Filippo Grandi substituiu o português António Guterres à frente do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados. Em entrevista à Euronews, o
Filippo Grandi substituiu o português António Guterres à frente do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados. Em entrevista à Euronews, o especialista em relações internacionais analisou a atual crise migratória que asfixia a Europa.
James Franey, Euronews – De que forma é que analisa a gestão desta crise pela Europa? Como classificaria?
Filippo Grandi, Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados – A lei humanitária internacional tem sido descaradamente violada na Síria, sem muito incentivo de qualquer um dos apoiantes das partes envolvidas para não o fazerem. Isso limitou o acesso à população que necessita de apoio e aumentou a dispersão de refugiados para países vizinhos onde se tem dado assistência inadequada. Esse foi seguramente um, para não dizer o único, fator que provocou mais falhas. Depois, as pessoas chegaram à Europa e isso causou problemas adicionais.
Euronews – A Europa fala muito sobre o fortalecimento das fronteiras externas. Considera que é o passo correto?
Filippo Grandi – Fortalecer no sentido de gerir melhor as pessoas que chegam é o que a Europa já devia ter feito há algum tempo. Considero que não é uma boa ideia aumentar os controlos das fronteiras internas. Isso fragmentará a resposta, desviará os fluxos em outras direções.
Euronews – Porque é que a Europa está tão dividida sobre a questão dos refugiados?
Filippo Grandi – A União Europeia expandiu-se consideravelmente num curto período de tempo. Naturalmente, alguns mecanismos precisam de ser refinados. Um é a solidariedade da União e cooperação na gestão dos migrantes e refugiados. A legislação é boa. As normas são boas. A questão é, frequentemente, a aplicação de tais normas, principalmente numa situação sem precedentes de chegadas em massa, como agora.
Euronews – O que diria às pessoas que argumentam que a Europa não pode receber este número de refugiados. Assiste-se a um crescimento do populismo em países como França ou Holanda.
Filippo Grandi – Penso que a Europa precisa de permanecer fiel, leal, aos princípios fundadores. Ouço muitas vezes dizer que a chegada de estrangeiros vai afetar os valores europeus. Acredito que a falta de solidariedade é que destrói os nossos valores. Se as pessoas que chegam cometem atos contra a lei, então a lei terá de ser aplicada contra essas pessoas como contra qualquer outra pessoa. Mas não se deve generalizar. Estas pessoas fogem do medo, do terror e da guerra. Por isso, os que são reconhecidos como refugiados – em linha com uma longa tradição de asilo e hospitalidade – têm de ser recebidos pela Europa, mas de forma adequada.