A segurança, a migração e o aumento da retórica da linha dura marcam uma eleição profundamente polarizada no Chile. Entre candidatos de extremos ideológicos e um clima de medo do crime organizado, os chilenos votam este domingo em eleições que podem redefinir o rumo da política.
No domingo, 16 de novembro, os chilenos vão às urnas para eleger o sucessor do presidente Gabriel Boric, que está impedido de se candidatar à reeleição imediata por proibição constitucional.
A votação decorre num clima de forte polarização e com a segurança a ser a principal preocupação dos cidadãos, deixando para segundo plano os debates económicos e sociais que marcaram as eleições anteriores.
Durante décadas, o Chile foi considerado um dos países mais seguros da América Latina e, embora a sua taxa de homicídios - 6 por 100 mil habitantes em 2023, de acordo com o Banco Mundial - permaneça baixa em comparação regional, o país tem enfrentado um aumento constante do crime organizado transnacional. Desde 2021 que sequestros, extorsão, assassinatos por contrato e roubos violentos atribuídos a gangues como o Tren de Aragua mudaram a perceção de segurança.
Quem são os principais candidatos?
As sondagens colocam em primeiro lugar a comunista Jeannette Jara, o extremo-direita José Antonio Kast e o libertário radical Johannes Kaiser, os três com discursos centrados na luta contra a criminalidade e no controlo da imigração.
Jara, antiga ministra do Trabalho e única representante da coligação "Unidade pelo Chile", já fez história ao tornar-se a primeira comunista a liderar uma candidatura unificada de esquerda.
A candidata promete reforçar a polícia, construir novas prisões e dar continuidade às políticas de segurança promovidas pelo governo de Boric, incluindo a criação do Ministério da Segurança e de novas unidades especializadas contra o crime organizado.
O discurso anti-imigração ganha terreno
No outro extremo, Kast, que esteve perto de vencer em 2021, aposta num discurso duro contra a migração irregular, propondo o alargamento das fronteiras reforçadas, deportações maciças e maior presença policial.
A surpresa destas eleições tem sido Johannes Kaiser, um libertário radical que ganhou terreno com uma retórica incendiária e uma estética inspirada em Donald Trump: bonés "Make Chile Great Again", bandeiras, música ruidosa e discursos contra os migrantes e as organizações internacionais.
Da explosão social ao medo e insegurança
Quatro anos após a explosão social de 2019, os traços do movimento ainda estão presentes, mas o foco da agitação cidadã mudou. O que antes era um protesto contra a desigualdade está agora a transformar-se numa fúria contra o crime e a imigração irregular.
Os analistas apontam que os jovens, cerca de 25 por cento dos eleitores, serão decisivos. "Para este grupo, a credibilidade e os resultados concretos são importantes", disse o cientista político Guillermo Holzmann à AP, o que leva os votos para os extremos.
Com 15,7 milhões de cidadãos convocados para votar e o sufrágio obrigatório, o Chile prepara-se para uma das eleições mais tensas das últimas décadas.
As sondagens sugerem que nenhum dos candidatos atingirá os 50% necessários para evitar uma segunda volta, a segunda volta das eleições de 14 de dezembro entre Kast e Jara parece ser o cenário mais provável.
Para muitos eleitores, a questão central já não é o modelo económico ou as reformas sociais: é a segurança. E as eleições deste domingo poderão alterar profundamente o mapa político chileno.