Nigéria: Depois do Boko Haram, a fome

Nigéria: Depois do Boko Haram, a fome
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O nordeste da Nigéria enfrenta uma das mais graves crises alimentares da atualidade. Em Maiduguri, os números de má-nutrição são alarmantes.

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O nordeste da Nigéria enfrenta uma das mais graves crises alimentares da atualidade. Mais de 50 mil pessoas correm risco de vida por falta de acesso à alimentação. Em Maiduguri, os números de má-nutrição ultrapassam em muito os níveis de alerta.

Quase 2 milhões de pessoas tiveram de abandonar as suas casas no nordeste da Nigéria devido à violência do Boko Haram. Cerca de 9 milhões de nigerianos vivem na penúria alimentar. Há mais de 2 milhões de crianças com menos de 5 anos em situação de má-nutrição e a necessitar de ajuda urgente.

Aid Zone - NigeriaOs muitos habitantes que fugiram do grupo extremista islâmico Boko Haram enfrentam agora uma outra ameaça: a fome. Centenas de milhares de nigerianos procuraram abrigo na cidade de Maiduguri, a capital do Estado de Borno. A ONG Alima abriu uma clínica em agosto com o apoio da União Europeia. Todos os dias, recebe cerca de 100 crianças com menos de 5 anos.

“Este bebé tem um 1 ano e 3 meses. Pesa 6 quilos, que é o peso de um bebé de 4 meses”, mostra-nos Margaret Otuya, coordenadora da Alima.

Dado o seu estado de saúde, o pequeno Abubaka vai ter de ser transferido para um hospital. Diariamente, a clínica recebe uma média de 7 crianças em situação de má-nutrição muito grave.

“No espaço de 3 meses, assistimos a mais de 6 mil casos de má-nutrição; cerca de mil apresentavam um quadro muito sério. É um contexto alarmante. Os problemas mais comuns têm a ver com infeções respiratórias, diarreias agudas e malária”, diz-nos Margaret Otuya.

“O problema alimentar pode tornar-se numa catástrofe”

A UNICEF lança o alerta: cerca de 75 mil crianças correm risco de vida caso não recebam assistência nos próximos meses. Perguntámos a uma especialista da Solidarités International se a situação que se vive neste momento no Estado de Borno é comparável ao que aconteceu no Biafra ou na Somália.

“A percentagem total de habitantes afetados por esta crise é claramente inferior à do Biafra ou da Somália. No entanto, os números são alarmantes. Em vários Estados, os níveis de má-nutrição estão muito acima dos limites. Por exemplo: no que diz respeito a crianças gravemente malnutridas, o limite é de 2% – mas, em alguns casos, atinge-se os 9%; em termos de má-nutrição em geral, o nível de alerta é de 10%, mas atualmente registamos 37%”, responde-nos Cécile Barrière.

De acordo com as Nações Unidas, há ainda mais 2 milhões de pessoas a viverem nas zonas controladas pelo Boko Haram, onde a assistência humanitária não consegue chegar. Os habitantes das localidades que vão sendo libertadas são encontrados em situação extremas. Antes considerada relativamente segura, Maiduguri começou a ser palco de ataques suicidas todas as semanas. Durante a nossa reportagem, houve três atentados num só dia. Os deslocados vivem em acampamentos improvisados, edifícios abandonados depois de bombardeados ou em comunidades de acolhimento.

“Chegámos há um ano. A minha aldeia fica a 70 quilómetros. O Boko Haram tentou raptar os meus filhos, por isso é que tivemos de fugir. Todas as famílias perderam alguém”, conta Zara Dalla.

Semanalmente, Zara leva a filha, Aisha, para ser observada na clínica da Alima. “Esta é a terceira semana que ela está a ser acompanhada. Tem 2 anos de idade. Quando chegou, tinha 7,8 quilos. Agora tem 8,2, portanto as coisas estão a melhorar”, explica-nos Margaret Otuya.

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#AidZone is back from #Maiduguri, where we featured the serious food crisis in North Eastern #Nigeria. pic.twitter.com/xC4i5YtUbI

— Monica Pinna (@_MonicaPinna) 19 novembre 2016

Zara recebe alimentos e água para distribuir pela sua família. O fornecimento de água e as condições de higiene são uma das prioridades em Maiduguri, onde estão a ser construídas várias instalações sanitárias e pontos de abastecimento.

“Temos 9 pontos de abastecimento de água por construir. A instabilidade está a agravar-se, por isso há mais pessoas a chegar. Acredito que os novos pontos vão aliviar as necessidades de muita gente”, afirma Almoustapha Garba, da Solidarités International.

O gabinete de ajuda humanitária da União Europeia foi dos primeiros intervenientes no terreno. Chegou em 2013 e já canalizou ajudas na ordem dos 75 milhões de euros. Segundo Isabell Coello, representante deste organismo, “em termos de desalojados, esta é a crise que mais rapidamente se está a agravar. O volume de necessidades sem resposta é gigantesco. O problema alimentar pode tornar-se numa catástrofe”.

Até agora, a Nigéria recebeu cerca de metade dos 484 milhões de dólares em ajudas do plano humanitário da ONU. Mas o montante foi duplicado nos mais recentes pedidos de fundos, face ao agravamento do contexto neste país.

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