Os franceses que se treinam para enfrentar o terrorismo

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Têm entre 18 e 40 anos e decidiram fazer um estágio de preparação militar para integrar a reserva operacional das forças de segurança francesas.

Há estudantes, profissionais liberais, empresários. Têm entre 18 e 40 anos e decidiram dedicar as férias da Páscoa a umestágio de preparação militar em Toulouse. Após duas semanas de treino intensivo, a maior parte dos estagiários passa a integrar a reserva operacional das forças de segurança. O número de voluntários em França aumentou exponencialmente.

“As mentalidades evoluíram. Isso é notório entre os jovens e os menos jovens, que decidiram consagrar o seu tempo à sociedade francesa e à proteção da população”, diz-nos o tenente-coronel Bernard Blondeau.

Uma vez reservistas, podem ser chamados entre 30 e 150 dias por ano. “Se acontecer alguma coisa, sou uma das pessoas que pode ajudar os outros a protegerem-se, posso intervir se houver necessidade de um socorrista. É o que estamos a aprender hoje, por exemplo”, afirma um estagiário, Philippe Delmas.

“Infelizmente, temos de aprender a proteger-nos”

O dia começou às 6 da manhã e só termina às 11 da noite. Mas motivação não falta. Entre reservistas, bombeiros voluntários e o benevolato em associações, estima-se que 1 em cada 5 jovens franceses tenha decidido ajudar uma causa após os atentados de 2015.

Nouveau schéma de formation initiale du #réserviste opérationnel Gendarmerie</a> <a href="https://t.co/VboMw6zWV4">pic.twitter.com/VboMw6zWV4</a></p>&mdash; Réserve Gendarmerie (ReserveGie) 7 de abril de 2017

Uma das alunas, Chloé Chiron, considera “importante haver jovens que partilhem os mesmos valores, valores que são muito importantes para a França. Porque é isso que forma uma sociedade. É por isso que estamos aqui”.

“As pessoas que cometeram os atentados são de origem magrebina. É a minha origem também, por isso senti-me ainda mais tocado. Quero mostrar às pessoas que não somos todos iguais, que não pensamos todos da mesma forma. Posso dedicar algum do meu tempo livre a ajudar os franceses, porque também eu sou francês. Sem qualquer problema. Dou o meu tempo livre”, explica-nos Najib Belkaci, outro estagiário.

Um dos instrutores avisa: “Aquilo que aconteceu no Bataclan e noutros lugares, como na Alemanha, pode acontecer outra vez amanhã. Tenho de vos dizer que, no final, alguns podem não voltar para casa. É preciso que tenham a noção disso!”.

Mas o estado de espírito aqui é precisamente esse: o de não ceder ao medo. Elodie Renaud-Lafage veio fazer o curso porque “a situação tornou-se quase psicótica. Toda a gente se pergunta quando é que será o próximo atentado, numa altura em que tudo isto acontece dentro do nosso próprio país e não sabemos como combater. Tudo o que podemos fazer é esperar. Infelizmente, temos de aprender a proteger-nos. É isso que pretendo nos dias de hoje”.

“Uma criança não nasce delinquente, nem terrorista”

Poucos dias depois das nossas filmagens em Toulouse, um novo atentado abalava Paris, em plenos Campos Elíseos. A presença de militares nas ruas francesas tornou-se habitual. Nas escolas organizam-se exercícios para simular possíveis ataques.

O filho de Latifa Ibn Ziaten foi a primeira vítima mortal de Mohamed Mehrah, que em 2012 assassinou 7 pessoas, entre as quais 3 crianças. Há 4 anos, Latifa começou a percorrer todo o país em ações de sensibilização com jovens.

“Quando somos frágeis, conseguem explorar-nos facilmente. E quando se apanha um jovem pode fazer-se tudo o que se quiser com ele. Vocês não podem cair na armadilha do Daesh. Confiem em vós próprios. Se confiarem, vão conseguir. As pessoas têm medo hoje em dia. Têm muito medo. Temos de dialogar. Temos de nos conhecer uns aos outros. E são os jovens que o têm de fazer, porque vocês são o futuro. A França de hoje é isto: toda esta mistura é uma riqueza”, declara Latifa.

Depois dos aplausos, Nehemie Dzabatou, um estudante do Liceu Fulbert, em Chartres, dizia-nos que “os conselhos que ela deu são importantes. Basta ver o exemplo do meu bairro: há muita gente que pára de estudar no secundário, porque acham que a escola não lhes dá nada. Depois, procuram um emprego, não arranjam, viram-se para a droga e acabam, muitas vezes, na prisão. Podem tornar-se terroristas, como ela nos disse. O discurso tocou-me muito porque eu próprio estive nessa situação, mas retomei o meu caminho com a ajuda dos meus pais”.

Para Latifa, “é a sociedade que pode iluminar o caminho, porque o Estado não vai avançar sozinho. A responsabilidade é repartida entre o Estado, a política local, as famílias, a escola, a sociedade, os media… Toda a gente é responsável pelos mais novos. Uma criança não se torna delinquente sem mais, nem menos. Não nasce delinquente, não nasce terrorista. As crianças são crianças”.

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