A Comissária Hadja Lahbib e 70 eurodeputados deslocaram-se à Hungria para protestar contra a proibição da marcha do Orgulho, mas o líder da oposição, Péter Magyar, não esteve presente.
Cerca de 70 eurodeputados das alas liberal, verde e de esquerda do Parlamento Europeu juntaram-se à comissária europeia para a igualdade em Budapeste, no sábado à tarde, enquanto centenas de milhares de manifestantes marchavam pela capital húngara, agitando bandeiras do arco-íris e da UE.
Os eurodeputados eram maioritariamente do grupo liberal Renew Europe, dos Socialistas e Democratas, da Esquerda e dos Verdes, aos quais se juntou uma eurodeputada irlandesa do Partido Popular Europeu (PPE), Maria Walsh.
Dezenas de milhares de pessoas juntaram-se à marcha, com os organizadores a afirmarem que chegaram a estar 200.000 nas ruas.
"A minha participação aqui vai muito para além da política. Para mim e para os meus valores, o Pride é incrivelmente importante. Gostaria que estivessem cá mais pessoas, mas juntei-me a mais de 70 deputados de todos os partidos políticos", disse Walsh à Euronews. "Não se trata de colocar partidos uns contra os outros, mas de seres humanos que se manifestam por outros", acrescentou, quando questionada sobre o facto de não haver uma delegação do PPE com ela.
"Teria preferido que mais pessoas do PPE se tivessem juntado ao evento. Acho que é uma desilusão, porque esta é uma mobilização importante", disse a presidente do Renew Europe, Valérie Hayer, à Euronews. "Desde o início da legislatura que temos notado que o PPE está a oscilar entre as forças democráticas e a extrema-direita. É uma pena que o PPE não perceba quem são os seus adversários", disse a eurodeputada socialista francesa Emma Rafowicz.
As eurodeputadas portuguesas Catarina Martins (BE) e Ana Catarina Mendes (PS) estiveram presentes.
O líder da oposição húngara e eurodeputado Péter Magyar esteve ausente. O seu partido de centro-direita, o Tisza, está atualmente à frente do partido governamental Fidesz nas sondagens para as eleições parlamentares de 2026.
Magyar não esteve em Budapeste, evitando tomar posição sobre a espinhosa questão da Marcha do Orgulho, que, segundo uma sondagem recente, divide as opiniões no país, com 47% dos húngaros a oporem-se à sua realização.
No entanto, no início do dia, apelou a um protesto pacífico. "Peço a todos que não caiam em nenhuma provocação. Se alguém se magoar hoje em Budapeste, se alguém se magoar, Viktor Orbán será o único responsável", publicou Magyar nas suas plataformas sociais.
A comissária europeia para a Igualdade, Hadja Lahbib, reuniu-se com organizações da sociedade civil local na sexta-feira, mas não compareceu na marcha, tendo dito à Euronews que iria participar em reuniões na cidade.
Risco de multas e de prisão
Em março, o parlamento húngaro aprovou uma lei que proibia a marcha do orgulho LGBT. De acordo com a legislação, este evento poderia violar a chamada lei de proteção de menores da Hungria, adotada anteriormente no país, que proíbe qualquer representação de relações entre pessoas do mesmo sexo para menores.
A Comissão Europeia considera que se trata de uma violação do seu direito comunitário e remeteu o caso para o Tribunal de Justiça Europeu.
Os deputados conservadores e de extrema-direita do Parlamento Europeu defenderam a decisão de Orbán de proibir os eventos, afirmando que a UE não deve interferir nos assuntos internos da Hungria.
No entanto, o presidente da Câmara de Budapeste, Gergely Karácsony, do partido dos Verdes, permitiu que o desfile se realizasse, reetiquetando-o como uma celebração do "Dia da Liberdade", oficialmente organizada pela Câmara Municipal.
Esta lacuna legal permitiu que milhares de pessoas marchassem pelas ruas de Budapeste sob um calor sufocante, protestando não só contra a proibição do Pride, mas também contra o governo de Viktor Orban em geral. Para além das bandeiras LGBT e da música alta, havia cartazes com a imagem do primeiro-ministro. "Não sou um grande fã dos eventos do Pride, mas isto vai para além disso. Isto também tem a ver com a liberdade, porque a Hungria, um país da União Europeia, não pode proibir o Pride", disse um dos participantes à Euronews sobre as suas motivações para estar presente.
A segurança foi apertada, com câmaras de segurança instaladas em postes de iluminação no centro da cidade e centenas de polícias colocados em pontos-chave do desfile, vigiando os manifestantes e assegurando que não houvesse confrontos.
Os participantes foram avisados pelo ministério da Justiça húngaro de que os organizadores do desfile corriam o risco de serem condenados a até um ano de prisão e que os participantes poderiam ser multados em 500 euros. A polícia foi encorajada pelo Governo a utilizar tecnologia de reconhecimento facial para identificar os participantes, embora Karácsony insista que ninguém será punido pela sua participação no desfile.
Manifestantes anti-LGBT também se reuniram em Budapeste
O grupo nacionalista "Movimento da Juventude dos 64 Condados" organizou um evento permitido pelas autoridades na mesma praça de Budapeste onde os participantes no Pride se reuniram mais tarde. Entretanto, o Movimento Nossa Pátria, um pequeno partido parlamentar de extrema-direita, organizou uma contramarcha aprovada pela polícia ao longo do mesmo percurso do Pride.
No entanto, durante o dia, o protesto da extrema-direita foi bloqueado por uma forte presença policial para evitar conflitos.
Ao fim do dia, não se registaram incidentes de maior, embora a Euronews tenha testemunhado um confronto entre um pequeno grupo do "Movimento Juvenil dos 64 Condados" - que segurava uma faixa comparando as pessoas LGBT a pedófilos - e a Marcha do Orgulho. "Estamos aqui porque queremos alertar a população húngara para a pedofilia LGBT, que é um verdadeiro perigo para as nossas crianças", disse um manifestante anti-LGBT à Euronews.
Outro manifestante anti-Pride tentou parar a marcha, colocando-se em frente ao camião que liderava o desfile. Foi gozado pela multidão e retirado pela polícia.