Os Patriotas pela Europa, de extrema-direita, estão agora um passo mais perto de fazer descarrilar uma das políticas emblemáticas da UE: o chamado Pacto Ecológico.
Os principais legisladores do grupo eurocético Patriotas pela Europa disseram à Euronews que vão tentar usar um novo poder sobre um dossier climático fundamental, confirmado no Parlamento Europeu na quarta-feira, para fazer descarrilar a política climática da UE.
Na terça-feira, foi confirmado que o grupo vai liderar as negociações sobre o novo objetivo climático da UE para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa em 90%, em relação aos níveis de 1990, até 2040, reservando a um dos eurodeputados do Patriotas pela Europa o papel de relator no Parlamento Europeu para este dossier.
Na quarta-feira, 379 eurodeputados rejeitaram uma tentativa de diluir este poder, fazendo passar o dossier por um procedimento de urgência que permitiria a sua adoção "sem relatório ou com base num relatório oral da comissão competente".
A votação de quarta-feira confirmou que o terceiro maior grupo do Parlamento Europeu, que se tem oposto sistematicamente às políticas climáticas da UE, será agora incumbido de elaborar um relatório e recomendar uma linha política associada ao dossier.
"Agora que a votação dissipou as nossas preocupações, vamos tentar rever em profundidade a política climática da UE e não apenas modificar em pequena escala alguns objetivos numéricos", afirmou Fabrice Leggeri, deputado europeu dos Patriotas e do Rassemblement National de França.
Ainda não é claro qual o eurodeputado do Patriotas pela Europa que irá desempenhar o papel de relator na Comissão do Ambiente (ENVI) que irá supervisionar o trabalho legislativo, mas as autoridades referiram que poderá ser um eurodeputado do Rassemblement National de França, que tem um grande contingente de legisladores na ENVI.
A proposta da Comissão de 2024 visa reafirmar a "determinação do bloco em combater as alterações climáticas", de acordo com o site da Comissão, e "moldar o caminho" para a neutralidade climática, um objetivo que está no cerne do Pacto Ecológico da UE.
Patriotas nunca gostaram do Pacto Ecológico
Mas os partidos de extrema-direita têm-se insurgido contra o que consideram ser o fanatismo do bloco em relação às alterações climáticas e querem anular as recentes regras ambientais. Há alguns meses, o líder do Rassemblement National, Jordan Bardella, pediu a suspensão imediata do Pacto Ecológico da UE.
"Sempre nos opusemos a este objetivo [de redução de emissões], que consideramos demasiado difícil de alcançar para as empresas e os cidadãos europeus", disse à Euronews a eurodeputada da Liga Italiana, Silvia Sardone. "Precisamos de discutir o melhor resultado para os cidadãos europeus, que é obviamente diferente do objetivo proposto até agora", acrescentou Sardone, coordenadora do Patriotas pela Europa na comissão ENVI.
A atribuição deste dossier ao Patriotas resulta de um sistema de atribuição complexo, que dá aos grandes grupos o controlo sobre dossiers importantes.
A votação de quarta-feira desencadeou uma reação dos eurodeputados de esquerda e centristas, um dia antes de o hemiciclo votar uma moção de censura contra a Comissão de Ursula Von der Leyen.
Muitos criticaram o Partido Popular Europeu (PPE), de centro-direita, por ter rejeitado o procedimento de urgência e ter deixado o dossier nas mãos da extrema-direita. O resultado da votação sobre o processo de urgência foi, de facto, mais uma demonstração da chamada "maioria venezuelana", a aliança ocasional entre o PPE e os partidos de direita e de extrema-direita para fazer passar no Parlamento dossiers cruciais.
Antes da votação, Jeroen Lenaers, do PPE, apelou ao plenário para que rejeitasse o processo de urgência, uma vez que "queremos apenas trabalhar nesta proposta com os procedimentos normais desta casa".
Os Verdes argumentaram que a oposição dos Patriotas ao Pacto Ecológico Europeu irá complicar as negociações antes da conferência internacional sobre o clima COP30, a realizar no Brasil, e antes do prazo limite estabelecido pelas Nações Unidas para a apresentação dos planos nacionais para o clima.
Sardone, do Patriotas, confirmou que o dossier não passará na comissão parlamentar a tempo de a lei ser aprovada até novembro, altura em que se realiza a COP30.
"O PPE está a unir forças com extremistas de direita, fazendo dos negacionistas das alterações climáticas negociadores-chefes e pondo em risco a saúde, a economia e a credibilidade da UE", afirmou a eurodeputada austríaca Lena Schilling (Grupo dos Verdes/Aliança Livre Europeia).
"As ondas de calor das últimas semanas causaram mais de 2.000 mortes na UE. A emergência climática é agora e exige uma ação imediata. Em vez disso, a aliança profana dos conservadores e dos extremistas de direita está a atrasá-la".