Acionado mecanismo do Estado de direito contra Hungria

Bruxelas e Budapeste mantêm braço-de-ferro intenso
Bruxelas e Budapeste mantêm braço-de-ferro intenso   -  Direitos de autor  Jean-Francois Badias/The Associated Press
De  Christopher Pitchers

Processo coloca em risco fundos europeus destinados ao país

Há dois dias atrás, no domingo, Viktor Orbán cantava vitória retumbante nas eleições legislativas húngaras. Agora, o primeiro-ministro reeleito enfrenta a pressão de Bruxelas.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, confirmou, esta terça-feira no Parlamento Europeu, a decisão de desencadear o chamado mecanismo de condicionalidade do Estado de direito, até agora nunca usado, contra a Hungria.

Para a Hungria, na prática, significa mais turbulência no acesso a verbas comunitárias.

"Enviámos uma carta à Hungria com perguntas. Eles responderam e avaliámos cuidadosamente o resultado. A nossa conclusão é que temos de tomar o próximo passo. Por isso, o comissário Johannes Hahn (com a pasta do Orçamento) falou com as autoridades húngaras e informou-as que agora enviaremos a carta com a notificação formal para dar início ao mecanismo de condicionalidade [do Estado de direito]. Como sabem, isso aciona um procedimento que tem um cronograma específico. Então está [agora] em andamento um processo", sublinhou a presidente da Comissão Europeia.

Budapeste e Bruxelas mantêm há anos um braço-de-ferro por causa da erosão de padrões democráticos na Hungria.

Com este passo, o executivo húngaro poderá ver-se privado do acesso à bazuca europeia de fundos de recuperação pós-pandemia de Covid-19.

O instrumento condiciona o acesso ao financiamento do orçamento comunitário ao respeito dos Estados-membros pelo Estado de direito. Os países que abdicarem dos valores centrais da União Europeia, como democracia, igualdade, respeito pelos direitos humanos, não-discriminação e justiça, podem ver os fundos europeus serem reduzidos ou suspensos.

O fundo permite congelar verbas destinadas a Estados que violam os princípios base do bloco, incluindo casos de corrupção e de falta de independência do poder judicial.

Para alguns eurodeputados, a resposta do executivo comunitário peca por tardia.

"Uma das razões pelas quais Viktor Orbán é tão forte deve-se ao facto de em Bruxelas não se terem aprendido lições no passado e de se ter apoiado o primeiro-ministro. Agora temos de acelerar verdadeiramente em questões como o mecanismo do Estado de direito, mas também quando se trata de outras sanções que podemos ativar contra a Hungria e Viktor Orbán", denunciou Rasmus Andresen, eurodeputado alemão do grupo dos Verdes/Aliança Livre Europeia.

A Polónia também é acusada de violar valores europeus, mas a Comissão Europeia ainda não iniciou um processo formal.

Para a eurodeputada holandesa Sophie in 't Veld, do grupo Renovar a Europa, Varsóvia também tem de ser incluída: "preocupa-nos que a Comissão Europeia esteja a negociar com o governo polaco, quando o Estado de direito não deve ser negociável, a independência do poder judicial não é negociável."

A ministra húngara da justiça, Judit Varga, apressou-se a responder ao anúncio de Ursula von der Leyen.

Recorreu às redes sociais para dizer que é tempo de a Comissão Europeia aceitar a decisão dos eleitores húngaros em vez de os castigar só porque a maioria não votou no sentido desejado por Bruxelas.

Notícias relacionadas