União Europeia antecipa vagas migratórias provocadas pela crise alimentar

A crise alimentar e o aumento dos preços da energia podem provocar instabilidade em alguns países e precipitar novas vagas migratórias para o bloco dos 27, alertou a Comissão Europeia.
Ylva Johansson, a comissária europeia com a pasta dos Assuntos Internos, disse esta segunda-feira, após uma reunião informal de ministros em Praga, que as tensões provocadas pela crise alimentar e o forte aumento nos preços da energia "podem levar a outras situações de insegurança como países instáveis, grupos terroristas mais fortes e grupos criminosos organizados reforçados."
"Isso significa que as pessoas se podem encontrar numa situação em que não se sentem seguras para permanecer no seu país e procurar mudar. Claro que isso é um grande desafio", acrescentou.
Por causa da guerra da Rússia na Ucrânia, que começou a 24 de fevereiro, milhões de toneladas de cereais normalmente exportados para todo o mundo estão agora presos em silos ucranianos.
Os cereais da Ucrânia alimentavam cerca de 400 milhões das pessoas mais vulneráveis do mundo antes da guerra e a falta de exportações fez com que os preços subissem nos mercados globais. O preço do trigo está agora cerca de 30% mais alto do que em igual período do ano passado e cerca de 14% mais alto do que no início do ano.
A Organização das Nações Unidas alertou no mês passado que cerca de 1,6 mil milhões de pessoas em 94 países estão agora expostas a crises alimentares, de energia ou finanças que foram severamente exacerbadas pela guerra na Ucrânia. A ONU acrescentou que cerca de 1,2 mil milhões de pessoas vivem em países que estão numa situação de “tempestade perfeita”, severamente vulneráveis às três crises.
Além disso, referiu a organização, o número de pessoas com insegurança alimentar grave, que dobrou nos últimos dois anos, de 135 milhões para 276 milhões devido à pandemia, pode aumentar para 323 milhões.
A crise do custo de vida, ressalvou a ONU, pode desencadear um "ciclo de agitação social levando à instabilidade política".
Johansson garantiu que atualmente é impossível prever quantas pessoas podem tentar chegar à União Europeia em resposta à crise, mas que o trabalho de preparação está em andamento.
"Estamos a trabalhar em planos de contingência para o caso de muito mais pessoas virem para a União Europeia, para perceber se estamos bem preparados para isso. Em segundo lugar, é claro, tentamos evitar que isso aconteça e é por isso que é tão importante estar em contacto com os países parceiros", lembrou.
Bruxelas vai, por exemplo, assinar uma parceria operacional anticontrabando com o Níger para apoiar o país e ajudar a estabilizá-lo, referiu a comissária, sublinhando que "não devemos esperar até que tenhamos uma crise na nossa fronteira. Também precisamos de chegar (aos países terceiros) antecipadamente."