Os tesouros arqueológicos de Şanlıurfa

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De  Cinzia Rizzi
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Além de encerrar os locais de culto mais antigos e estátua humana mais antiga do mundo, estes locais de escavação na Turquia mudaram a forma como os historiadores veem o início da civilização.

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Neste último episódio da nossa série - em que o levámos a conhecer a Turquia, para saber mais sobre a sua cultura, tradições e património - estamos em Şanlıurfa, na região sudeste da Anatólia, um lugar muito importante, não só para o povo turco, mas para toda a humanidade. Antes de mais, há um costume tradicional que não pode faltar quando se chega a Şanlıurfa: visitar o mais popular de todos os pontos turísticos, Balıklıgöl, ou "lago sagrado dos peixes", que está ligado a uma lenda sobre o Profeta Abraão.

Segundo a lenda, o Rei Nimrod, que era um rei politeísta adorador de ídolos e governante de Urfa, condenou à morte o Profeta Abraão, que era contra a adoração de ídolos e o politeísmo. Abraão foi amarrado a dois postes no topo do castelo de Urfa e catapultado para um poço de fogo iluminado no centro da cidade. Mas Deus fez um milagre ao salvar o Profeta, transformando o fogo em água e os pedaços de madeira - combustível do fogo - em peixe! É por isso que hoje em dia as pessoas alimentam as centenas de carpas sagradas que vivem no lago Balıklıgöl.

Mas em Şanlıurfa também podemos saber mais sobre o nosso passado. Não longe da cidade, existem os sítios arqueológicos de Taş Tepeler - literalmente ''colinas de pedra''. Um deles é o sítio de Göbeklitepe, património mundial da UNESCO, um lugar que mudou a forma como historiadores e arqueólogos concebem o berço da civilização.

As escavações começaram aqui em meados da década de 1990 e acredita-se que o que foi encontrado é o mais antigo local de culto de origem humana ainda descoberto. Marcado por camadas de megálitos esculpidos, estima-se que data de de cerca de 10.000 a.C., precedendo Stonehenge em 6000 anos!

Com os seus pilares de pedra calcária em T - esculpidos com imagens de animais selvagens, personagens abstratos e ícones - o templo proporciona uma visão do modo de vida e das crenças das pessoas que viviam na Alta Mesopotâmia.

Os arqueólogos pensavam que a humanidade ainda não se tinha formado em grupos nessa altura, antes da Revolução Neolítica que trouxe grupos dispersos de caçadores-coletores para aldeias agrícolas. Mas Göbeklitepe virou tudo o que sabíamos do avesso, como nos explica Merve Ofluoğlu, guia turística no local: "Até agora, assumíamos que a agricultura estava na vanguarda da transição da humanidade para a vida estabelecida. No entanto, quando examinamos a existência da vida em Göbeklitepe, não podemos assistir a uma transição para a agricultura. Isso veio um pouco mais tarde. Embora fossem uma sociedade de caçadores-colectores, construíram estas estruturas de acordo com as suas crenças", explica.

Isto pode significar que o que verdadeiramente forçou a humanidade a estabelecer-se não foi a agricultura, mas a vontade de construir templos religiosos e de permanecer perto deles.

Göbeklitepe - do qual apenas 5% foi escavado até agora - não é único. Há um lugar ao virar da esquina que poderia ser ainda mais antigo: Karahantepe.

Estruturas diferentes e mais de 260 obeliscos em forma de T foram encontrados aqui. Há também algo que parece uma sala de culto, com 11 pilares e uma misteriosa cabeça humana esculpida.

Tudo o que se encontra em Karahantepe e nos locais em redor está exposto no Museu Arqueológico de Şanlıurfa, outro local que deve ser visitado quando se está aqui. O diretor do museu e antigo líder de escavação em Göbeklitepe, Celal Uludağ, explica porque Karahantepe poderia dar-nos mais peças para tentar completar o puzzle: "Durante as escavações de Göbeklitepe, não foi possível obter informações definitivas sobre se as pessoas viviam nas proximidades do local da escavação. Ferramentas diárias, recipientes de pedra, vasos de moagem, e grandes placas foram encontrados nestas estruturas em Karahantepe. Estes achados mostraram-nos que existiam efetivamente áreas residenciais mesmo ao lado da área ritual em Karahantepe".

Com cerca de 30.000 metros quadrados para explorar, o Museu Arqueológico de Şanlıurfa tem 5000 artefactos em exposição. Entre eles, a estátua de Balıklıgöl, também conhecida como Homem de Urfa, a mais antiga estátua de forma humana conhecida no mundo, encontrada mesmo ao virar da esquina. A estátua tem quase 1,80 metros de altura e os seus olhos formam buracos profundos, nos quais se colocam segmentos de obsidiana negra.

Como as escavações ainda estão em curso em Şanlıurfa, outros tesouros poderão vir a ser encontrados debaixo do solo. "As novas obras de arte que forem descobertas como resultado destas escavações serão também preparadas para ocupar o seu lugar na exposição", diz-nos Uludağ.

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