Um convite dos republicanos ao primeiro-ministro israelita, para discursar no Congresso, sem a devida reparação articulada com a Casa Branca foi o
Um convite dos republicanos ao primeiro-ministro israelita, para discursar no Congresso, sem a devida reparação articulada com a Casa Branca foi o suficiente para fazer perder o sangue frio a secretários de Estado e assessores, que não poupam críticas sobre este assunto.
Desde o anúncio de que Benjamin Netanyahu iria falar ao Congresso, apenas duas semanas antes das eleições em Israel, a equipa do presidente norte-americano mostrou-se coesa e condenou em bloco. Em primeiro lugar, porque o primeiro-ministro israelita foi convidado pelo presidente da Câmara republicano John Boehner, e em segundo, porque se imiscui na diplomacia da administração norte-americana, que prepara, com desvelo, o acordo com o Irão.
A exprimir-se no Congresso americano, sobre o Irão, Nethanyahu pisa uma linha vermelha que não devia ter pisado e coloca as relações bilaterais de Israel e Estados Unidos, à prova.
A tensão é palpável e a Casa Branca já não trata o assunto “com pinças”, como foi o caso da qualificação de Susan Rice, assessora do presidente norte-americano: “esta visita tem um efeito destrutivo”.
A controvérsia eclodiu no momento em que se desenham os contornos de um possível acordo sobre o programa nuclear iraniano, que envenena as relações internacionais há mais de uma década.
Para Obama, este acordo com Teerão garante que a República Islâmica não vai tentar obter armas nucleares, e contribuzi para o balanço positivo da política externa do presidente dos Estados Unidos.
Pelo seu lado, Netanyahu, que está a fazer tudo contra a conclusão do acordo, que classifica de perigoso, afirma que “repeita a Casa Branca e o presidente dos Estados Unidos mas, num assunto tão grave, é um dever fazer tudo pela a segurança de Israel.” Um choque devastador contra a diplomacia americana, com o beneplácito da oposição dos republicanos.
O dossiê nuclear iraniano
O secretário de Estado norrte-americano, John Kerry, já explicou (na Comissão da Câmara dos Representantes) que o apoio ao Estado Israel não invalida que Netanyahu tenha feito um erro de julgamento sobre o dossiê nuclear iraniano. http://pt.euronews.com/2015/02/24/israel-tera-distorcido-informacao-sobre-nuclear-iraniano/
Na verdade, o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, foi desmentido pelos próprios serviços de informações, já em 2012, quando declarou que o Irão estava a um ano de distância de se dotar da bomba atómica, segundo documentos secretos divulgados agora.
As mensagens disponibilizadas por um diário britânico e por uma televisão do Qatar, provêem de trocas entre os serviços de informação sul-africanos e os homólogos estrangeiros, como a Mossad israelita, a CIA norte-americana ou o MI6 britânico, entre 2006 e dezembro de 2014.
Uma destas trocas de correspondência põe em causa a intervenção de Netanyahu na tribuna da Organização das Nações Unidas, em 2012. Na ocasião, o chefe do Governo israelita exibiu um cartaz, com uma bomba em vias de explodir, para ilustrar o que pretendia ser o seu alarme pelo alegado estado avançado do programa nuclear iraniano.
Reivindicando basear-se em informações da Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), Netanyahu garantira que, a partir do verão de 2013, “o mais tardar”, o Irão só precisaria de alguns meses para obter suficiente urânio enriquecido para a sua primeira bomba”.
Algumas semanas mais tarde, a Mossad concluiu, em relatório recebido pelos serviços sul-africanos, em 22 de outubro de 2012, que o Irão “não tinha a atividade necessária” para a produzir.
O Irão “não parece estar pronto para enriquecer urânio a um nível suficiente para produzir bombas nucleares”, especificou o documento.
A publicação destas mensagens secretas ocorre antes do discurso de Netanyahu, essencialmente sobre o Irão, a 3 de março, no Congresso dos EUA, intervenção que incendeia mais a polémica nos EUA como em Israel.
Netanyahu falará ao Congresso contra o acordo em discussão em Genebra, entre o Irão e o chamado grupo 5 + 1 (os EUA, Rússia, China, França, Grã-Bretanha e Alemanha).
O primeiro-ministro, em campanha para as legislativas de 17 de março, receia que os EUA assinem um acordo demasiado favorável ao Irão.
No domingo passado, deplorou que o “terrorismo nuclear” de Teerão “não tenha impedido a comunidade internacional de continuar a negociar um acordo nuclear com o Irão, que lhe vai permitir construir a capacidade industrial de que precisa para desenvolver armas nucleares”.
O Guardian revela também que o MI6 e outros “serviços aliados” pressionaram para bloquear a venda de equipamento, entre fim de 2007 e início de 2009, de uma empresa sul-africana a uma iraniana, suspeita de envolvimento no programa de mísseis balísticos iranianos.
A empresa sul-africana, Electric Resistance Furnaces (ERFCO), fechou as portas depois de o contrato, de valor calculado entre 500 mil (441 mil euros) e um milhão de dólares (882 mil euros), ter sido anulado.
Os serviços de informações britânicos consideram que a venda teria permitido aumentar de modo significativo a capacidade do Irão de produzir mísseis balísticos, “alguns dos quais poderiam transportar ogivas nucleares”.
Eleições em Israel
A visita de Benjamin Netanyahu aos Estados Unidos, com ênfase para o tema do poder nuclear iraniano tabém visa seduzir o eleitorado israelita, que vota em legislativas antecipadas no dia 17 de março.
Netanyahu demitiu os ministros das Finanças e da Justiça, acusando-os de boicotar o seu governo, o que levou à marca4ão das eleições antecipadas.
O episódio pôs fim à coligação que governa Israel desde o início de 2013, já que, com a saída dos dois ministros, o governo perdeu a maioria de 68 deputados que detinha no parlamento.
Para formar uma nova maioria, Benjamin Netanyahu já deu indicações de que pretende renovar a aliança com os partidos ultraortodoxos, atualmente na oposição, mas considerados “aliados naturais” do Likud, partido de direita até agora no poder.
A oposição avançou que poderá formar um bloco contra uma nova coligação liderada por Netanyahu.
De momento, o que preocupa Israel é a tensão que o primeiro ministro está a provocar nos Estados Unidos. www.rtp.pt/noticias/index.php?article=803109&tm=7&layout=121&visual=49
Barack Obama já deixara claro que não iria receber Netanyahu aquando da visita aos EUA, para não interferir no ato eleitoral em Israel. Daí ao mal-estar generalizado entre os democratas perante a possibilidade de Netanyahu se dirigir ao Congresso sem que o Presidente Barack Obama e a Administração tenham sido ouvidos foi um instante. E a questão acabaria inevitavelmente por ser aproveitada pelos adversários internos de Netanyahu – que acabara de sofrer um revés na imagem externa quando teve de impor a sua presença na manifestação de Paris, depois de o convite lhe ter sido retirado pelo Presidente Hollande. Os líderes do Zionist Camp tomaram a iniciativa.