionais, no que diz respeito ao tráfego fronteiriço, por exemplo, a nota da Interpol, no caso de uma pessoa que foi considerada culpada pelo tribunal de Lviv", adiantou Kierwiński.
Também salientou que não havia qualquer informação sobre este homem nos sistemas da Guarda Fronteiriça. Acrescentou que as sugestões de alguns altos funcionários do Estado, de que o seu rosto era conhecido e deveria ter sido reconhecido pelas câmaras de vigilância, são totalmente infundadas.
O primeiro-ministro, Donald Tusk, informou que a Polónia e a Ucrânia irão cooperar estreitamente para combater os atos de sabotagem que foram revelados nos últimos dias, entre outros, na linha ferroviária Varsóvia-Lublin. Segundo o chefe do governo, durante uma conversa telefónica com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelenskyy, ambas as partes concordaram em criar um grupo especial polaco-ucraniano que se ocupará da análise de ameaças e da troca de informações.
Tusk salientou que as ações de sabotagem apresentam características das operações russas, com as quais ambos os países – como ele observou – se debatem regularmente. O primeiro-ministro também destacou que a Polónia espera o rápido envio de dados que possam ajudar a identificar pessoas que colaboram com os serviços russos.
Zelensky confirmou, nas redes sociais, que as conclusões de ambas as partes são consistentes e apontam para a existência de uma influência russa nos últimos incidentes. O presidente da Ucrânia garantiu a sua disponibilidade para cooperar a vários níveis e partilhar informações, a fim de prevenir eficazmente ameaças semelhantes no futuro.
Notificação mais rápida de ameaças: primeiros testes em breve
No final de novembro ou no início de dezembro, será lançada uma versão de teste da aplicação destinada à notificação de incidentes. Esta será disponibilizada a um grupo selecionado de utilizadores, que irão testar o seu funcionamento, informou Kukuła. A versão completa deverá ser disponibilizada em meados de dezembro.
O general Kukuła salientou que a aplicação tem como objetivo apoiar os cidadãos e as instituições responsáveis pela proteção de infraestruturas críticas.
Segundo explicou, esta ferramenta permitirá, entre outras coisas, determinar mais facilmente a localização exata do incidente, com a possibilidade de enviar dados de geolocalização e anexar fotografias.
"Os serviços, incluindo a polícia, relatam-nos que, muitas vezes, os cidadãos que denunciam este tipo de atividade têm várias dúvidas ou têm dificuldade em indicar a localização exata onde se encontram. Esta aplicação resolverá esses problemas. É claro que será possível usar esta aplicação para fotografar o objeto. Enviar dados de geolocalização de forma a que a polícia ou outras autoridades competentes possam decidir, muito rapidamente, onde e em que local o incidente ocorreu e se a natureza do incidente é realmente perigosa."
As autoridades salientam que não se trata de uma ação pontual, mas sim de um novo modelo de coordenação dos serviços em condições que, cada vez mais, escapam às definições tradicionais de paz ou guerra.
As Forças Armadas iniciarão as operações a partir de 21 de novembro. A operação será comandada pelo general Maciej Klisz.