Indústria do vinho "salva" em plano europeu de luta contra cancro

Indústria do vinho "salva" em plano europeu de luta contra cancro
Direitos de autor Jessica Christian/San Francisco Chronicle
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Parlamento Europeu recuou e aceitou o consumo moderado de bebidas alcoólicas. Possibilidade dos rótulos das garrafas de vinho conterem alertas para o risco de cancro, como os maços de tabaco, não avança

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Os eurodeputados aprovaram, esta quarta-feira, um relatório com recomendações para combater fatores de risco associados ao cancro - elaborado pela Comissão Especial para a Luta Contra o Cancro do Parlamento Europeu (BECA) - que contempla a não criminalização do consumo de bebidas alcoólicas, conforme pedido por países do sul da Europa.

A notícia foi bem acolhida entre os Estados-membros que dependem fortemente da indústria do vinho.

O "Plano Europeu contra o Cancro", elaborado pela BECA, prepara o terreno para uma série de propostas legislativas destinadas a reforçar a luta da União Europeia contra o cancro.

De acordo com o plano inicial, todo o consumo de álcool aumentava o risco de cancro, mas sem se distinguir entre alto e baixo teor alcoólico, em quantidade e consumo, deixando a indústria do vinho, que conseguiu diluir as medidas à última da hora, à beira de um ataque de nervos.

A tensão foi acalmada com a introdução da palavra "nocivo" no texto, passando a considerar-se que há risco de se desenvolver cancro em caso de consumo "nocivo" de bebidas alcoólicas e não em condições consideradas moderadas.

Com este recuo, não avançam medidas como a possibilidade de os rótulos das garrafas de vinho e de cerveja, por exemplo, virem a alertar para os riscos do cancro, tal como já acontece com os maços de tabaco.

Prevenção requer melhor rotulagem?

O plano inclui programas de prevenção que devem “fornecer aos cidadãos as ferramentas e as informações para levar uma vida saudável”, defende a comissária europeia com a pasta da Saúde, Stella Kyriakides.

Para alguns não há relação direta entre o consumo de vinho, de forma moderada, e o desenvolvimento de cancro. No entanto, a ideia da rotulagem conta com o apoio dos ecologistas europeus, incluindo a eurodeputada alemã Manuela Ripa, do grupo parlamentar dos Verdes/Aliança Livre Europeia.

“Precisamos de uma rotulagem melhor e os consumidores precisam de reconhecer rapidamente se o produto é saudável”, disse Ripa.

“Temos fatos científicos que comprovam que todas as formas de consumo de álcool, mesmo com moderação, podem levar a formas de cancro. Por que não proteger os nossos consumidores? Isto não vai impedir ninguém de beber um copo de vinho, mas vai dar uma informação clara aos nossos consumidores”, acrescentou a eurodeputada, que não quer colocar o lucro acima da saúde.

Restrições "inaceitáveis"

Para a eurodeputada francesa Joëlle Mélin, do grupo parlamentar de extrema-direita Identidade e Democracia, o texto abre “um caminho legislativo para restrições supranacionais inaceitáveis”.

“Em relação ao álcool ou ao tabaco, estamos a aproximar-nos de restrições, mesmo quando há apenas comportamentos festivos, e a indústria vinícola europeia está em perigo”, alertou.

Já Dolors Montserrat, eurodeputada espanhola do grupo do Partido Popular Europeu, escreveu na rede social Twitter: "rejeitamos o consumo excessivo de álcool, prejudicial à saúde, e defendemos o consumo moderado de vinho e nossa a famosa dieta mediterrânea".

Um plano de quatro mil milhões de euros

A eurodeputada francesa e oncologista Véronique Trillet-Lenoir, do grupo parlamentar Renovar a Europa, disse que é preciso criar um registo das desigualdades do cancro.

“O cancro afeta a todos. No entanto, somos totalmente desiguais em relação à doença. As diferenças nas taxas de sobrevivência podem variar até 25% de um país para outro na União Europeia e isso é inaceitável. É nosso dever começar a reduzir essas desigualdades apoiados na criação de um registo de desigualdades”, disse Trillet-Lenoir.

Esta prioridade tem orientado o trabalho da Comissão Parlamentar Especial para a Luta Contra o Cancro (BECA), que quer responder ao flagelo do desafio que provoca a morte de milhões de pessoas todos os anos.

O Plano Europeu de Luta contra o Cancro receberá um financiamento de 4 mil milhões de euros, incluindo 1,25 mil milhões de euros do futuro programa "EU4Health".

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O plano foi defendido pela comissária europeia com a pasta da Saúde, Stella Kyriakides: “É a primeira vez que a Europa tem um plano - quatro mil milhões de euros - para realizar ações e um plano que considera o fenómeno como um todo”.

A comissária acrescentou que o relatório chega num momento crucial porque “a epidemia de Covid-19 teve um impacto muito específico no desenvolvimento do cancro, atrasando exames e diagnósticos precoces, adiando cirurgias e tratamentos”.

No seu “Plano europeu para vencer o cancro”, divulgado no início de fevereiro, a Comissão Europeia estabeleceu como meta alcançar uma redução de “pelo menos 10% do consumo nocivo de álcool até 2025”.

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