Medicina do futuro embalada pelo ritmo cardíaco de humanos virtuais

A ideia de nascimento de um gémeo digital, que pode ser submetido a testes prévios a medicamentos ou cirurgias para minimizar os riscos, saiu do papel para ganhar forma.
O projeto "CompBioMed", desenvolvido no quadro do programa europeu de investigação e inovação Horizonte 2020, apresenta-se como uma visão de vanguarda da medicina de futuro. Em termos práticos é o ponto de partida para o surgimento de sósias virtuais, feitos não de carne e osso mas antes de bits e bytes, com batimento cardíaco e código genético idênticos aos da pessoa representada.
Investigadores envolvidos na criação da versão virtual de nós mesmos sublinharam acreditar que o humano virtual pode ter um impacto profundo, altamente estratégico, na medicina e revolucionar os cuidados de saúde.
Peter Coveney, da University College de Londres, lidera o ambicioso Centro de Excelência em biomedicina computacional "CompBioMed". À Euronews lembrou as vantagens da iniciativa: "Não há dúvidas que o sósia virtual vai salvar vidas. Pela razão de que é capaz de prever um resultado antes de uma ocorrência."
Andrea Townsend-Nicholson, professora de bioquímica e biologia molecular na University College de Londres, acrescentou: "Estamos a construir um humano virtual peça a peça. É revolucionário porque olha-se para o sistema e para o paciente como uma pessoa completa."
Medicina "customer-centric"
O projeto "CompBioMed" combina dados específicos de órgãos fornecidos por raios X, ressonâncias magnéticas ou tomografias, juntamente com informações sobre o genoma e outros dados que ajudam a criar o avatar virtual personalizado.
"Podemos ver todos os tipos de sistemas através de dados inseridos no computador, desde as bases e letras do genoma até ao esqueleto", revelou Andrea Townsend-Nicholson.
Para dar vida a órgãos como o coração virtual, os cientistas desenvolveram muitos programas especializados e algoritmos.
"O coração virtual reproduz todos os detalhes do coração da pessoa que estamos a analisar. Pode ser usado antes de uma cirurgia se houver um problema como arritmias ou ataques cardíacos, de modo a que o cirurgião possa planear previamente a operação e maximizá-la", lembrou Peter Coveney, coordenador do Centro de Excelência em biomedicina computacional "CompBioMed".
Virtualizar algo tão complexo como o corpo humano requer um enorme poder computacional e incontáveis horas de trabalho.
Um verdadeiro projeto de colaboração europeia
É no Centro de Supercomputação Leibniz, da Academia de Ciências da Baviera, que se conduzem algumas das simulações de computador de ponta. O Super MUC-NG é o supercomputador mais poderoso da Alemanha, como referiu, em entrevista à Euronews, o professor Dieter Kranzlmüller, presidente do quadro de diretores do Centro de Supercomputação Leibniz: "Os supercomputadores são usados para grandes modelagens e simulações. O poder de computação atual do Super MUC-NG será, provavelmente, o mesmo de um Ipad ou smartphone dentro de 20 anos. Tentamos simular hoje o que precisamos dentro de 15 a 20 anos para a prática da medicina personalizada nos hospitais."
Graças aos supercomputadores, os cientistas conseguem visualizar, por exemplo, o fluxo de glóbulos vermelhos nas veias.
"Temos modelos grandes de artérias através dos quais percebemos o fluxo das células sanguíneas e onde há constrições. É sempre importante que os dados que se conseguem através dos cálculos sejam ilustrados e visualizados", sublinhou Gerald Mathias, gestor de aplicações de apoio no Centro de Supercomputação Leibniz.
O projeto do humano virtual ambiciona combater todas as doenças incluindo a Covid-19. Em simultâneo quer ajudar as pessoas, com um impacto positivo no estilo de vida.
O objetivo de criar um verdadeiro sósia virtual e de dar vida ao humano virtual é a força-motriz dos cientistas no futuro próximo. À Euronews Peter Coveney definiu a visão sobre o assunto: "A minha visão sobre o humano virtual é que é um princípio organizador para a medicina do século XXI e adiante."