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Jane Goodall, célebre primatóloga e ativista, morreu aos 91 anos

Jane Goodall no zoo de Budapeste em 2008
Jane Goodall no zoo de Budapeste em 2008 Direitos de autor  Bela Szandelszky/AP2008
Direitos de autor Bela Szandelszky/AP2008
De Euronews com AP
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A morte da primatóloga foi anunciada pela organização que fundou.

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Jane Goodall, especialista em primatas e que se celebrizou pela investigação em chimpanzés, morreu aos 91 anos, informou o Jane Goodall Institute.

"O Jane Goodall Institute soube nesta manhã, quarta-feira, 1 de outubro de 2025, que a Dra. Jane Goodall, Mensageira da Paz da ONU e fundadora do Instituto Jane Goodall, faleceu devido a causas naturais. Estava na Califórnia como parte de sua digressão de conferências nos Estados Unidos. As descobertas da Dra. Goodall como etologista revolucionaram a ciência, e ela foi uma defensora incansável da proteção e restauração do nosso mundo natural", lê-se na publicação.

Há décadas, Goodall viveu entre chimpanzés na África e documentou os animais usando ferramentas e realizando outras atividades anteriormente consideradas exclusivas dos seres humanos, além de observar suas personalidades distintas.

As suas observações e subsequentes aparições em revistas e documentários na década de 1960 transformaram a forma como o mundo percebia não apenas os parentes biológicos mais próximos dos seres humanos, mas também a complexidade emocional e social de todos os animais.

“Lá fora, na natureza, sozinha, quando se está sozinha, pode-se tornar parte da natureza e a sua humanidade não atrapalha”, disse à Associated Press em 2021. “É quase como uma experiência extracorporal quando, de repente, ouve-se sons diferentes, sente-se cheiros diferentes e se faz parte dessa incrível tapeçaria da vida".

Nos seus últimos anos, Goodall dedicou décadas à educação e à defesa de causas humanitárias e à proteção do mundo natural. Com o seu sotque britânico, era conhecida por equilibrar as realidades sombrias da crise climática com uma mensagem sincera de esperança para o futuro.

A partir de sua base na cidade costeira de Bournemouth, no Reino Unido, viajava quase 300 dias por ano até bem depois dos 90 anos para falar em auditórios lotados em todo o mundo. Entre mensagens mais sérias, os seus discursos incluíam muitas vezes gritos como os de um chimpanzé ou lamentações por Tarzan ter escolhido a Jane errada.

Ao estudar chimpanzés na Tanzânia no início dos anos 60, Goodall ficou conhecida pela sua abordagem não convencional: não se limitava a observá-los à distância, mas mergulhava em todos os aspetos das suas vidas. Alimentava-os e dava-lhes nomes em vez de números, algo pelo qual recebeu críticas de alguns cientistas.

Jane Goodall beija uma fêmea chimpanzé num santuário em Nairobi, Quénia, em 1997.
Jane Goodall beija uma fêmea chimpanzé num santuário em Nairobi, Quénia, em 1997. JEAN-MARC BOUJU/AP1997

As suas descobertas foram divulgadas a milhões de pessoas quando surgiu pela primeira vez na capa da National Geographic em 1963.

"O que os chimpanzés me ensinaram ao longo dos anos é que eles são muito parecidos connosco. Eles esbateram a linha entre humanos e animais”, disse à Associated Press em 1997.

Goodall recebeu as mais altas honras civis de vários países, incluindo Grã-Bretanha, França, Japão e Tanzânia. Recebeu a Medalha Presidencial da Liberdade em 2025 do então presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e ganhou o prestigiado Prémio Templeton em 2021.

Goodall também foi nomeada Mensageira da Paz das Nações Unidas e publicou vários livros, incluindo a autobiografia "Reason for Hope".

O fascínio por animais

Nascida em Londres em 1934, Goodall disse que seu fascínio por animais começou quando aprendeu a gatinhar. Comprou o seu primeiro livro — “Tarzan of the Apes” [Tarzan, o Rei da Selva], de Edgar Rice Burroughs — aos 10 anos e logo decidiu o que queria fazer no futuro: viver com animais selvagens na África.

O plano permaneceu com ela durante um curso de secretariado aos 18 anos e dois empregos diferentes. E, em 1957, aceitou um convite para viajar para uma quinta no Quénia, propriedade dos pais de um amigo.

Foi lá que conheceu o famoso antropólogo e paleontólogo Louis Leakey, num museu de história natural em Nairobi, e ele lhe ofereceu um emprego como assistente.

Três anos depois, apesar de Goodall não ter diploma universitário, Leakey perguntou-lhe se estaria interessada em estudar chimpanzés no território que hoje é a Tanzânia. Disse à AP em 1997 que ele a escolheu "porque queria uma mente aberta".

Goodall recebeu dezenas de bolsas da National Geographic Society durante o seu período de pesquisa de campo, que começou em 1961.

Jane Goodall brinca com chimpazé fêmea de três anos num santuário perto de Nairobi, Quénia, em 1997.
Jane Goodall brinca com chimpazé fêmea de três anos num santuário perto de Nairobi, Quénia, em 1997. JEAN-MARC BOUJU/AP1997

Em 1966, doutorou-se em etologia, tornando-se uma das poucas pessoas admitidas na Universidade de Cambridge como candidata sem um diploma universitário.

O seu trabalho passou a ter um caráter mais global depois de ter assistido a um filme sobre experiências com animais de laboratório numa conferência em 1986.

"Eu sabia que precisava fazer algo", disse à AP em 1997. "Era hora de retribuir".

Quando a pandemia de covid-19 começou, interrompeu os eventos presenciais e passou a fazer podcasts da sua casa de infância em Inglaterra, com convidados como o senador norte-americano Cory Booker, a autora Margaret Atwood e a bióloga marinha Ayana Elizabeth Johnson.

Nos últimos anos, rejeitou as táticas mais agressivas dos ativistas climáticos e criticou as mensagens "pessimistas" por fazerem com que os jovens perdessem a esperança.

Na preparação para as eleições de 2024, foi uma das fudadores da "Vote for Nature", uma iniciativa que incentiva as pessoas a escolherem candidatos comprometidos com a proteção do mundo natural.

Também construiu uma forte presença nas redes sociais, publicando para milhões de seguidores sobre a necessidade de acabar com a pecuária industrial ou oferecendo dicas para evitar ficar paralisado pela crise climática.

Um dos seus conselhos era: “Concentre-se no presente e faça escolhas hoje cujo impacto se acumulará ao longo do tempo”.

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