Um arquivo para lembrar a cultura proibida na era comunista

Em parceria com The European Commission
Um arquivo para lembrar a cultura proibida na era comunista
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De  Euronews
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O projeto "Courage" é um plano europeu de investigação que tem como objetivo estudar como preservar e promover material histórico da resistência cultural aos regimes comunistas.

Em Budapeste, na Hungria, é possível viajar ao passado e entrar numa casa da cidade na era comunista. Um período de restrições no qual os ritmos do rock, da música punk ou de qualquer outra expressão artística que desafiasse o regime estavam proibidos.

Só as formas "oficiais" de arte tinham lugar numa sociedade que começou a recorrer cada vez mais à clandestinidade para explorar novos modos de expressão.

É neste ambiente que um grupo de pessoas tenta encontrar pistas para desvendar um crime. O flashback temporal é possível graças a uma "escape room", o placo de um jogo de enigmas integrado no projeto europeu "Courage", iniciativa europeia de pesquisa para estudar como preservar e promover o material histórico de resistência cultural aos regimes comunistas.

Nesta sala, os jogadores tentam resolver o mistério. A ação desenvolve-se na era comunista. Por isso o mobiliário é antigo. Mas os objetos que os jogadores têm de manipular são reais. Incluem fotografias, slides ou "samizdat", publicações clandestinas proibidas pelos regimes comunistas.

A socióloga Szabina Kerényi, do Centro húngaro de Ciências Sociais, explica as vantagens da experiência: "Os jogadores podem, de certa forma, viver a realidade do passado. E podem saber mais sobre partes do passado não só na escola mas também através de documentos, fotografias reais, através dos 'samizdat' e conseguir entender esse período."

Imagens gravadas, fotografias, sons, música ou pósteres. Milhares de documentos que contam a história da oposição cultural aos regimes comunistas fazem agora parte de uma grande base de dados online enriquecida com aplicações móveis, livros e até jogos de mesa.

Um trabalho de investigação em nome da preservação da herança cultural e para a estudar à luz de uma nova perspetiva.

"Os documentos ajudam-nos a perceber o que foi historicamente importante durante as décadas de 60, 70 e 80, de que forma é que o poder tentou esmagar as pessoas. Mas também mostram como é que as pessoas se tentaram revoltar contra o poder usando a cultura. Esta interação entre as pessoas e o poder ao nível cultural também nos ajuda a perceber o momento histórico", sublinha Sándor Horváth, historiador e coordenador do projeto "Courage."

Dos arquivos que fazem parte da base de dados consta o Artpool, fundado em 1979. Alberga cerca de 150 mil documentos, incluindo livros, músicas, poesia e cartas de cerca de 6 mil artistas e instituições de arte. A coleção cobre cerca de 600 metros lineares de prateleiras.

Júlia Klaniczay, fundadora e diretora do Artpool, explica a importância da base de dados conjunta: "Começámos a construir a base de dados juntamente com os investigadores. Considero este projeto extremamente importante. Não só porque arquivos como o nosso podem estar representados. O que o torna mais significativo é o facto de mostrar e dar acesso a coleções que eram completamente desconhecidas do público."

Coleções como a do jornalista, especializado em música, Tamás Szõnyei, que agora podem ser consultadas nesta base de dados.

Tamás colecionou cerca de mil pósteres a promover eventos musicais clandestinos nas décadas de 70 e 80.

"Quinta-feira, sexta ou sábado. Os organizadores de eventos colocavam pósteres nas ruas e no espaço de horas, dias, desapareciam. Acontecia tudo muito rapidamente. Estive envolvido neste mundo clandestino como jornalista. A coleção de documentos também era importante, por isso comecei. Na altura trabalhei como colecionador e documentalista ao mesmo tempo", disse Tamás em entrevista à Euronews.

Continuamente enriquecida como material novo, incluindo gravações musicais raras, a base de dados pode ser consultada online.

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