Há 449 pessoas a viver em Træna, um pequeno arquipélago a quarenta quilómetros do continente norueguês. Esta remota comunidade ártica enfrenta uma crise que afeta toda a região: as pessoas estão a partir, o clima está a mudar e os modos de vida centenários estão a desaparecer.
Selvær, uma das ilhas de Træna, é lar de cerca de cinquenta pessoas e cem ovelhas.
O engenheiro holandês Thijs De Swart mudou-se para cá há alguns anos para se tornar agricultor. Antigamente, havia imensas ovelhas que pastavam a erva e evitavam que as ilhas fossem invadidas por ervas daninhas. Mas à medida que algumas pessoas se foram embora e outras se reformaram, os agricultores também desapareceram todos.
"As comunidades estão a desmoronar-se", explica De Swart. "As populações diminuíram muito rapidamente. É difícil viver aqui com crianças, é muito difícil encontrar um emprego aqui, temos de criar o nosso próprio emprego."
"Os tempos áureos da pesca já não voltam."
As alterações climáticas afetaram Træna de uma forma profunda. Os recursos pesqueiros que sustentaram a comunidade durante séculos desapareceram e a maioria dos barcos de pesca, que antes enchiam os cais, já não existe.
"Há outras indústrias a tentar preencher o vazio", afirma o presidente da comunidade de Træna, Trond Vegard Sletten. "Mas os tempos áureos da pesca, quando muitas pessoas viviam bem do mar, provavelmente já não voltam."
Na última década, Træna perdeu quase 10 % da população.
O clima imprevisível do Ártico, agravado pelas alterações climáticas, torna as conexões de transporte pouco fiáveis. Os barcos e os ferries são frequentemente cancelados, devido ao mau tempo ou a razões operacionais, o que deixa os residentes em acesso aos hospitais do continente e a outros serviços essenciais.
"Queremos poder ir à cidade grande quando precisamos de o fazer", diz Sletten. "É difícil para uma comunidade pequena sobreviver quando chegar à cidade é, por si só, um grande desafio."
Investigadores europeus trazem esperança
O projeto europeu EmpowerUS, financiado pela União Europeia, passou três anos a estudar os desafios locais e criou um conjunto de estratégias para ajudar os habitantes de Træna a combater este declínio.
"A centralização torna mais difícil viver nas áreas periféricas, sobretudo no Ártico", explica Maiken Bjørkan, do Instituto de Investigação de Nordland, que coordenou a investigação. "A comunidade precisa de mais pessoas [que se mudem] para a ilha, precisa de mais oportunidades de trabalho locais. E precisa de tornar a ilha mais atrativa para que os jovens venham e fiquem cá."
As recomendações focam-se em várias áreas-chave, principalmente na melhoria da infraestrutura dos transportes, na promoção do turismo sustentável e na preservação da identidade local.
A preocupação em Træna é que o facto de haver cada vez menos pessoas leve a que haja menos barcos, o que irá agravar ainda mais o problema.
A gestora de projetos Cecilie Helén Bratt explica: "Quando as pessoas desaparecem, é difícil para o município do condado manter todas as rotas existentes. É difícil, sim, mas é o que permite que as comunidades costeiras sobrevivam, portanto, estas rotas têm de manter-se em funcionamento. Se forem eliminadas, as pessoas não irão conseguir viver aqui."
Turismo: qualidade em vez de quantidade
Em vez de apostar no turismo de massa, Træna visa atrair visitantes que procurem conexões autênticas com a história e a cultura da região. Com a ajuda do projeto EmpowerUS, a comunidade encomendou novas obras de arte públicas e criou "trilhos do património", onde os visitantes podem encontrar e digitalizar códigos QR para aprender sobre a história e as lendas locais.
O artista norueguês Håvard Arnhoff trabalhou em conjunto com os residentes de Træna para criar uma escultura emblemática, composta por quatro ondas, que receberá os visitantes que chegam de barco.
A artista local Sonja Langskjær está a pintar murais de grande escala que revelam aspetos ocultos da vida na ilha, desde a indústria da pesca, outrora próspera, aos recifes de coral vibrantes que podemos encontrar sob as águas árticas. "Colocar algo numa parede em tamanho real permite às pessoas ver aquilo que não é possível ver a olho nu", diz ela. "Isso faz com que pensem nos tesouros que temos à nossa volta."
Encontrar outras formas de viver da terra e do mar
O ambiente ártico intocado ainda oferece oportunidades económicas. Anders Budde, residente de Træna, colhe algas selvagens ao longo das linhas costeiras, e depois seca e vende kombu para a preparação de caldos e algas trufadas como especiarias culinárias nos restaurantes do continente.
"Queremos desenvolvimento e turistas, claro", reflete Budde. "Mas também queremos preservar este sítio como um lugar para onde as pessoas querem vir, viver e ficar. O verdadeiro desafio é esse."
A criação de peixe é outra das soluções, embora as gaiolas de salmão em alto-mar preocupem alguns residentes devido à poluição que causam e à deterioração da paisagem costeira. Uma solução possível para estes problemas são as unidades de aquicultura no interior, que prometem benefícios económicos sem as preocupações ambientais.
A luta de Træna pela sobrevivência é partilhada por todo o Ártico, com estas comunidades remotas a sentirem a necessidade de se modernizarem rapidamente para evitar que as pessoas as abandonem, mas com a preocupação de preservar a cultura tradicional e as paisagens intocadas que atraem as pessoas.