Clooney, Maoz e o ódio, em Veneza

George Clooney voltou ao festival de Veneza, no sábado, com “Suburbicon”, um filme sobre intolerância racial nos Estados Unidos.
O novo filme de Clooney inspirou-se na história verídica dos Meyer, a primeira família negra a instalar-se em Levittown, no estado da Pensilvânia, em 1957. Foram recebidos por 500 pessoas com bandeiras confederadas e cruzes em chamas do Ku Klux Klan. O sonho americano da “american way of life” não era afinal para uma família negra.
Clooney quis desconstruir a imagem falsa de uma época da história dos Estados Unidos que costuma ser apresentada, sobretudo por Hollywood, como um período de prosperidade e bem-estar.
“Este não é um filme sobre Donald Trump – é um filme sobre o facto de continuarmos confrontados à ideia de que nunca enfrentámos plenamente os nossos problemas raciais, apesar de termos tentado. Se for aos Estados Unidos, dependendo de que lado está face à questão, é hoje provavelmente o país mais angustiado que já conheci – e eu vivi no período de Watergate. Paira atualmente uma nuvem negra sobre nosso país”, explicou Clooney.
“Suburbicon” compete pelo Leão de Ouro e conta, no enlenco, com Matt Damnon e Julianne Moore.
O bode expiatório torna-se predador
Enquanto Clooney confronta a sociedade americana com a virulência do racismo, o israelita Samuel Maoz critica a militarização do seu país com “Foxtrot”, um filme sobre o medo e a desumanização.
“É compreensível o facto deste filme ser uma enorme alegoria. Não vou fazer-me ingénuo e dizer que não se trata de uma declaração política, claro que é. Mas é acima de tudo e antes de mais um filme universal”, disse Maoz.
Premiado com o Leão de Ouro em 2009 com “Líbano”, 90 minutos passados num tanque de guerra com quatro soldados israelitas numa aldeia libanesa destruída, em “Foxtrot” Maoz regressa à guerra recorrendo a uma linguagem grotesca e teatral para penetrar nas almas das personagens – um filho soldado num posto de controlo e os pais traumatizados pelo Holocausto, duas gerações alienadas.