A bioeconomia para travar a crise climática e a destruição da natureza

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Nos últimos anos, a UE investiu quase 4 mil milhões de euros em investigação na área da economia sustentável.

A bioeconomia é uma das chaves para travar a crise climática e a destruição da natureza. Nos últimos anos, a União Europeia investiu quase 4 mil milhões de euros em investigação para desenvolver uma economia sustentável. O sector da bioeconomia emprega 18 milhões de pessoas e gera um volume de negócios de 2,4 biliões de euros. Setores como a agricultura, a floresta, a pesca, a produção alimentar e de energia começaram a desenvolver novos produtos com elevado potencial.

Técnica para produzir pasta de celulose sem combustíveis fósseis

A fábrica finlandesa Metsa Fibre produz anualmente um milhão e trezentas mil toneladas de pasta de celulose, sem usar combustíveis fósseis. A fábrica é totalmente autosuficiente do ponto de vista energético.

"Produzimos mais do dobro da energia do que a que utilizamos. Temos lodo residual a partir do qual fabricamos biogás. As cascas servem para fazer combustível e também são vendidas para serem usadas como fonte de energia noutras empresas", explicou Camilla Wikstrom, vice-presidente da empresa finlandesa.

Têxteis produzidos a partir de madeira

O objetivo da fábrica finlandesa é produzir produtos sustentáveis usando menos água e menos energia. Um dos projetos da empresa é usar a pasta no fabrico de roupa.

"Estamos a trabalhar num projeto para fabricar têxteis a partir da polpa de madeira. Também temos a possibilidade de fabricar compósitos para substituir os plásticos", acrescentou a vice-presidente da empresa.

Os investigadores da fábrica finlandesa estão a desenvolver também um novo tipo de cartão para embalagens composto por três camadas e que poderá ser produzido de forma sustentável.

"Estamos a desenvolver polpa de elevado rendimento e a otimizar a estrutura de três camadas. Depois, precisamos de conhecer as camadas superficiais e as camadas médias volumosas. O objetivo é conseguir um material forte e duro", explicou Terhi Saari, diretor do centro tecnológico da empresa finlandesa.

A construção da fábrica de pasta de celulose finlandesa exigiu um investimento de 1,2 mil milhões de euros. A empresa acredita que o desenvolvimento de produtos sustentáveis vai compensar o elevado investimento.

"A maioria dos novos produtos desenvolvidos nos últimos 50 anos baseavam-se no petróleo e nos produtos petro-químico. Mas o contexto económico está a mudar devido às alterações climáticas e abrem-se novas possibilidades para produzir produtos a partir de madeira", afirmou Niklas Von Weymarn, presidente da empresa.

Em busca de tecnologia para produzir bioplástico

Uma nova tecnologia para produzir plástico biodegradável está a ser desenvolvida e testada no norte de Itália. As matérias-primas, amido, celulose e óleos vegetais, são transformadas em filmes de plástico.

"Com o tempo e as condições certas, em processos de compostagem industrial ou de biodegradação subterrânea, as moléculas destes bioplásticos tornam-se, pouco a pouco, mais simples, graças à ação de microorganismos. Ao longo do tempo, essas moléculas transformam-se em algo mais elementar, como carbono orgânico, ou composto ", explicou Alessandro D'Elicio, químico industrial da empresa Novamont.

Os cientistas realizam vários tipos de teste para verificar que o bioplástico oferece a mesma resistência e tem a mesma qualidade que o plástico produzido a partir do petróleo.

"Além dos testes mecânicos, podemos também fazer aqui testes qualitativos. Podemos por exemplo, medir o nível de fricção, as propriedades associadas à permeabilidade dos biomateriais e as propriedades óticas", disse Alessandro D'Elicio.

Não basta substituir um produto por outro

Os testes fazem parte de um projeto de investigação europeu que visa repensar toda a cadeia de valor do plástico, criar novos modelos de negócio e proteger o ambiente.

"Não queremos simplesmente substituir um produto por outro. Não é isso que nos interessa. Queremos desenvolver um sistema que nos permite usar melhor os recursos do planeta e redistribuí-los de forma mais justa e mais eficiente", sublinhou Luigi Capizzi, diretor de Investigação e Desenvolvimento da Novamont.

