A edição deste ano do Festival da Canção foi uma das mais politizadas de sempre por causa da invasão russa da Ucrânia
O Festival Eurovisão da Canção é muitas vezes alvo de críticas de participantes descontentes que acusam o evento de ser demasiado político. Este ano, mais do que nunca, a política esteve presente.
A expulsão da Rússia da competição em fevereiro passado na sequência da invasão da Ucrânia teve um impacto significativo no concurso.
Não fui a Turim, mas acompanhei o evento de Roma. Lembro-me de ouvir amigos e colegas dizerem que a Ucrânia ia ganhar. Este, de fato, foi o consenso geral entre os meios de comunicação italianos.
Mas, embora a política tenha parecido ter sempre um papel na distribuição dos pontos, há provas suficientes de que as performances extravagantes de alguns artistas são o que o público realmente procura.
A competição deste ano teve o maior número de interações alguma vez registado nas redes sociais. O Instagram e o Tik Tok foram as plataformas mais usadas, o que deixa entender que a maioria dos fãs deste ano eram de gerações mais jovens.
Em Itália, o evento tornou-se algo marcante. Foram organizadas sessões especiais para assistir ao festival em espaços públicos e bares, para não mencionar sessões privadas nas casas das pessoas.
Tal entusiasmo decorre da vitória de Maneskin no ano passado e do fato de, pela primeira vez em muitos anos, a vitória ter permitido a uma banda de rock italiana obter sucesso global. Os números confirmam a tendência. Itália teve os melhores resultados, com a maior audiência para qualquer espetáculo da Eurovisão, desde o último realizado em 1991.
Ao que tudo indica, os espetadores não foram particularmente distraídos pelo “ruído político” de bastidores, incluindo ameaças de hackers russos para sabotar a vitória da Ucrânia.
A Ucrânia venceu, principalmente, graças a uma grande onda de apoio por telefone do público europeu. E independentemente da origem dos votos, e se isso teve um significado geopolítico, foram as pessoas que escolheram e as pessoas que quiseram que a Ucrânia vencesse.
Apesar de o presidente ucraniano, Volodymyr, Zelenskyy, desejar acolher a próxima edição do Festiva numa “Mariupol livre e reconstruída”, é muito improvável que a Ucrânia seja capaz de receber a competição em maio do ano que vem.
Mas a conclusão mais significativa do resultado é que a Europa e os europeus mostraram unidade ao reafirmar a sua identidade cultural através da música. Nesse sentido, a Eurovisão também venceu o desafio mais difícil – longe das arenas políticas, mostrou-nos o verdadeiro sentimento dos europeus e como se posicionam.