Fim do bipartidarismo espanhol; nova era da cidadania nas instituições

Fim do bipartidarismo espanhol; nova era da cidadania nas instituições
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De  Maria-Joao Carvalho com Paco Fuentes, El País, TSF, El Mundo, agência de notícias catalã
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A ativista Ada Colau é a nova presidente da Câmara de Barcelona. Mãe de um rapaz de três anos e casada com um economista, apresenta-se praticamente

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A ativista Ada Colau é a nova presidente da Câmara de Barcelona.
Mãe de um rapaz de três anos e casada com um economista, apresenta-se praticamente como uma “vizinha do lado”. Uma proximidade que a colocou no poder, vencendo a batalha contra Golias, como a própria afirmou.

Queréis ver POLITICA en mayusculas? Foto del backstage de la noche de ayer. Sin cuidados no hay victoria posible ♡♥ pic.twitter.com/vMdohTaIrr

— Ada #BcnEnComú (@AdaColau) May 25, 2015

A lista “Barcelona en Comú” integra o “Podemos”, Catalunya Verds (ICV), Esquerra Unida, Procés Constituent e Equo, por siso mesmo a vitória vai custar algumas divisões e partilhas, para governar. Mas por enquanto, é tempo de festa.

Se, por um lado, o voto está fragmentado, por outro, mostra ter sido um voto claro e forte da cidadina contra a crise e as consequências na vida da população.

Alda Colau vai ser a primeira mulher a ganhar a Câmara da capital catalã e vai liderar o governo municipal com 11 parceiros da coligação, deputados muncipais. A sua militância e forte carácter mostram, como ela afirma, que ganhou a esperança contra a resignação e o medo via @el_pais.
Ganhou uma pessoa real contra um personagem qualquer da vida pública, “a vizinha do lado”, como chamou o El País.

Ada Colau:

- Estou convicta de que estamos a terminar um ciclo, depois de décadas de bipartidarismo, de partidos que têm governado com maioria e dominam a cena política, mas nos quais os cidadãos votam por quatro anos sem, na realidade, decidir nada.

O objetivo de Ada Colau é o de fazer de Barcelona uma referência na revolução democrática. Pretende colocar em prática um plano de emergência contra a pobreza e criar um gabinete municipal contra a corrupção. Tornou-se conhcida quando formou a Plataforma de Afetados pela Hipoteca (PAH), que, como o nome indica, lutou incansavelmente para impedir o despejo de quem não consegue pagar a casa ao banco.

Ada Colau:

- A partir de hoje, 25 de maio, temos de mudar o modo como fazemos política, começando pela transparência, por saber tudo, absolutamente tudo, o que há nas adminsitrações, o que foi roubado, os postos de altos funcionários controlados pelos partidos políticos, é preciso meter tudo em ordem.

Até às eleições era responsável pela habitação no Observatório de Direitos Económicos, Sociais e Culturais (DESC) de Barcelona.

Durante a campanha eleitoral, deu primazia ao contacto directo com os cidadãos, consciente de que cada voto seria importante.
Para a Câmara leva uma equipa sem qualquer experiência municipal (que dizem ter sido um requisito da candidata) e a crença de que as crescentes desigualdades sociais são culpa dos presidentes anteriores.

É o momento da verdade. Ada Colau apareceu para ganhar as eleições e entrou na política para ficar .

Paco Fuentes, euronews:

- Muitos municípios e regiões de Espanha têm agora novas caras, pessoas que nunca imaginaram entrar na política. Depois das eleições é tempo de encetar o diálogo e chegar a acordos.

Para nos ajudar a interpretar os resultados das eleições locais e regionais em Espanha, procurámos na Fundação Ortega y Gasset, com o professor de Ciências Políticas da Universidade Autónoma de Madrid, Fernando Vallespín. Ele retem duas evidências:

Fernando Vallespín – Há aqui dois dados: um, é a perda espetacular do poder político do partido no governo, o Partido Popular, e o outro, o valor simbólico do sucesso em cidades como Madrid e Barcelona, destas plataformas de cidadãos que rivalizaram com os grandes partidos e que, no caso de Barcelona constitziram a primeira opção dos eleitores e em Madrid…quase.

Duas mulheres, uma ativista no terreno e a outra ex-magistrada de prestígio, lideraram duas listas sem rótulo partidário ao ponto de governarem as câmaras de Barcelona e de Madrid. Que têm elas em comum?

Fernando Vallespín – Tanto Ada Colau, que é um símbolo dos movimentos anti-sistema dos momentos mais duros da crise, Manuela Carmena, são pessoas que têm a capacidade de agregar pessoas que não têm forcosamente a mesma cor política, mas que representam esta nova sensibilidade que observamos em Espanha depois da crise económica.

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A enorme quota de poder territorial acumulada pelo partido de Mariano Rajoy desde as eleições de 2011 evaporou-se. Nem o envolvimento pessoal do líder na campanha, nem a retoma económica lhe valeram. Que consequências tem isto para o chefe do governo espanhol?

*Fernando Vallespín – Ou Mariano Rajoy muda radicalmente o discurso, e leva um número significativo de novos elementos para o governo, ou vai ser muito difícil para ele esta época até das eleições a nível nacional.
penso que o modo de fazer política se afundou, nomeadamente em Madrid e Valência, duas das grandes derrotas do Partido Popular nestas eleições, mas também noutros locais onde a corrupção é evidente.*

Os resultados confirmam a perda de poder dos dois grandes partidos, PP e PSOE, que, sozinhos, acumularam 70% dos votos no passado. Que relação de forças existe agora?

*Fernando Vallespín – Penso que os resultados clarificaram necessariamente o panorama político espanhol, pelo menos no que concerne o poder relativo detido pelos dois grandes partidos, em termos de impacto de votos.
Houve uma mobilização de esquerda mas que não se traduziu em aumento de votos em partidos como Podemos ou Cidadãos. Ou seja, o resultado foi revolucionário porque, antes, estes partidos não estavam nas instituições e a partir de agora estão. Mas o caminho foi discreto, como se viu nas sondagens.*

Por fim, que perspetivas haverá, nas regiões e cidades espanholas, onde não há uma que possa constituir um governo de maioria absoluta?

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Fernando Vallespín – Há uma contradição vivida pelos cidadãos espanhois, que vão observar à lupa a ação destes novos movimentos desde que eles façam as alianças, pois têm de fazer pactos, mas, por outro lado, os cidadãos desejam a governabilidade e, portanto, esses pactos. Os partidos não sabem bem como agir, pois há uma situação de certa instabilidade, sem dúvida, lógica mas que vai recompor-se depois das eleições de novembro, de certeza.

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