Em entrevista à Euronews, o presidente do Comité Militar da UE, o general Seán Clancy, fala sobre a preparação da Europa para lidar com ataques com drones e cibernéticos.
A utilização de drones na guerra na Ucrânia e a violação do espaço aéreo da UE por parte dessas aeronaves exigem um realinhamento da estratégia de defesa, de acordo com o principal oficial militar do bloco.
Todas as estruturas militares, políticas e económicas da UE devem estar preparadas e prontas para se defender, referiu o presidente do Comité Militar da UE (CEUMC), o general irlandês Seán Clancy, à Euronews.
Para tal, a UE e a aliança da NATO precisam de trabalhar em conjunto e de forma mais estreita.
"É necessária uma relação mais forte entre a UE e a NATO. É necessária coerência. É necessário eliminar, na medida do possível, a duplicação de esforços. E a Iniciativa de Defesa contra Drones visa, na verdade, criar uma maior coesão entre a sociedade civil, as forças armadas e os aliados, neste caso, claro", afirmou. "E a estrutura de comando e de controlo da NATO, e o papel da NATO em termos de defesa e dissuasão na Europa, são invioláveis."
Para melhor reagir às ameaças híbridas, a UE lançou a Iniciativa de Defesa contra Drones, explicou Clancy. O objetivo passa por reforçar a resiliência da Europa contra ameaças militares e híbridas emergentes, ao mesmo tempo que se reforça a autonomia estratégica e a prontidão operacional.
Estabelece uma rede multicamada capaz de detetar, rastrear e neutralizar drones hostis, ao mesmo tempo que oferece capacidades de ataque de precisão através de plataformas avançadas de drones. Baseando-se amplamente na experiência da Ucrânia no campo de batalha, estará intimamente ligada à proposta Aliança de Drones com a Ucrânia.
A sua dimensão de dupla utilização permitiria aplicações em contextos civis, tais como a proteção de fronteiras e a resposta a catástrofes. Prevê-se que seja lançada na primavera de 2026, atinja a capacidade operacional inicial no final de 2026 e esteja totalmente funcional no final de 2027.
Com este instrumento, a Europa reconhece a necessidade de uma abordagem coesa em toda a Europa, uma vez que a utilização de drones enquanto arma foi observada na Dinamarca, Bélgica ou Polónia.
"Esta é uma questão pan-europeia. E as ameaças híbridas não têm fronteiras. Não fazem distinção quando se trata de atores maliciosos ou ações deliberadas que são realizadas nesta esfera", afirmou Clancy. "Portanto, trata-se de criar uma abordagem coesa em toda a Europa. A primeira e principal responsabilidade, claro, recai sobre cada Estado-membro."
A invasão russa da Ucrânia resultou numa combinação de guerra de trincheiras com a utilização de drones que impediu a linha da frente de avançar a um ritmo significativo, afirmou Clancy.
É por isso que a Europa tem de se preparar para a próxima fase de evolução da guerra, de modo a garantir que o bloco dispõe dos recursos necessários para a investigação, o desenvolvimento e a inovação, acrescentou.