Perante o afastamento americano da Europa, o presidente francês Emmanuel Macron quer abrir o debate sobre o alargamento do guarda-chuva nuclear francês aos seus parceiros da UE.
O presidente francês abriu um debate altamente estratégico. Emmanuel Macron quer explorar com os seus parceiros europeus a possibilidade de alargar a proteção da dissuasão nuclear francesa à União Europeia (UE).
Na Europa, dois países possuem armas nucleares: a França e o Reino Unido. Pensa-se que Paris tem 290 ogivas e Londres 225. Mas as duas capitais não têm a mesma legitimidade política - o Reino Unido já não faz parte da UE - nem a mesma margem de manobra estratégica.
"A França tem um arsenal considerado autónomo", explica Christophe Wasinski, professor do Centro de Investigação e de Estudos de Política Internacional da Universidade Livre de Bruxelas (ULB). Por outras palavras, as autoridades francesas são estritamente soberanas no que diz respeito à dissuasão nuclear.
A situação é diferente para o Reino Unido porque "a Grã-Bretanha desenvolveu o seu arsenal em colaboração com os Estados Unidos e precisa das infraestruturas e da assistência dos Estados Unidos para poder operar o seu arsenal nuclear", diz Wasinski. "E vários especialistas consideram que, se os Estados Unidos se opusessem à sua utilização, a Grã-Bretanha não poderia facilmente utilizar as suas ogivas". A soberania britânica não é, portanto, total.
Os métodos de utilização também diferem entre os dois países. As armas britânicas podem ser lançadas a partir de submarinos, uma opção disponível para a França. Mas Paris também pode utilizar caças-bombardeiros para lançar os seus engenhos atómicos.
Este debate sobre a extensão do "guarda-chuva" francês ou britânico é uma resposta ao apelo daquele que deverá ser o próximo chanceler alemão. Perante o desinteresse americano na Europa, Friedrich Merz quer dialogar com Paris e Londres, o que representa uma reviravolta por parte de Berlim. A Alemanha sempre contou com o apoio dos Estados Unidos para garantir a sua segurança.
Uma revisão estratégica
No entanto, o alargamento da capacidade de dissuasão nuclear da França implicaria uma profunda reformulação política e doutrinal. Paris planeia utilizar armas nucleares se os seus "interesses vitais" forem ameaçados. Alargar a capacidade de dissuasão nuclear da França significaria redefinir o seu âmbito. O presidente francês já deu a entender no passado que estes interesses vitais poderiam ter uma dimensão europeia.
Mas alargar a capacidade de dissuasão nuclear da França também aumenta a probabilidade de a França ser visada.
"Se alargarmos o guarda-chuva nuclear, isso significa que estamos preparados para utilizar armas nucleares para proteger potencialmente um Estado europeu ou um Estado da NATO. Mas também significa que, em contrapartida, estamos a expor-nos ao risco de retaliação por parte de um Estado", sublinha Christophe Wasinski.
Por exemplo, se a França utilizasse a arma suprema em resposta a um ataque a um Estado membro da UE, o país atacante poderia decidir atingir o território francês.
"Assim, de certa forma, a França também ficaria refém daquilo que propusesse", alerta o professor da ULB.
Um arsenal suficiente?
Este guarda-chuva nuclear levanta também a questão das capacidades. Se a França dispõe de meios suficientes para atuar como dissuasor, será esse arsenal suficiente para defender a UE?
"As armas nucleares continuam a ser armas extremamente poderosas que os Estados têm atualmente à sua disposição. São capazes de causar milhares, dezenas de milhares de mortes quando disparadas e de destruir áreas muito vastas. O facto de termos um grande ou um número muito grande de armas nucleares não altera necessariamente a situação", afirma Christophe Wasinski.
"O seu poder de destruição já é tal que a posse de algumas centenas de armas nucleares já se revela um fator de dissuasão extremamente eficaz".
Outros, pelo contrário, consideram que o equilíbrio de forças continua a ser desfavorável face às 4380 ogivas da Rússia. Mas aumentar o arsenal da Europa significaria aumentar o número de mísseis e de sistemas de lançamento. A isto temos de acrescentar infraestruturas adicionais nos países parceiros. Esta proteção teria um custo elevado.
Este "guarda-chuva" nuclear francês seria uma forma de concretizar a autonomia estratégica europeia e a solidariedade entre os 27. No entanto, seria também necessário determinar quem deveria tomar a decisão de utilizar armas nucleares. Sobre este ponto, Emmanuel Macron garante que a decisão cabe ao presidente da República.