Tudo o que precisa de saber sobre o referendo no Curdistão iraquiano

O que se passa no Curdistão iraquiano?
O Curdistão é uma região autónoma iraquiana que realizou um referendo esta segunda-feira, com o objetivo de tornar-se independente.
Porque é importante a realização do referendo?
Para alguns analistas, o eleitorado deverá apostar na independência. No entanto, tendo em conta a oposição de alguns dos vizinhos do Iraque, é de esperar tensão e instabilidade a nível regional.
Porque desejam os curdos viver num Estado próprio?
O povo curdo é originário de uma região montanhosa distribuída entre a Turquia, a Síria, o Iraque e o Irão. Desde a reconstrução geopolítica do Médio Oriente, os curdos nunca conseguiram um Estado próprio, vivendo de forma mais ou menos integrada em vários países. No entanto, tiveram alguma esperança nesse sentido durante o Tratado de Sevres de 1920, que aborda a questão de um Estado curdo, depois da Primeira Grande Guerra Mundial. No entanto, as disposições do Tratado nunca foram aplicadas.
Em 1946, os curdos tiveram direito a uma pátria eterna, que durou apenas 11 meses. A República Curda de Mahabad era situada em território que atualmente faz parte do Irão.
Em 1961, os curdos do norte do Iraque deram início a uma luta armada. Durante o período em que o Iraque foi governado por Saddam Hussein, os curdos sofreram ataques químicos, com a cidade de Halabja como alvo.
Na primeira metade dos anos 90, a rebelião que se seguiu à primeira Guerra do Golfo foi reprimida de forma violenta.
Posteriormente, a área curda foi reivindicando uma autonomia de facto , estatuto que se tornou oficial em 2005.
Porque deseja o Curdistão iraquiano autónomo a independência do Iraque?
Os curdos do norte do Iraque têm um parlamento próprio e gozam de autonomia legislativa em diversas áreas, como é o caso da educação.
No entanto, o Governo autónomo atravessa uma crise política e financeira. O presidente Massud Barzani insiste em manter-se no poder, numa situação que mais não faz do que agravar a instabilidade na região. A crise económica retirou ao presidente Barzani a legitimidade política e a ideia de lutar pela independência do país pode ajudá-lo a recuperar algum prestígio político.
A verdade é que os curdos do Iraque consideram-se como a parte menos valorizada do país, não só pela experiência histórica – especialmente durante a época de Hussein – mas também porque acreditam que o exército iraquiano é incapaz de protegê-los das ameaças dos jiadistas do autoproclamado Estado Islâmico ou Daesh.
Como Bagdade não colabora com as transferências de fundos para o Governo autónomo curdo, a população identifica o governo central como responsável pela crise.
Qual é a posição do Iraque?
Para o Iraque, o referendo de segunda-feira é inconstitucional e o sinal de que o país poderia vir a partir-se ao meio. A Turquia e o Irão temem que um Curdistão independente seja motivo para que se intensifiquem os desejos de independência nos seus territórios.
Os Estados Unidos são também contra a independência do Curdistão iraquiano porque preferem um Iraque forte e estável, capaz de lutar contra os jiadistas do Daesh.
Israel, por outro lado, assume a posição contrária. Telavive disse, de forma oficial, estar de acordo com a realização do referendo, algo que poderá dever-se às boas relações tradicionalmente mantidas pelos povos curdo e judeu.
Mas Israel poderá também ver num Curdistão independente e amistoso uma forma de destabilizar o Irão, que não reconhece a existência do Estado hebreu.
O que poderá acontecer?
O mais provável é que os curdos do Iraque votem a favor da independência, ainda que Bagdade se recuse a reconhecer o resultado, o que resultaria num Curdistão independente de facto.
Segundo os analistas, o tema divide a sociedade curda, no norte do Iraque. Se muitos culpam Bagdade por ter cortado os fundos ao Governo autónomo, outros dizem que é importante permanecerem integrados num Iraque capaz de lutar contra o autoproclamado Estado Islâmico.
A região autónoma do Curdistão iraquiano vive com uma dívida de milhões de euros e os salários dos funcionários públicos sofreram importantes cortes desde 2014.