Foi um dos decisores da política externa israelita nos últimos anos. Depois do importante cargo de embaixador de Israel nos Estados Unidos, chegou à Knesset e ao governo pela mão de Avigdor Lieberman. Danny Ayalon, vice-ministro dos Negócios Estrangeiros cessante, conversou com a euronews sobre a situação na Síria e as ambições nucleares do Irão na perspetiva de Israel.
euronews:
O Irão e a Síria afirmam que vão responder ao ataque aéreo contra um depósito de armas na Síria? Que pensa disto?
Danny Ayalon:
“Não sei do que é que eles estão a falar, mas penso que o problema que enfrentamos na Síria deve-se ao apoio, ao apoio maciço que o brutal regime de Assad recebe dos ayatollahs do Irão e dos seus sucedâneos no Líbano, o Hezbollah”
en: Se o Irão e a Síria contra atacarem, qual será a resposta de Israel?
DA: “É óbvio que Israel tem o direito a defender-se, temos a obrigação de defender a nossa população. Infelizmente, assistimos a uma radicalização desenfreada na região e aquilo a que se chamou de ‘Primavera Árabe” está infelizmente a transformar-se num ‘Inverno Islâmico’ e muito do que está a acontecer pode atribuir-se aos ayatollahs em Teerão”.
en: Na questão do nuclear iraniano, o primeiro-ministro israelita falou abertamente num eventual ataque preventivo. Não acha isso contra produtivo, que vai de facto aproximar os iranianos de uma arma atómica?
DA: “Não penso que os iranianos precisem de qualquer ajuda. O que têm feito na última década e meia é um enorme esquema de mentiras, subterfúgios que, de certa forma, desafia toda a comunidade internacional. Eles não descansam na tentativa de obterem capacidade nuclear. A capacidade nuclear não é um fim em si mesmo, é apenas um meio para conquistarem a hegemonia no Médio Oriente e muito além dele.
Gostava aqui de realçar um ponto específico: não há um confronto entre Israel e o Irão, o confronto é na realidade entre o Irão e toda a comunidade internacional”.
en: Porque é que a política de contenção funcionou com a União Soviética e não com o Irão?
DA: “Simplesmente porque a capacidade nuclear não é uma questão de sobrevivência para o Irão, não é um instrumento económico e, com todo o respeito, o Irão não é uma superpotência, apesar de querer sê-lo. Acredito que a situação mais parecida é a da Coreia do Norte, mas ao contrário da Coreia do Norte, que pode ter ou não a bomba atómica guardada na cave, o Irão tem ambições globais. Estamos a falar de um regime que, em grande parte, dedica-se a promover as suas ideologias extremistas e, para eles, o nuclear é só um meio para continuarem a minar e a destruir. Mesmo sem capacidade nuclear, os iranianos estão a ameaçar toda a região e mais além, seja o Estreito de Ormuz ou o transporte de petróleo. Com capacidade nuclear, não só podem controlar o fluxo de petróleo, como ditar o seu preço. Penso portanto que é imperativo – não só por causa de Israel, mas pelo bem de todos – que não venha a existir um Irão nuclear e penso que eles não devem subestimar a vontade, a determinação e as capacidades da comunidade internacional”.
en: Falemos da Síria: Acredita que a eventual queda de Assad será o princípio do fim do conflito, ou o fim do início, e que a guerra pode ser eternizar-se como no Líbano, por exemplo?
DA: “A situação na Síria é muito trágica e, em cima do desastre humanitário na Síria, vemos o perigo de uma desintegração completa: a Síria à beira de tornar-se num estado falhado”.
en: Acha que o Estado pode desintegrar-se por completo? Que Assad é a essência do Estado?
DA: “É essencialmente o que vemos e também vemos que a sua opção é não abdicar, é não abandonar a Síria, mas antes fortificar as posições alauitas e criar enclaves alauitas que continuarão a ser apoiados pelo Hezbollah e pelo Irão. E isto não é um bom presságio para o futuro do país e também para a estabilidade da região”.
en: Se a estabilidade da região é tão crucial, como é que a comunidade internacional deve reagir, já que a estratégia atual não parece estar a funcionar? Mais de 60 mil pessoas morreram nos últimos dois anos, o que é que a comunidade internacional tem de fazer?
DA: “Em primeiro lugar, tem de alcançar um consenso e, infelizmente, não conseguimos um acordo da comunidade internacional. E com a ausência de uma política do Conselho de Segurança (da ONU) a paralisia é completa. O resultado é, obviamente, uma escalada sem fim da situação na Síria. Portanto, penso que a primeira coisa é que os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança cheguem a acordo, seja sobre uma
zona de exclusão aérea sobre a Síria ou sob a forma de colocar uma força de paz no terreno – o que poderia ter sido facilmente alcançado há um ano e meio. Agora é quase impossível”.
en: Então a estratégia de ‘esperar para ver’ falhou e devíamos ter uma qualquer forma de intervenção internacional na Síria?
DA: “Não sou eu quem deve verdadeiramente responder e, insisto, talvez o tempo para uma intervenção efetiva tenha passado. Sei que há um debate cada vez maior, em especial na Europa, sobre dar armas e munições à oposição para lá de todo o equipamento não letal. É algo que temos de analisar com muito cuidado para garantir que as armas ou as munições não caem nas mãos erradas. Infelizmente, a oposição síria não é um bloco único, vemos que a Síria está a tornar-se um polo de atração para adeptos da jihad e islamitas fanáticos – o tipo de pessoas que viaja de uma zona quente para outra – seja da Chechénia, do Afeganistão ou da Líbia – muitas delas estão a concentrar-se na Síria, tornando as coisas muito mais complicadas”.