Embora a UE e vários países europeus tenham contribuído de forma significativa para a GAVI, a aliança mundial para a vacinação, os Estados Unidos estiveram notoriamente ausentes da lista das doações.
Num evento de doadores de alto nível realizado em Bruxelas esta quinta-feira, a GAVI Vaccine Alliance reuniu doadores internacionais para financiar o seu próximo programa quinquenal.
Até à data, a GAVI já garantiu mais de 7,7 mil milhões de euros - ainda aquém do seu objetivo global, embora se esperem mais donativos nas próximas semanas.
"O que está em causa é a vida de milhões e milhões de crianças. E penso que não há nada mais importante no mundo do que a vida de milhões de crianças", disse o presidente da GAVI, José Manuel Barroso, numa entrevista à Euronews.
"Faz diferença se elas forem imunizadas, se receberem vacinas ou não. Porque se não as receberem, morrerão de doenças perfeitamente evitáveis", acrescentou.
A GAVI, lançada em 2000, é uma parceria mundial no domínio da saúde que tem por objetivo melhorar o acesso às vacinas nos países mais pobres do mundo.
Desde a sua criação, a aliança ajudou a vacinar mais de mil milhões de crianças e estima-se que tenha salvado 19 milhões de vidas. Atualmente, o seu objetivo é chegar a mais 500 milhões até 2030.
Os apoiantes afirmam que os investimentos em vacinas oferecem um forte retorno - até 54 dólares por cada dólar gasto - através da redução dos custos dos cuidados de saúde e do aumento da produtividade económica.
Europa lidera a iniciativa
As nações europeias estiveram entre os apoiantes mais proeminentes no evento de Bruxelas.
O primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez, prometeu 130 milhões de euros, mais 30% do que o compromisso anterior do país. "A Espanha está pronta a dar um passo em frente quando outros estão a recuar", afirmou.
A Comissão Europeia também reafirmou o seu apoio com um compromisso de 360 milhões de euros, elevando o compromisso total da "Equipa Europa" - que reúne as instituições da UE e os Estados-membros - para mais de 2 mil milhões de euros.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, congratulou-se com o compromisso assumido pela GAVI e pela Unicef de obter até 20% das vacinas dos seus programas junto dos produtores africanos.
"Juntos podemos garantir que as vacinas não só estão disponíveis para África, como são cada vez mais fabricadas em África", afirmou no evento, referindo que a Europa é também o maior contribuinte para o acelerador do fabrico de vacinas em África.
O Reino Unido foi o maior doador individual, com um compromisso de 1,25 mil milhões de libras. "Enquanto outros estão a recuar, nós, no Reino Unido, estamos a avançar", afirmou o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, David Lammy. "Isto ajudará a imunizar mais de 60 milhões de crianças, salvando cerca de 1,25 milhões de vidas".
Estados Unidos retiram-se
Em contraste com os anos anteriores, os Estados Unidos - historicamente um dos principais doadores da GAVI - anunciaram que deixariam de fornecer financiamento, como parte de uma redução mais ampla da ajuda internacional sob a administração do presidente Donald Trump.
"Há muito que admiro na GAVI", disse o secretário de Saúde dos EUA, Robert F. Kennedy Jr., numa mensagem de vídeo. "Infelizmente, no seu zelo em promover a vacinação universal, negligenciou a questão fundamental da segurança das vacinas".
Kennedy, um conhecido cético em relação às vacinas, levantou especificamente preocupações sobre a vacina DTP (difteria, tétano e tosse convulsa), uma imunização infantil amplamente utilizada.
A GAVI respondeu reafirmando a sua "total confiança" na vacina DTP, citando décadas de monitorização rigorosa da segurança.
Barroso, numa entrevista separada antes da declaração de Kennedy, manteve um tom otimista sobre a futura colaboração com a administração dos EUA. No entanto, também denunciou as campanhas de desinformação sobre a vacina alimentadas por teorias da conspiração e pelas redes sociais. "As pessoas, por vezes, gostam de aceitar este tipo de fantasias", afirmou.
Como Barroso concluiu, os dados globais sobre o impacto da vacinação são indiscutíveis: os países com programas de imunização sustentados registaram taxas de mortalidade infantil drasticamente mais baixas.
Doenças evitáveis como a poliomielite, outrora generalizadas, quase desapareceram nessas regiões. "As vacinas salvam vidas e isso é uma prova irrefutável", afirmou.