Khamenei: de político moderado a ditador assumido

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O Ocidente conhece-o como “O Ayatolah”, independentemente do título ser religioso ou ter sido criado pelo sistema vigente; quem é ele? Que defende? Depois de uma breve análise, entrevistamos o Dr. Kazem Alamdari, sociólogo e professor na Universidade Católica da Califórnia:

Ali Khamenei é o Líder Supremo do Irão. Está acima dos três ramos de poder, executivo, judicial e legislativo, tem 74 anos de idade e é o mais velho clérigo com um papel tão importante na história do médio Oriente.

É o comandante em chefe das Forças Armadas e é ele quem nomeia os oficiais. Tudo depende dele, uma declaração de guerra ou de paz, um referendo das autoridades, etc.

Depois da morte do Ayatolah Komeini, líder da Revolução de 1979, Ali Khamenei chegou ao poder apoiado por uma assembleia de clérigos. Contam que chegou a hesitar, antes de aceitar o cargo.

Mas aceitou e, desde então, acumula um amplo leque de poderes, que incluem a nomeação dos máximos responsáveis pela justiça e pela poderosa radiotelevisão estatal.

Khamenei deide o nome de seis dos 12 membros do poderoso Conselho dos Guardiães, uma instituição que se encarrega principalmente de duas tarefas: aprovar as novas leis adoptadas pelo Parlamento e vetar candidatos às eleições gerais e presidenciais – exercício posto em prática no afastamento do reformista apoiado por Amadinejahd, por exemplo.

Apesar de todo poderoso, Ali Khamenei não é uma pessoa carismática. Nas grandes manifestações possíveis, os ativistas chamam-lhe, repetidamente, ditador e pedem a sua demissão.

O líder iraniano qualificou de golpistas os manifestantes que se foram para as ruas, em 2009, depois da controversa reeleição de Ahmadinejad.
Dois dos candidatos daquelas eleições, Mirhossein Moussavi e Mehdi Karoubi estão ainda em detenção domiciliária.

Criticar o líder da República pode conduzir a castigos não escritos, que vão desde a detenção temporária ao assassinato…

Em 1997, um tribunal alemão designou o então presidente Akbar Hashemi-Rafsanjani responsável pelo assassinato de três membros da oposição em Berlim, em setembro de 92.

Khamenei assume-se um revolucionário. Assegura que não é nenhum diplomata, mas tudo indica que todas as políticas relativas a assuntos tão cruciais como as relações com os Estados Unidos ou o programa nuclear decidem-se no seu gabinete.

euronews – Se considerarmos a posição política e religiosa atribuida a Khamenei pela Constituição podemos encontrar algum caso semelhante no cenário internacional?

Kazem Alamdari – A posição do Líder Supremo Faqih, especialista em jurisprudência islâmica, é uma autoridade ilimitada. No mundo atual, há mais outros ditadores e infratores, mas nunca vi outro caso, como no Irão, em que a Constituição deu ao líder o direito à ditadura. Isto resulta de dois fatores: a fusão de duas instituições poderosas, religião e governo, bem como prazo de vida para a posição de liderança. Esses dois fatores, juntamente com o espírito monopolizador do Sr. Khamenei, criaram um fenômeno que é globalmente único.

euronews: Como vê o processo através do qual o líder iraniano acedeu ao poder? Qual é o equilíbrio de poder e legitimidade em relação à sua posição?

Kazem Alamdari – A chegada ao poder do líder foi o resultado de uma grande conspiração contra o herdeiro legal do Ayatolá Khomeini, o Ayatolá Montazeri, que também foi membro da Câmara dos Especialistas.
Depois da morte de Khomeini, Rafsanjani disse que Khomeini tinha mencionado que Ali Khamenei podia ser um bom líder. Apesar de não haver qualquer referência ao facto nas 30 páginas de testamento que deixou Khomeini.

Depois da morte de Khomeini, Khamenei e Rafsanjani partilharam o poder e deixaram à margem Ahmad, o filho do ayatolá Khomeini. Dois anos mais tarde, Ahmad morreu em circunstâncias estranhas.

Mais tarde, Khamenei e Rafsanjani começaram a desentender-se. Rafsanjani olha para o futuro enquanto Khamenei olha o passado, é anti-ocidental e está contra a modernidade.
Com esta atitude monopolizadora, com o apoio do exército e dos conservadores da ala dura, Khamenei conseguiu marginalizar também Rafsanjani.

euronews – Podemos dizer que em relação ao que aconteceu com os protestos do movimento reformista nas últimas eleições presidenciais, o líder interfere no processo das eleições presidenciais?

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Kazem Alamdari – Sim. O líder interfere nas eleições. No terceiro ano do mandato de Ahmadinejad, disse num discurso que o presidente não devia dar por assumido que só ficava um ano para terminar o mandato e que devia preparar-se para mais cinco anos.

Portanto, nas últimas presidenciais, Khamenei usou a sua influência para mudar o processo a favor de Ahmadinejad e contra Mousavi. Para Khamenei, a independência de um presidente pode ser interpretada como uma autoridade dualista no sistema e uma ameaça contra o seu poder absoluto. Mesmo agora, atuou contra o interesse de Khatami e de Rafsanjani anulando as duas candidaturas.

euronews – Qual é o desafio mais importante do futuro líder da República Islâmica do Irão?

Kazem Alamdari – O movimento das mulheres pela liberdade, democracia e igualdade, a situação económica muito má, as sanções e o isolamento global; estes são os principais desafios de Khamenei.

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