Organizam-se através de redes sociais para vigiar o bairro, evitar assaltos e até apanhar os infratores
Da vigilância dos bairros à prisão de criminosos apanhados em flagrante. Por toda a Europa, os cidadãos comuns estão a fazer o trabalho da polícia. Em alguns países são simplesmente tolerados, enquanto em outros são ativamente encorajados.
A prática começou nos Estados Unidos e espalhou-se pela Europa, especialmente nos países do norte. Na Escandinávia, Holanda, Alemanha e Inglaterra, estes grupos de vigilantes reúnem mais de três milhões de pessoas.
Mas quais são os riscos ? Como é que estes cidadãos põem em risco a presunção de inocência? A euronews foi à Holanda, onde cerca de setecentos grupos de vigilantes cruzam o país , e ao Reino Unido, conhecer vigilantes da internet que rastreiam pedófilos em redes sociais.
Reino Unido
Em frente ao computador, Patrick e Cleveland navegam por plataformas de mensagens para jovens entre os 10 e 19 anos. Pertencem à associação Keeping Kids Safe. Como milhares de outros cidadãos britânicos, assumem-se como caçadores de pedófilos. A primeira abordagem é feita na internet. Criam perfis falsos, fazem passar-se por raparigas de 12 anos. Do contacto virtual passam para uma perseguição na vida real.
Os dois homens descobrem a morada dos suspeitos e ajudam a prendê-los. O Reino Unido autoriza todos os cidadãos a prender um criminoso em caso de flagrante delito ou se a intenção de cometer um crime lhes parecer óbvia. Patrick entregou mais de 600 alegados predadores sexuais às autoridades.
A polícia acredita que esta prática ajuda a colocar criminosos perigosos fora de ação, mas diz que está longe de ser a solução ideal.
Holanda
Em Haia, cidadãos comuns patrulham o bairrro, nos tempos livres, duas vezes por semana. A iniciativa é apoiada pelas autoridades locais. Através de uma aplicação para o telefone, especialmente criada para estes grupos vigilantes, conseguem alertar as autoridades em tempo real sobre todo o tipo de danos ou comportamentos anti-sociais. Por vezes, durante as patrulhas, intervêm antes da polícia.
Jan Overduin faz parte de um destes grupos.
“Às vezes há pessoas que ficam aqui para fumar ou usar drogas. Isto é um parque infantil e por isso não os queremos aqui. Pedimos gentilmente para saírem, se não quiserem, chamamos a polícia”.
Nos Países Baixos, os números da delinquência têm vindo a diminuir, de forma constante, desde 2012. Ao mesmo tempo, aumentam os grupos de prevenção e autodefesa no país.
A socióloga Shanna Mehlbaum estuda o fenómeno.
“Seria muito mais lógico encontrar estes grupos em bairros menos seguros mas, normalmente, isso não acontece. As pessoas sentem a necessidade de se sentirem mais seguras quando vivem em bairros muito seguros. A conclusão da nossa pesquisa é que estes grupos não têm influência real sobre a taxa de criminalidade nos seus bairros”.
A Holanda tem encorajado a criação destes movimentos de cidadãos, sem, no entanto, os enquadrar. Um laxismo que é denunciado pelos sindicatos da polícia.
O Risco da Discriminação
O medo do desconhecido é a espinha dorsal de muitos grupos de vigilantes na Europa. E a política, às vezes, está muito perto. Na Alemanha, o Partido Nacional Democrático criou uma polémica depois de divulgar um vídeo onde defende “milícias que protegem a cidade de Amberg contra a violência dos migrantes”.
Para Marc Schuilenburg, criminologista, alguns destes grupos podem promover a discriminação.
"Podem levar à discriminação, estigmatização e perfil étnico. Dito de uma maneira geral, homens negros, homens com barba longa, mulheres com burcas, etc. Todas as coisas e pessoas que se desviam da norma do bairro tornam-se suspeitas”.