Chile definiu voto na mudança à primeira volta

Chile definiu voto na mudança à primeira volta
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Uma candidata é de esquerda, a outra de direita. A primeira quer enterrar para sempre a herança de Pinochet. A segunda reivindica-a.

Filhas de generais da Forca Aérea chilena, Michelle Bachelet e Evelyn Matthei, brincavam juntas. No golpe de 1973, de Pinochet contra Salvador Allende – o primeiro socialista eleito presidente no mundo, o pai de Bachelet morreu torturado na cadeia. O pai de Matthei integrou a Junta Militar. Quarenta anos depois do golpe, as duas mulheres estão de lados opostos

Bachelet, presidente do Chile entre 2006 e 2010, e Evelyn Matthei, ex-ministra do Trabalho, vão enfrentar-se na segunda volta, no dia 15 de dezembro.

A candidata de esquerda, conseguiu cerca de 47% dos votos, enquanto a conservadora se ficou pelos 25%.

A reforma da Constituição é um das primeiras mudanças que pretende Bachelet, para poder, depois, acudir a todos os setores que necessitam de mudanças.

Michelle Bachelet, candidata presidencial:

- Vamos iniciar o processo de revisão constitucional. Queremos uma Constituição que interprete a modernidade, que consagre a ideia de um Estado social de direitos e garanta o exercício desses direitos para os cidadãos e cidadãs.
A mudança mais transformadora e profunda que nos cabe fazer, é a reforma educacional, uma reforma que assegure uma educação pública de qualidade, gratuita, sem lucro e integradora, na convicção de que a educação é um direito social e não um bem de consumo”.

Promessas que os estudantes exigem, há muito tempo, nas ruas. Mantêm a pressão para não terem de se endividar para estudar na Universidade.

No Chile, a ditadura privatizou a água, o cobre, a saúde e a educação. O país tornou-se exemplo dea economia com sucesso na América Latina: não tem inflação, reduziu a pobreza, atraiu investimentos e continua a crescer. Mas tem um dos maiores índices de desigualdade da região. E a principal preocupação da classe média emergente é reduzir a brecha social.

Perto de 28% dos votos foram de candidatos contra o governo, que, na segunda volta, devem votar em Bachelet ou optar pela abstenção.
Assim, tudo leva a crer que a futura presidente possa fazer as reformas constitucionais de que o país tanto precisa na área da educação de qualidade e gratuita para todos. Mas, antes tem de conseguir o apoio do Parlamento. A Constituição de 1980, redigida na era Pinochet, torna quase impossível qualquer mudança no sistema sem a maioria no Hemiciclo.

Para analisar os resultados da primeira volta das presidenciais chilenas, temos Marta Lagos em Santiago do Chile.

A senhora é analista política e fundadora do Barómetro Latino, financiado por ONG’s internacionais. Os chilenos vão regressar às urnas no dia 15 de Dezembro, pois a votação em Michelle Bachelet não foi conclusiva ontem – ficou a três pontos da presidência.

Pode dizer-se que foi uma amarga vitória para Bachelet e uma doce derrota para Evelyn Matthei?

Marta Lagos – Eu diria que foi uma derrota “estridente” para a direita chilena que, depois de apenas um governo de alternância devolve o poder à coligação que lhe tirou o poder. A direita escolheu mal os candidatos, nomeadamente os radicais que participaram no governo de Pinochet. De certo modo há uma derrota “da direita de inspiração em Pinochet” e uma grande viragem ao centro

BB, euronews – Nenhuma das duas candidatas poderá contar com o apoio dos que ficaram para trás. Será isto causa para mais polarização na segunda fase da campanha eleitoral?

Marta Lagos . O grande problema da segunda fase da campanha eleitoral é a convocatória dos eleitores. Ontem, vimos que apenas 49 por cento de eleitores votaram; foi a mais baixa participação eleitoral, desde os anos 90, no Chile e foi a participação mais baixa na região, desde que se realiza o processo de reinauguração da democracia. Estamos a tocar o fundo, no sentido da representação política. O que está em jogo é construir uma democracia que permita convocar os participantes, os cidadãos. A lei binominal*, criada no tempo de Pinochet, não permite o sistema representativo e é isto que está em questão nestas eleições.

euronews – Precisamente, nestas eleições, Michelle Bachelet propõe aos chilenos uma série de reformas que permite mudar a constituição herdada da didatura, um aumento dos impostos às grandes empresas e uma educação gratuita e de qualidade. A sua coligação de centro-esquerda Nova Maioria pode contar com apoios suficientes no parlamento para as reformas?

ML – Sim. A Nova Maioria ganhou mais 20 deputados e cinco senadores, conseguindo os quatro sétimos necessários para efetuar as reformas. Faltam-lhe, ainda, dois senadores, ou três, dependendo de como os contam, para poder fazer a reforma constitucional. Tem os votos suficientes da Câmara Baixa, mas não os tem na Câmara Alta – faltam-lhe dois ou três votos. Mas ontem, os que votaram, fizeram-no por uma mudança, para a transformação. Essa mensagem ficou muito clara nas eleições legislativas ontem e deram um parlamento extremamente forte à presidente, para fazer as transformações.

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euronews – Também entraram vários líderes estudantis no parlamento, não foi?

ML – Sim, entraram quatro líderes estudantis do Movimento Estudantil 2011, alguns foram eleitos com uma maioria contundente… o movimento estudantil tem uns 87% de legitimidade entre a população em geral, o que lhe dá muita força para a reforma da Educação que agora é o único problema que resta. E agora que estamos uma conjuntura baixa, em que o cobre baixou de preço, o Chile terá, provavelmente, que se endividar para estrurar e aplicar esta reforma. Mas como não temos dívidas, não temos dúvidas de que nos concedem o crédito.

*O sistema binominal foi posto em prática para garantir a estabilidade política na era de Pinochet. Os candidatos dos partidos e independentes reagrupam-se em listas ou coligações. cada lista propõe até dois candidatos por região eleitoral, província ou comuna. Os votos são contados por lista.

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