Antigo presidente francês inicia hoje pena de cinco anos de prisão e pode levar três livros. O que vai ler na cela e por que são escolhas tão simbólicas?
O antigo presidente francês Nicolas Sarkozy começou na terça-feira a cumprir uma pena de cinco anos na prisão de La Santé, em Paris.
Sarkozy, que liderou o país entre 2007 e 2012, foi condenado no final de setembro por conspiração criminosa num plano para o já falecido ditador líbio Muamar Kadhafi financiar a sua campanha eleitoral. Torna-se o primeiro antigo líder francês a ser preso desde o marechal Philippe Pétain, colaboracionista nazi, após a Segunda Guerra Mundial.
"Um homem inocente está a ser encarcerado", disse a caminho de La Santé.
Ao abrigo da decisão, Sarkozy, de 70 anos, só poderá apresentar um pedido de libertação ao tribunal de recurso depois de estar recluso; os juízes terão depois até dois meses para o apreciar.
Entretanto, o ex-presidente terá de passar o tempo na sua cela de 11 metros quadrados, com uma placa elétrica para cozinhar, uma pequena secretária e duche e sanita. Terá acesso a televisão (mediante uma mensalidade de 14 euros), biblioteca e ginásio.
Sarkozy referiu planos para escrever um novo livro durante o tempo na prisão e levou consigo três livros — o máximo permitido aos reclusos.
Disse ao jornal francês Le Figaro que leva “O Conde de Monte Cristo”, de Alexandre Dumas (em dois volumes), e uma biografia de Jesus Cristo.
O primeiro, publicado em 1846, é altamente simbólico, já que o herói, Edmond Dantès, é injustamente preso durante 14 anos e prepara a vingança após escapar no final do primeiro volume.
Não se sabe se Sarkozy se identifica com Dantès, mas a escolha parece longe de ser casual, tendo em conta que o ex-presidente nunca deixou de proclamar a sua inocência. Além disso, o herói do livro é o mais famoso inocente injustamente condenado da literatura francesa.
Uma opção carregada de simbolismo.
Quanto ao segundo livro, “Jésus”, de Jean-Christian Petitfils — publicado em 2011 —, oferece um olhar bem documentado sobre a vida de Cristo. Petitfils recorre a fontes históricas e investigação para traçar um retrato afastado de narrativas estritamente religiosas.
Uma escolha que contrasta com o tema da vingança associado a Edmond Dantès...