Desemprego: A grande batalha dos sucessivos governos franceses

Desemprego: A grande batalha dos sucessivos governos franceses
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O desemprego esteve no centro da campanha para a eleição presidencial em França.

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O desemprego esteve no centro da campanha para a eleição presidencial em França. 9 anos após a crise financeira, atinge 10% da população ativa e um quarto dos jovens entre 16 e 25 anos.

O acesso ao mercado de trabalho dos jovens pouco qualificados foi uma das prioridades do mandato presidencial que agora termina. A última medida a ser aplicada foi a “garantia jovem” em experimentação desde 2015 e generalizada desde 1 de janeiro.

Estamos em Saint-Etienne, no sudeste de França. Nesta antiga cidade industrial de 172 mil habitantes, um quarto das famílias depende, em mais de 50%, das ajudas do Estado.

A Casa do Emprego é uma estrutura pública local que testa o sistema “Garantia Jovem” desde 2015.

A trabalhar a tempo parcial, Vanina Coutras, de 24 anos, procura um emprego a tempo inteiro.

“Aqui ajudam-nos. Dão-nos as mãos. Acompanham-nos praticamente à porta de um emprego. Somos bem acompanhados”, afirma.

O programa tem a duração de um ano e inclui quatro semanas de formação. Os jovens recebem um subsídio de 461 euros por mês.

Myrianne quer ser vendedora na área do pronto-a-vestir. Participar neste dispositivo torna-a proativa:
“Como somos obrigados a fazer prova da nossa procura de emprego, sou obrigada a sair de casa e ir à procura do emprego”, conta.

Mokhtar Boughari, que dirige a missão local de Saint-Etienne, explica os objetivos: “Nós temos em média, como objetivo, a entrada de 300 jovens neste dispositivo. A única finalidade é o acesso ao emprego. E o único critério para aceder à “Garantia Jovem” é a vulnerabilidade”.

Financiado pela Europa, este dispositivo ajudou 100.000 jovens no ano passado. Cerca de metade encontrou um emprego ou uma formação.

Para Thomas, a passagem da restauração às vendas, foi muito rápida:
“Ao fim de duas semanas, já tinha um contrato previsto e assinei. Assinei um contrato de três anos, um contrato de futuro, um contrato com o Estado”

Subvenções, exoneração de encargos sociais ou patronais, ajudas à formação, – o Estado multiplicou nos últimos anos as ajudas à contratação de jovens. O economista do trabalho, Damien Sauze fala de um balanço mitigado…

“O atual presidente foi eleito com um objetivo prioritário de luta contra o desemprego e, nomeadamente, o desemprego dos jovens. Implementou algumas reformas destinadas aos jovens, contratos de ajudas que, no princípio, ajudaram a limitar a progressão do desemprego nesta categoria da população. Mas o problema hoje não parece resolvido. Por isso estamos, de novo, nesta campanha presidencial, confrontados com este problema”.

Como no resto da União Europeia, as PME são as maiores empregadoras em França.Numa fundição de Saint Etienne trabalham 13 pessoas, as últimas cinco foram contratadas com ajudas. Pelo facto de ter margens de lucro muito baixas no negócio, o patrão,
Jacques Ledin, conta com elas:
“São ajudas muito importantes para as empresas, que permitem a progressão de um jovem até conseguir alcançar o contrato no quadro e mesmo, no futuro, ter ainda ajudas à formação. Eu acho este sistema muito interessante e gostaria que pudéssemos conservá-lo”.

Não se passa o mesmo nesta PME que fabrica meias de descanso e recuperação para desportistas de alto nível. Um mercado de nicho que produz margens de lucro confortáveis.

Desde 2007, o dono da empresa criou 35 empregos e formou os trabalhadores, tudo às suas custas.
As ajudas por tudo e por nada, irritam Salvatore Corona: “O responsável da empresa tem que ser um visionário, não raciocina em função do dinheiro que lhe dão, tem que raciocinar em função da estabilidade das ajudas. Para mim, de um ponto de vista económico e mesmo puramente contabilístico, a melhor maneira de criar emprego é reduzir os encargos sociais das PME. Se não se tem meios para contratar e financiar uma contratação durante três ou quatro anos, o melhor é não contratar. É muito perigoso”.

No orçamento de 2017, as despesas com os contratos de ajuda do Estado francês foram calculadas em 2,5 mil milhões de euros.

Pascal Le Merrer, economista: “A mundialização fragilizou a posição industrial francesa”

Pascal Le Merrer é membro do centro de reflexão “France Stratégie”, que trabalha para o gabinete do primeiro-ministro. Dá aulas na Escola Nacional Superior de Lyon.

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Anne Glemarec, euronews: Quais são os desafios para o próximo presidente, em termos de emprego?

Pascal Le Merrer: “É preciso, antes de mais, identificar bem as causas dos problemas do emprego. Se a mundialização fosse responsável pelos problemas do desemprego em França, sê-lo-ia também para todos os países europeus, porque a concorrência, por exemplo chinesa, seria a mesma na Alemanha, na Holanda, na Dinamarca… Por isso, o que fez a mundialização foi acentuar a fragilidade da posição industrial francesa. Em 15 anos perdemos cerca de 800 mil empregos na indústria. E há também um mito em torno da economia digital, da robótica, que diz que iríamos suprimir os empregos que pudéssemos substituir por autómatos. Quando se olha para o nível de robotização em França, relativamente à Alemanha, por trabalhador, estamos a cerca de três vezes menos. Se queremos realmente fazer baixar o desemprego, é preciso que todos os que chegam ao mercado de trabalho atualmente possam adaptar a respetiva formação ao longo de toda a vida ativa”.

euronews : O que se pode esperar do Estado?

P. M: “Nós temos um verdadeiro desafio europeu. Deveríamos melhorar a harmonização do mercado de trabalho europeu e isso é completamente realizável. Podíamos criar condições para que, desde que exista uma região fortemente atingida por problemas de emprego, a Europa pudesse tornar-se visível e agir imediatamente. Isso seria um sinal forte sobre o interesse de pertencer à União Europeia e seria eficaz. E depois, precisamos de uma visão a um longo prazo. Podemos ver que, na indústria digital, não marcamos grande presença e, entre a Ásia e a América, a Europa está, na minha opinião, um pouco frágil.
A União Europeia é, apesar de tudo, a mais importante região económica do mundo. No entanto, em termos de tecnologias criadoras de emprego, estamos atrasados. Por isso, temos aqui uma boa oportunidade para reforçar a construção europeia”.

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