26% dos espanhois não encontram emprego, uma situação angustiante para milhões de cidadãos que assistem, atónitos, ao escândalo de corrupção que atinge o presidente do governo.
Em News Plus analisamos a situação política em Espanha. Primeiro os factos e depois a continuação com a entrevista a um analista político.
Um ano depois de chegar ao poder, o presidente do governo espanhol, Mariano Rajoy, enfrenta uma crise de confiança sem precedentes.
Envolvido por um escândalo de corrupção que se converteu em crise política, o presidente foi obrigado a romper o silêncio para defender a imagem de homem íntegro, que age com transparência.
Mariano Rajoy, primeiro-ministro espanhol:
“Não preciso de mais de duas palavras: é falso. Nunca, repito, nunca recebi ou dividi dinheiro sujo. Nunca. Repito: a acusação é falsa.”
O chamado escândalo Bárcenas, e dos sobornos, eclodiu a 18 de janeiro. O jornal El Mundo assegurou então que o ex-tesoureiro do Partido Popular, Luis Bárcenas, distribuiu, durante duas décadas, comissões de 5 mil a 15 mil euros pelos dirigentes do partido.
O dinheiro, segundo o jornal, era pago por empresas privadas que pretendiam ganhar as obras públicas.
Na quinta-feira passada, o jornal El País completou as denúncias com fotografias de faturas e de contas de Bárcenas.
Nelas figurava o nome de Mariano Rajoy, que teria recebido, entre 1997 e 2008, 25.200 euros anuais.
A oposição socialista pediu no domingo “mudanças” na presidência do executivo, pois Rajoy “não condegue resolver a gravíssima situação em que mergulhou Espanha:
Alfredo Pérez Rubalcaba:
“Pedimos-lhe que abandone a presidência do executivo e que dê lugar a outro presidente que possa restabelecer a credibilidade e a estabilidade de que o país precisa.”
Para muitos espanhois, o caso dos sobornos é a gota que transborda num copo cheio por causa das medidas de austeridade e do desemprego.
A promessa divulgação do IRS de Rajoy não serviu para acalmar os ânimos:
Miguel Gomez, manifestante:
“Não é suficiente, porque pedir a declaração de rendimentos não serve para nada, estamos a falar de dinheiro sujo, não é? Temos é de exigir a demissão, porque os responsáveis políticos deviam dar o exemplo. Mas acontece precisamente o inverso. “
A crise institucional também afeta a monarquia, depois do processo de Urdangarín. O genro do Rei Don Juan foi acusado de gestão danosa, fraude e falsificação de documentos. A 23 de fevereiro tem de comparecer no tribunal pela segunda vez.
Beatriz Beiras, editora da euronews, fala em duplex com Fernando Vallespín, Professor de Ciências Políticas da Universidade Autónoma de Madrid e colaborador do diário El País.
BB – O líder da oposição, o socialista Alfredo Pérez Rubalcaba pede ao presidente Mariano Rajoy que se demita e que coloque o lugar à disposição. Concorda, ou para salvar Rajoy é suficiente a maioria absoluta do Partido Popular?
Fernando Vallespín - Penso que a maioria absoluta do Partido Popular não é suficiente para salvar o posto a Mariano Rajoy, mas por outro lado, talvez a demissão seja precipitada.
Há que respeitar a presunção de inocência. Rajoy negou categoricamente todas as acusações, e terá de se esperar para ver até onde está disposto a dar a cara pelos prevaricadores do próprio partido.
A verdade que a imprensa revelou provas de muitos ilícitos que arrastam Rajoy para uma situação muito complexa.
euronews - O escândalo provocado pelas revelações do El País a propósito de alegados pagamentos à cúpula do Partido Popular surgiu em plena crise económica, com milhões de espanhois no desemprego, e ainda no momento em que o genro do Rei, Iñaki Urdangarín, responde por delitos de enriquecimento ilícito.
A crise institucional em Espanha também afeta a Coroa?
Fernando Vallespín – Não há dúvida de que a Espanha passa por uma crise institucional grave… provocada e acelerada pela situação socio económica.
Há que ter em conta que o desemprego aumenta desenfreadamente há anos e a situação social, nalguns setores, é quase insuportável. Por outro lado, a confiança nas instituições, entre elas nos partidos políticos, diminuiu drasticamente. Os casos de corrupção agravam uma situação de mal-estar que é bem mais generalizada e não provocada pelos casos em si.
Sobre o caso Urdangarín…na realidade acho que, em Espanha, há um antes e um depois do caso Urdangarín relativamente à avaliação da corrupção que, a partir de agora, dá tolerância zero a este tipo de condutas.
Podemos dizer que a nossa consciência moral está tão desenvolvida como a escandinava ou a que pode existir nos países escandinavos em termos de ética pública, o que é um grave problema para o Partido Popular.
A população não vai suportar que, mais uma vez, este tipo de sobrecargas recaia sobre si, como uma sentença. Os espanhois exigem exolicações já.
euronews – A modo de conclusão, pode dizer-se que a etapa histórica aberta com a Transição, depois da ditadura franquista, se fechou?
Fernando Vallespín - Categoricamente, estamos no fim de um ciclo. A democracia espanhola tem de ser reinventada. Em grande medida, também, por causa dos desafios, como o catalão, que exigem uma revisão da Constituição.
O pacto constitucional, durou mais de 30 anos… penso que é chegado o momento de procurar um consenso para fazer um novo pacto constitucional e encontrar as novas bases os alicerces do que deve ser uma nova fase da jovem democracia espanhola.