Espanha: O discurso do Rei

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Juan Carlos exerceu o último ato oficial como monarca quando, esta quinta-feira, 19 de junho, colocou em seu filho a faixa vermelha de capitão general, a mais alta patente militar em Espanha. Não quis estar presente na proclamação de Felipe VI, nas Cortes Gerais, para ceder o protagonismo e transmitir a intenção de renovar a monarquia. Mostra também que aceita o repto dos espanhóis, que pedem uma instituição mais próxima do povo, mais transparente.

Ao todo, 120.000 bandeiras espanholas engalanavam o trajeto do Rolls-Royce fechado, opção escolhida por motivos de segurança, em que Felipe e Letizia fizeram o percurso até ao Congresso dos Deputados, tendo a princesa das Astúrias, Leonor, seguido na segunda viatura do cortejo.

Já como monarca, Felipe agradeceu a Juan Carlos e Sofia:

“É com emoção que quero prestar uma homenagem de gratidão e respeito a meu pai, o rei Juan Carlos I. Permitam-me ainda agradecer a minha mãe, a rainha Sofia, toda uma vida de trabalho impecável ao serviço dos espanhóis (…)”.

“Hoje, mais do que nunca, os cidadãos pedem, com razão, que os princípios morais e éticos sejam um exemplo e inspirem a vida pública. Estas são convicções sobre a Coroa que represento a partir de hoje. Uma monarquia renovada para uma nova era (…)”

“Cervantes disse, pela boca de Dom Quixote: tu não és um homem melhor do que outro se não fizeres melhor do que o outro. Sinto um imenso orgulho nos espanhóis e nada me dará mais prazer que, graças ao meu trabalho, também os espanhóis se sintam orgulhosos do seu novo rei. “

Felipe VI agradeceu nas quatro línguas de Espanha: basca, galega, catalã e castelhana.

Para analisar o discurso do rei, o primeiro de Felipe VI enquanto monarca, conversámos, em Barcelona, com o especialista em comunicação política, Antoni Gutiérrez-Rubí.

Franscico Fuentes, euronews: Antoni, o que pensa do discurso?

Antoni Gutiérrez-Rubí: O discurso estava muito elaborado e muito bem preparado. Felipe VI teve tempo para cuidar dos detalhes e estabeleceu, eu diria, três grandes princípios:

O primeiro: submeteu-se, como não podia deixar de ser, ao Parlamento e aos poderes públicos. O que quer dizer que é uma monarquia constitucional e uma monarquia parlamentar.

Em segundo: o da exemplaridade. Comprometeu-se a comportar-se de forma a que os cidadãos se sintam orgulhosos e bem representados, no aspeto moral e ético, pelo chefe de Estado.

E o terceiro princípio é que oferece uma imagem da modernidade em toda a sua plasticidade.

euronews: Se tivesse que dar-lhe uma nota… Chumbado? Aprovado? Bom? Excelente?

A. G.-R.: Creio que, hoje, Felipe VI se saiu bem, aprovado, quase Excelente. Cumpriu bem a sua missão.

Mas continua a haver algo… como se não conseguisse seguir o fio deixado pelo pai, em dezembro, quando o rei falara da “necessidade de atualizar os quadros de convivência.”

Felipe VI não falou de transição, nem sequer falou do espírito de transição. Não abriu a porta a uma segunda transição. E, no entanto, os problemas de fundo da sociedade espanhola reclamam um marco constitucional mais atual, que inclua, também, seguramente, uma reflexão sobre o nosso modelo de Estado. E isso continua pendente.

euronews: Entre as ideias-chave do discurso, encontramos a defesa da monarquia parlamentar e da unidade ou mesmo da uniformidade nacional. Em termos práticos, que significa isto?

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A. G.-R.: Formalmente, não há mudanças. O que há são aspetos em que parece mostrar uma maior sensibilidade ao pluralismo. Como quando disse que queria escutar, compreender, tomar notas e eventualmente aconselhar-se; centrar um pouco a monarquia nesta capacidade de escuta, de compreensão e de identificação com a cidadania e com o povo espanhol. Parece-me um gesto interessante, no sentido de um monarca mais sensível – não apenas às unanimidades mas também às diversidades.”

euronews: Nesse sentido, fez referência às pontes para o diálogo, representadas pelas línguas co-oficiais. Citou Machado, Espriú, Castelao e Aresti. E despediu-se em catalão, galego e ‘euskera’ (basco). Isto o quê traduz?

A. G.-R.: Creio que temos de atualizar a forma de reforçar, proteger, considerar e respeitar as línguas que, como o próprio rei disse, são património de todos.

Isto necessita atualização política, novas práticas e algumas reformas normativas – como, por exemplo, o regulamento do Congresso dos Deputados.

euronews: Perante esta mensagem de Felipe VI, que lugar têm agora aqueles que propõem uma forma de Estado diferente?

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A. G.-R.: Este discurso – e, em geral, todo o processo que vai desde a abdicação até à proclamação – foi um cuidado e elaborado anúncio publicitário sobre os benefícios da monarquia. Um anúncio para o qual, de certa, contribuímos: meios de comunicação, analistas, comunicadores e até as próprias instituições.

Mas os problemas continuam lá, e o rei reina mas não governa, e é às forças políticas maioritárias que cabe resolver os problemas que estão pendentes.

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