Sistema eleitoral húngaro feito à medida de Orban

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O primeiro-ministro conservador populista, Viktor Orbán, conseguiu mais quatro anos de mandato para governar a Hungria. A vitória obtida pelo Fidesz e o aliado democrata cristão, já era esperada por todos. A verdadeira questão era, principalmente, saber se a aliança ia conservar a maioria de dois terços, no parlamento.

No discurso da vitória, no domingo à noite, Viktor Orbán afirmou que esta não foi uma vitória ocasional, teve um significado que ninguém pode minimizar.

A profunda reforma do sistema eleitoral teve um efeito espetacular no escrutínio. A reforma foi concebida e aplicada unilateralmente pelo Fidesz, em 2012. Deixa de haver segunda volta, o número de deputados passa de 386 para 199, mas foi a divisão das circunscrições que diluiu o voto da esquerda. O sistema eleitoral foi feito à medida de Viktor Orbán, para ele continuar no poder.

Comparando com as precedentes eleições, observa-se que o Fidesz ganhou estas legislativas, mesmo com piores resultados do que em 2002 e 2006, anos de derrotas eleitorais. Este ano, apesar de uma baixa de 8%, a vitória e o domínio do Parlamento não lhe escaparam.

O outro vencedor do escrutínio é Jobbik. O partido de extrema-direita, abertamente antissemita e de ideologia fascizante recolheu os frutos de uma campanha eleitoral de diabolização, com um discurso mais polido, pelo menos na aparência.

Quase com 17% em 2010, Jobbik ultrapassou os 20% nestas eleições. Fundado há 11 anos e com Gabor Vona como líder, o Jobbik reivindica o estatuto de partido radical nacionalista mais forte da União Europeia, o que ele pretende mostrar já nas eleições europeias previstas para o fim de maio.

O bom resultado da direita também se deve à fraca oposição da esquerda. Os diferentes partidos uniram-se tarde e a união foi uma fachada. O sistema eleitoral já era desfavorável, mas a esquerda não soube propor uma alternativa convincente para os húngaros mudarem de opinião durante a campanha eleitoral.

Não é certo se o Fidesz vai conseguir manter a maioria de dois terços no parlamento já que nem todos os votos foram contabilizados. Independentemente do resultado final, o partido conseguiu com os cerca de 45 por centos dos votos e com as alterações à lei eleitoral aproximar-se da barreira dos dois terços.

Euronews: O analista Peter Kreko está nos estúdios em Budapeste. Pergunto que conclusões podemos tirar das alterações à lei eleitoral. Será esta uma faca de dois gumes para o Fidesz?

Kreko: “ Tudo o que podemos dizer é que a reforma da lei eleitoral funcionou muito bem para o Fidesz. O partido conseguiu com uma maioria relativa segurar dois terços ou perto de dois terços no parlamento. Não me parece que venham a ter qualquer problema nesse sentido no futuro.”

Euronews: A grande surpresa destas eleições foi a extrema-direita do Jobbik, que conseguiu mais de 20 por cento dos votos, mas o partido não se mostrou muito satisfeito. Acha que esperava mais?

Kreko:” O ambiente na sede do partido não era o melhor, embora 20 por cento dos votos seja um excelente resultado. Subiram quatro pontos percentuais em relação às ultimas eleições. Algo nunca antes conseguido e isto pode ajudar a mobilizar o eleitorado para as eleições europeias em maio. Acredito, por isso, que podem fazer melhor e conquistar 25 por cento dos votos.”

Euronews: Viktor Órban disse, este domingo, que os húngaros decidiram, através do voto, ficar na União Europeia, mas que é preciso ter um governo forte. Como encara estas palavras? Será este o início da campanha para as europeias?

Kreko: “É sem dúvida o início. É preciso ter em conta que o Fidesz é um partido, em parte, eurocético que critica a União Europeia, mas que quer, ao mesmo tempo, continuar no seio dos 28. Por outro lado, o Jobbik que, até agora, queria abandonar a União Europeia pode ter mudado de retórica já que a maioria dos seus novos apoiantes pode não apoiar a secessão.”

Euronews: O que podemos esperar dos próximos quatro anos tendo em conta que o resultado parece dar força à política económica pouco ortodoxa em curso? Acredita que, ainda, há espaço para novas reduções na fatura energética?

Kreko: “O principal problema do governo são as elevadas expetativas criadas pela população com a redução das faturas de energia e não vai ser fácil manter este patamar. Penso que o mais importante é saber se esta política económica pouco ortodoxa vai atrair ou não investimento depois de quatro anos a rumar em sentido contrário, num quadro legal incerto com impostos elevados para os bancos e para as multinacionais. Penso que nos próximos anos o desempenho da economia vai estar perto da estagnação e isso não ajuda à popularidade.”

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