Aparentemente, foram ultrapassadas as divisões surgidas quando a Jordânia decidiu integrar a coligação internacional, mas o apoio ao "Estado Islâmico" pode voltar a crescer substancialmente a qualquer
A morte do piloto jordano Moaz al-Kasasbeh, queimado vivo pelos energúmenos do autoproclamado Estado Islâmico, uniu parte da Jordânia na luta contra o terrorismo.
Basta olhar para os milhares que desfilaram pelas ruas de Amã, na sexta-feira, para ver que o país apoia o rei Abdullah II. Aparentemente, foram ultrapassadas as divisões surgidas quando a Jordânia decidiu integrar, no ano passado, a coligação internacional, liderada pelos Estados Unidos, que prepara neste momento um “importante ataque terrestre” contra os extremistas.
Foi durante um dos raides aéreos da coligação que o piloto jordano foi abatido e capturado. Abdullah prometeu vingança e já executou dois jihadistas.
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O apoio à barbárie desvanece. Exemplo: em Maan, próximo de Petra, onde a bandeira do “Estado Islâmico” desapareceu entretanto das ruas e os grafítis de apoio aos radicais foram apagados.
A cidade, perdida no meio do deserto, forneceu vários militantes aos extremistas. A miséria e a revolta contra a indiferença do poder central tornam difícil estancar o fluxo para as fileiras do jihadistas.
Quem partiu e conseguiu regressar, conta quase sempre a mesma história: “o que aconteceu na Síria”, a forma como Assad tentou aniquilar a revolta, levou muitos a juntarem-se às fileiras da Frente Al-Nusra, o braço da Al-Qaida na Síria, ou a integrar o contingente do “Estado Islâmico”.
Dizem que foram para a jihad “em nome de Alá”. Alguns, apoiam a imposição da sharia (lei islâmica). São quase todos jovens sem perspectivas de futuro, pouco alfabetizados e que se sentem abandonados pelo poder. Tornam-se presas fáceis da demagogia dos extremistas, que lhes prometem um futuro mais justo, inúmeros prazeres depois da morte, e lhes dão um sentimento de pertença.
Em Maan, o apoio ao Estado Islâmico é menos visível, mas pode voltar a crescer substancialmente a qualquer momento.
Os problemas de fundo permanecem, a população terá sempre tendência a seguir quem lhe dê de comer.
“Existem problemas graves e profundos na Jordânia, especialmente de natureza económica, mas também políticos e sociais. Se estes problemas não forem resolvidos, a Jordânia continuará a ser um terreno fértil de recrutamento para os jihadistas. O número dos que apoiam os extremistas tem crescido. Antes da chamada “Primavera Árabe seriam à volta de 4000. Hoje, serão cerca de 9000”, explica Hassan Abu Haniyeh, perito em movimentos islâmicos.
Dos 9000 mil que, na Jordânia, apoiam o autodenominado Estado Islâmico, estima-se que cerca de 2000 estejam a combater na Síria e no Iraque. Não parece um número muito grande, mas a Jordânia tem apenas perto de 6,5 milhões de habitantes.