A Europa produz anualmente 25 milhões de toneladas de lixo plástico. Apenas um terço desse lixo é reciclado. O restante é incinerado ou enterrado, o que representa uma enorme fonte de poluição da terra e da atmosfera.

O papel das empresas e dos consumidores

Uma empresa croata de detergentes começou a usar bioplásticos nalgumas embalagens.

"Começámos com um certo tipo de produtos, usamos este bioplástico e dizemos aos consumidores que é melhor para eles e para o ambiente. Se percebermos que os consumidores aceitam este tipo de plástico e de embalagem vamos começar a usá-los noutros produtos", afirmou Andrea Bozic, diretora de Informação e Educação da Saponia, empresa croata de fabrico de detergentes.

A aposta na economia circular

A meta estabelecida pelos investigadores europeus é transformar dez milhões de toneladas de plástico reciclado em novos produtos, daqui até 2025. Para atingir esse objetivo, é preciso uma aposta ao nível da educação.

"Há países no norte da Europa em que o sistema de gestão dos resíduos está muito desenvolvido. Mas, noutros países, esse sistema nem sequer existe. Muitos cidadãos não estão ao corrente das implicações dos resíduos. Esses plásticos vão para os oceanos ou entram na nossa cadeia alimentar. Um dos grandes desafios é perceber as necessidades de cada país europeu para que ele consiga encontrar soluções", afirmou montserrat Lanero, engenheira industrial e gestora do projeto europeu Circ-Pack.

Para perceber essas necessidades, os cientistas recorrem à "ciência do cidadão" uma abordagem que envolve as associações de consumidores e visa conhecer as expetativas das pessoas na área da economia circular e do setor dos plásticos.

"Temos de dar poder ao cidadão. Muitas vezes, as pessoas não se apercebem de que as suas decisões, quando fazem compras, são muito importantes para influenciar o mercado e criar uma economia mais sustentável. Deve haver também empoderamento ao nível do mercado, para que o mercado ofereça mais escolhas aos consumidores", afirmou Belén Ramos, da Associação Espanhola de Consumidores.

Bioprodutos fabricados numa biorefinaria

A biorefinaria norueguesa Borregaard transforma um milhão de metros cúbicos de madeira em celulose, lenhina, bioetanol e fibras de celulose.

Essas fibras podem servir para fabricar bioprodutos através de um processo conhecido como fibrilação.

No âmbito de um projeto europeu, os cientistas noruegueses estão a investigar a possibilidade de usar um subproduto da madeira para substituir os atuais produtos químicos e derivados do petróleo.

"Alguns clientes procuram produtos que ofereçam uma viscosidade controlada, que permitam por exemplo, evitar que a tinta pingue quando se está aplicar a pintura na parede. É possível controlar o processo de endurecimento com adesivos e podemos também obter um bom resultado ao adicionar o produto em cosméticos ou cremes anti-rugas por exemplo", explicou Jarle Wikeby, engenheiro químico e coordenador do projeto europeu.

O trabalho dos investigadores é estudar as propriedades dos produtos, melhorá-las e aumentar o número de aplicações industriais possíveis. Os cientistas desenvolvem atualmente um produto altamente eficiente e robusto.

"Estamos a trabalhar ao nível do tamanho de partícula ou dos tamanhos de agregados específicos de partículas. Temos dois tipos de fibras diferentes. E começámos a estudar as propriedades do filme. O produto permite-nos fabricar filmes que têm boas propriedades, funcionam como barreiras, barreiras de oxigénio, que dão força aos produtos", explicou a investigadora química Kristin Weel Sundby.

Centenas de novos produtos em desenvolvimento

O laboratório desenvolve atualmente 700 produtos, a partir de matérias-primas naturais. Uma área que deverá crescer nos próximos anos.

"O nosso produto é um adjuvante. Basta colocar um pouco desse produto para mudar um produto baseado no petróleo para um produto baseado em água. Por isso, não se trata de uma questão de custo. É a consciência ambiental dos consumidores que leva à criação de produtos mais ecológicos e sustentáveis. Isso motiva as empresas a investirem no desenvolvimento de novos produtos", considerou Palm Romberg, vice-presidente da Borregaard AS.

A União Europeia planeia investir mais 10 mil milhões de euros em investigação na área da bioeconomia até 2027.

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