Um estudo mostrou que 320 projetos climáticos analisados têm um rendimento potencial de cerca de 1 bilião de euros ao longo de uma década.
À medida que as inundações, os incêndios e as ondas de calor se tornam mais frequentes e destrutivas, novos estudos mostram que a adaptação climática não é apenas urgente. É também um dos investimentos mais inteligentes que os governos podem fazer.
De acordo com um novo relatório do World Resources Institute (WRI), cada euro gasto em adaptação climática produz cerca de 10 euros em benefícios ao longo de uma década.
Este valor resulta da análise de 320 projetos em 12 países, incluindo a modernização de infraestruturas, a melhoria dos sistemas de saúde e programas de gestão do risco de catástrofes. No seu conjunto, estes projetos representam mais de um bilião de euros de retorno previsto.
"Esta investigação revelou o verdadeiro valor da resiliência e este primeiro vislumbre é surpreendente", disse Sam Mugume Koojo, copresidente da Coligação de Ministros das Finanças para a Ação Climática.
Consequências climáticas já não são ameaças distantes
Os glaciares estão a desaparecer dos Alpes e as ondas de calor e inundações repentinas estão a custar vidas e a destruir meios de subsistência. Os cientistas alertam para que, mesmo que o aquecimento se inverta, muitos dos danos, como o degelo do Ártico, já não podem ser desfeitos durante a nossa vida.
À medida que as alterações climáticas se intensificam, a necessidade de proteger vidas, economias e ecossistemas já não é uma preocupação distante. Mas esta investigação sugere que a adaptação não é apenas uma necessidade, é também compensadora.
O WRI define os investimentos em adaptação como aqueles que visam reduzir ou gerir riscos climáticos físicos, como a agricultura inteligente em termos climáticos, a expansão dos serviços de saúde e a proteção contra inundações urbanas.
A investigação revelou que alguns sectores geram maiores ganhos do que outros.
Embora o WRI preveja um retorno médio de 27%, as iniciativas centradas na saúde, como a expansão dos serviços para fazer face à malária e ao stress térmico, podem gerar um retorno médio de 78%. Os investimentos em projetos de gestão de riscos, desde sistemas de alerta precoce à defesa contra inundações, também se destacam pelo elevado impacto e rentabilidade.
E não se limitaram a compensar em tempos de crise.
O relatório do WRI concluiu que mais de metade dos benefícios dos projetos de adaptação ocorrem mesmo que não se verificam choques climáticos. Por exemplo, os sistemas de irrigação podem apoiar a diversidade das culturas e os abrigos de evacuação podem funcionar como centros comunitários.
"Uma das nossas descobertas mais impressionantes é que os projetos de adaptação não estão apenas a dar frutos quando ocorrem catástrofes, geram valor todos os dias através de mais empregos, melhor saúde e economias locais mais fortes", afirma Carter Brandon, membro sénior do WRI.
"Trata-se de uma grande mudança de mentalidade: os decisores políticos não precisam de uma catástrofe para justificar a resiliência, é simplesmente um desenvolvimento inteligente", acrescentou.
Novas abordagens e nova urgência
A Europa tem feito progressos.
Breda, nos Países Baixos, tornou-se recentemente a primeira Cidade Parque Nacional da União Europeia, em reconhecimento do trabalho de recuperação de zonas húmidas, de tornar as suas ruas mais verdes e de adotar uma abordagem em que toda a sociedade está envolvida no desenvolvimento urbano ecológico.
Um total de 22 cidades da Europa, incluindo Copenhaga, Milão e Estocolmo, obtiveram a classificação A pela liderança climática da organização sem fins lucrativos CDP, em 2023.
Os especialistas continuam a afirmar que a Europa carece de uma estratégia clara e unificada de desenvolvimento ecológico. Alguns alertam para o facto de o investimento não estar a acompanhar o aumento dos riscos. Só em 2023, as catástrofes custaram ao continente mais de 77 mil milhões de euros, de acordo com o Banco Mundial. Se não forem tomadas medidas, o custo económico das alterações climáticas pode atingir 7% do PIB da União Europeia.
Mas países de todo o mundo estão a explorar métodos não convencionais para se prepararem para o futuro e melhorarem a vida no presente.
Nauru, uma nação insular no Pacífico, propôs uma política de "passaporte dourado", oferecendo a cidadania a investidores climáticos para ajudar a financiar infraestruturas críticas. Uma ideia controversa que sublinha a urgência que muitas nações enfrentam para colmatar as lacunas no financiamento da adaptação.
Pode a COP30 ser um ponto de viragem?
Enquanto os líderes mundiais se preparam para a COP30, o WRI e outros argumentam que a adaptação climática não deve continuar a ser tratada como um projeto secundário, mas sim como uma parte central das políticas.
"Estas provas dão aos líderes e aos intervenientes não estatais exatamente aquilo de que precisam para a COP30: um argumento económico claro para aumentar a adaptação", afirmou Dan Ioschpe, um defensor da COP30, a conferência mundial sobre o clima que vai decorrer em Belém, no Brasil, em novembro.
"Belém tem de se tornar um ponto de viragem [na] integração da resiliência nas prioridades nacionais e locais e na libertação de todo o potencial de liderança dos actores não estatais."