Organizações de defesa da imigração dizem-se “chocadas” com plano migratório apresentado pela CDU e aprovado no Parlamento, que consideram ser o “desmoronamento da barreira” contra a extrema-direita.
Centenas de pessoas participaram numa manifestação em frente à sede do partido de centro-direita CDU, em Berlim, em protesto contra a aprovação de uma política de migração mais rigorosa, que procurará fazer recuar muitos mais migrantes nas fronteiras da Alemanha.
A nova política foi apresentada por Friedrich Merz, líder da CDU, e foi criticada pelo facto de só ter sido aprovada com o apoio do partido de extrema-direita, Alternativa para a Alemanha (AfD).
Merz colocou a migração no centro das atenções na sequência de um ataque com faca, que aconteceu há uma semana, realizado por um requerente de asilo afegão rejeitado, que matou um homem e um menino de dois anos.
O líder da oposição apresentou duas moções não vinculativas no Parlamento, apelando a medidas de segurança reforçadas e ao encerramento das fronteiras terrestres alemãs à migração irregular.
A moção a favor de um maior número de rejeições de requerentes de asilo nas fronteiras alemãs foi aprovada por 348 votos a favor, 345 contra e 10 abstenções, depois de um conjunto de partidos da oposição, incluindo a AfD, ter afirmado que a apoiaria.
Os deputados de extrema-direita aplaudiram o resultado, enquanto o líder parlamentar do partido de Scholz, Rolf Mützenich, disse que o bloco da CDU de Merz tinha "saído do centro político".
Uma segunda moção da CDU-CSU com propostas de reforma abrangentes para uma política de migração restritiva e poderes adicionais para as autoridades de segurança foi rejeitada pela maioria dos votos.
O apoio da extrema-direita às propostas de Merz fez aumentar as tensões políticas na Alemanha, uma vez que a CDU já tinha afirmado que tencionava manter uma "barreira de proteção" em relação à cooperação com o AfD.
"Estamos chocados, porque o facto de a CDU ter, deliberadamente, feito passar uma moção no Bundestag com os votos da AfD é uma quebra de tabu. Isto é o início do desmoronamento da barreira que supostamente nos protege de viver novamente com o fascismo e o autoritarismo na Alemanha", diz Wiebke Judith, porta-voz para a política jurídica da ProAsyl - a maior organização alemã de defesa da imigração.
Em discurso no Parlamento alemão antes da votação, Merz defendeu a sua política e o apoio que obteve do AfD, dizendo "Uma decisão correta não se torna errada porque as pessoas erradas concordam. Continua a ser correta. Continua a ser correta".
A votação ocorre apenas algumas semanas antes de a Alemanha ir às urnas para eleger um novo parlamento, após o colapso da coligação governamental de três partidos de Scholz.
As sondagens mostram a União de centro-direita de Merz na liderança, com cerca de 30% de apoio, enquanto a AfD está em segundo lugar, com cerca de 20%. Os sociais-democratas de centro-esquerda de Scholz e os seus restantes parceiros de coligação, os Verdes, estão mais atrás nas intenções de voto.