Houston, o porto seguro dos refugiados nos EUA

Houston, o porto seguro dos refugiados nos EUA
De  Euronews

Viver numa cidade multicultural não é garantia de tolerância, mas esta tem-no sido, apesar de se situar num país onde ecoam as propostas mais radicais para gerir a crise da imigração: os Estados…

Viver numa cidade multicultural não é garantia de tolerância, mas esta tem-no sido, apesar de se situar num país onde ecoam as propostas mais radicais para gerir a crise da imigração: os Estados Unidos.

Estamos na cidade americana que mais refugiados acolhe. A diversidade de Houston, no Texas, é bem conhecida. Facilmente se encontram pessoas das mais variadas proveniências. Algumas fugiram de cenários de conflito como o Afeganistão, o Iraque e a Síria, para beneficiar aqui de um programa de realojamento e começar uma nova vida.

Maher Jandari chegou há um ano com a mulher e os cinco filhos. Faz parte da comunidade de mais uma centena de sírios que se instalou em Houston. “Deixei a Síria por causa de todas as dificuldades que vivíamos no dia a dia. A situação era muito má. Andavam todos a matarem-se, mas não se percebia quem matava quem. Eu também me vi um dia encostado contra um muro porque me queriam matar”, conta-nos.

Nos últimos cinco anos, o Estado do Texas recebeu mais de 40 mil refugiados. Mas a política de acolhimento tem sofrido atribulações. Após os atentados de Paris em novembro, o governador estadual enviou uma carta ao presidente Obama afirmando que o Texas ia deixar de abrigar refugiados sírios. No entanto, um juiz federal anulou essa medida, recorrendo ao Refugee Act de 1980.

Mas Donald Trump levou a retórica anti-imigração até um outro patamar, tendo ficado célebre a frase: “Posso olhar nos olhos das crianças sírias e dizer-lhes que não podem vir.”

Outra declaração controversa do magnata foi a seguinte: “Nós estamos a financiar os programas de acolhimento de todos aqueles sírios que eles querem receber. Não fazemos a mínima ideia de quem eles são, de onde é que vêm exatamente. São jovens, são fortes, há muitos homens. Se olharmos bem para esta questão da migração percebemos que isto afinal pode ser um cavalo de Tróia.”

Ali Al Sudani é um refugiado iraquiano. Chegou a Houston em 2009. Hoje em dia, é cidadão americano e tornou-se no diretor do Serviço de Refugiados local. A visão de Trump, considera, passa completamente ao lado da realidade.

“Acho que esse tipo de argumentação é absurdo. Se um grupo terrorista quiser infiltrar-se no sistema, provavelmente não vai escolher esse longo caminho para entrar nos Estados Unidos ou em qualquer outro país. As pessoas podem candidatar-se, mas nada garante que sejam admitidas. Os refugiados são submetidos a controlos muito rigorosos, mais do que qualquer outra pessoa que queira entrar nos Estados Unidos”, afirma.

O programa de acolhimento prevê aulas de Inglês, alojamento para os refugiados, escolas para as crianças e apoio na procura de emprego.

O dono do Afghan Village, em Houston, chegou do Afeganistão há 17 anos. Antes de abrir este restaurante, Omer Yousafzai tirou o curso de Direito e trabalhou no Serviço de Refugiados. Omer diz que nunca se sentiu discriminado e que essa é uma falsa questão.

“Sou muçulmano. Adoro este país. Já trabalhei para o governo e posso voltar a fazê-lo sempre que for preciso. Adoraria fazê-lo mesmo. Mas, começar a afastar os muçulmanos porque são uma ameaça? Se eu fosse uma ameaça, a senhora não estaria aqui a falar comigo. Eu alimento pessoas, eu forneço um serviço. Se quisesse, podia fazer mal às pessoas. Há centenas de milhares de muçulmanos nesta cidade. Só a comunidade paquistanesa tem mais de cem mil. Se fossem más pessoas, havia problemas a toda a hora”, considera.

Para Maher, Houston continua a ser um porto seguro, apesar da controvérsia provocada pela tempestade política em torno da imigração. Ele prefere acreditar que a mensagem de que nenhum refugiado abandona o seu país por opção vai acabar por vingar.

Nas suas palavras, “há terroristas de todas as nacionalidades. Há uns que são a favor de um regime, outros que são contra esse regime. O mundo inteiro participou na destruição da Síria. Atualmente, basta haver um incidente nos Estados Unidos, uma explosão na Alemanha, para virem dizer que há um sírio por detrás. Mas é óbvio que não há. Os sírios tornaram-se nos bodes expiatórios do mundo.”

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