Para a oposição na Turquia, a União Europeia está a ceder de uma forma incompreensível ao governo do presidente Erdogan, já que no passado impunha uma forte concionalidade à sua ajuda.
Se a Turquia trocar de vez a postura ofensiva por uma atitude construtiva, a União Europeia vai renovar compromissos de cooperação. Tal passará por continuar a financiar o acordo sobre migração e modernizar o acordo de união aduaneira entre as duas partes.
Esta proposta está detalhada num relatório de 16 páginas redigido pelo serviço diplomático da Comissão Europeia, que confirma existir um desanuviamento bilateral desde o início do ano.
Mas face ao aumento da repressão interna, a oposição na Turquia alerta que o presidente Recep Tayyip Erdogan prossegue a deriva autoritária, contrária aos valores da União Europeia.
"Sob uma pressão tremenda, dezenas de milhões de pessoas neste país estão a lutar por um futuro democrático. Mas agora vemos que líderes europeus decidiram, não sabemos bem porque razão, dar ao Presidente Erdogan algum ar fresco, digamos assim. Como é que esperam que isso seja interpretado pelas pessoas na Turquia?", disse Hişyar Özsoy, deputado do Partido Democrático do Povo (PDP), segundo maior na oposião.
"Eu pertenço ao PDP. Mais de cinco mil colegas meus estão nas prisões. Porque é que fazemos esta luta, qual é o benefício? Estamos a lutar pelo futuro democrático da Turquia! Nós pensamos que a Turquia e a União Europeia devem ter um bom relacionamento, mas não com uma Turquia que é governada quase sob uma ditadura", acrescentou, em entrevista à euronews.
Outra medida recente do governo turco que vai contra os valores defendidos pela União Europeia foi a decisão de abandonar a Convenção de Istambul, sobre combate à violência contra as mulheres.
Menos condições que antes, mas ameaça de sanções
Para a oposição, a União Europeia está a ceder de uma forma incompreensível, já que no passado impunha uma forte concionalidade à sua ajuda.
“Não conseguimos de todo compreender, e para nós é crucial, porque é que os europeus estão a remover as condições de respeito pelos padrões democráticos que antes exigiam contra a oferta de uma melhor união aduaneira”, afirmou Hişyar Özsoy.
O relatório europeu prevê, contudo, medidas de retaliação caso a Turquia regresse às "ações unilaterais ou provocações". Entre elas estão sanções contra pessoas, entidades e setores economicos.
Mas o analista em geopolítica, Marc Pierini, do centro de estudos Carnegie Eurpe, diz que há vários Estados-membros que resistem a ir por essa via: "Penso que as sanções estão agora em segundo plano, essencialmente por causa da pressão feita pela Alemanha, Espanha, Itália, Bulgária, Hungria".
"São países que têm muito interesse em manter um bom relacionamento com a Turquia. Do ponto de vita global, a União Europeia prefere evitar sempre o cenário de conflito. Por isso, vão sempre apostar primeiro na solução pacífica. O problema é que tem de haver um efetivo progresso nas relações e há poucas áreas onde se possa fazê-lo", acrescentou Marc Pierini.
O relatório será debatido pelos chefes de Estado e de Governo da UE numa cimeira por videoconferência no final desta semana.