Xadrez político da Catalunha

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De  Euronews
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A Catalunha está num impasse: os resultados das eleições regionais deram a maioria aos soberanistas, mas o presidente Artur Mas perdeu a aposta. A aliança que lidera “Convergência e União”, CiU, perdeu 12 assentos parlamentares e, agora, depende dos independentistas de Esquerda Republicana.

Em Barcelona, no bairro de Les Corts, com 82 mil habitantes, vive Elena Turalló. Esta arquitecta de 43 anos, casada, com dois filhos, é militante da CiU desde 2003. Antiga vereadora de Les Corts, é conselheira do prefeito desta aliança na cidade de Barcelona, Xavier Trias.

Elena Turalló:

“Não foi muito mau mas, sinceramente, esperava que fosse um pouco melhor, porque não estava em jogo a independência da Catalunha, mas o direito dos eleitores decidirem nas urnas, que é o que a Catalunha precisa, porque eu acredito na democracia, a democracia serve para todos se exprimirem num momento concreto e devemos ser democratas.

No bairro de Elena, ganhou com 38% a federação da Convergência Democrática da Catalunha com a União Democrátivca da catalunha, a CiU, seguida do PP (18%) e dos independentistas radicais de esquerda com 11%.

“Esta é a linha que separa o bairro les Corts, em Barcelona, e a cidade Hospitalet de Lobregat, a fronteira entre o soberanismo e o federalismo” – Francisco Fuentes corresponde da euronews.

Em Hospitalet, os socialistas ganharam com 24,75%, seguidos pelo PP com 15,55% e da CiU com 14,36%. Esta cidade com cerca de 267 mil habitantes é um exemplo da Catalunha dos imigrantes: aproximadamente 45,5% dos habitantes nasceram na região, os outros vieram de fora, como José Vicente Muñoz, originário de Sevilha. Antigo sindicalista e ex-deputado, é militante no PS da Catalunha desde 1982.

“ Penso que o PSC tem de pôr em marcha a agenda social, que está bem definida, a agenda territorial com a configuração de uma nova Espanha plural, diversa, num sistema federal que faz de nós mais livres na diversidade”.

O federalismo, opção proposta pelo PSC, defende o direito a decidir o custo dos direitos sociais. Para os independentistas da Esquerda Revolucionária da Catalunha, ERC, soberania rima com fim dos cortes orçamentais. Cabe agora à Convergência encontrar parceiros.

Vicenç Batalla, Euronews – De Barcelona para a euronews, analisa os resultados eleitorais da Catalunha, José Antich, diretor do “La Vanguardia”, o mais importante jornal catalão.

O presidente cessante, Artur Mas, saiu fragilizado com estes resultados mas, ao mesmo tempo, cresceram outros partidos independentistas e Mas pode governar e organizar um possível referendo. Qual é a estratégia a partir de agora?

José Antich – É evidente que o presidente Mas não vai poder governar sozinho. Teve um recuo eleitoral muito importante. perdeu 20% dos assentos parlamentares. Tem duas opções opostas: governar com o Partido dos Socialistas Catalães, o que pode conduzir o plano de soberania a um impasse e pôr em causa a consulta popular prometida pelo presidente catalão. Uma outra alternativa é governar com a Esquerda Republicana da Catalunha, segunda força política. A aliança entre os dois principais partidos teria como fruto o referendo, que é o principal objetivo de ambos.

euronews – Os partidos de filiação espanhola não ganharam com a baixa dos nacionalistas de direita. Os socialistas perderam a segunda posição e o Partido Popular (de Mariano Rajoy), subiu muito pouco. Os resultados tranquilizam Madrid?

JA – A primeira boa notícia para o governo de Madrid é que a “Convergência e União” não conseguiu a maioria absoluta que pedia o presidente Mas, vendo os números como eles são, o primeiro partido das eleições é nacionalista e o segundo independentista. E os partidos de filiação espanhola, o Partido Socialista e o Partido Popular, estão em 3° e 4°.
Os primeiros somam um total de 1.600.000 votos e, os segundos, cerca de um milhão.
Ou seja, há 600 mil votos de diferença a favor da independência e da soberania. Acho que o Partido Popular e o Partido Socialista, as duas forças espanholas, têm de interpretar com calma estes resultados, caso contrário, a leitura pode não corresponder à realidade.

euronews – Os partidos que subiram mais foram, até agora, minoritários, mais à esquerda. Será que isto obriga o novo governo a mudar a política económica para sair da crise?

JA – É evidente que a fragmentação do mapa político catalão nestas eleições é bem mais plural e multifacetado. A imagem que salta à vista é que é difícil governar. Porquê? Primeiro, atualmente, não há maiorias razoáveis. E está claro que a tónica em toda Europa e ainda que não seja esta a única causa é que a crise económica desgasta os governos. O recuo da “Convergência e União” deve-se, em parte, à crise. Foi o que favoreceu o voto na esquerda mais radical, crítica em relação à evolução liberal da Europa.

euronews – Em relação à União Europeia, este resultado mais pobre do esperado deixa o presidente Mas com poucos argumentos ante Bruxelas para seu plano soberanista?

JA – Se falamos em termos de liderança e maioria, a liderança é mais frágil mas a maioria é praticamente igual à anterior.
Antes, a CiU e Esquerda Republicana tinham 73 deputados sem que a CiU tivesse um projeto independentista ou de Estado próprio.
Agora, com um projeto de Estado próprio a CiU e a ERC somam 72.
Esperamos a reação da União Europeia nos próximos dias e semanas.
A União Europeia já tinha dito, de um modo bastante evidente, que não aceitaria um Estado catalão. Veremos, a partir de agora, estratégia vai adtar o governo catalão.

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