Caso Skripal: Entrevista com antigo perito em armas da ONU

Caso Skripal: Entrevista com antigo perito em armas da ONU
De  Euronews com NBC NEWS
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A NBC News entrevistou Jerry Smith, que agora trabalha como consultor para situações de risco.

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O chamado caso Skripal, relacionado com o antigo espião russo e da filha, que foram encontrados inconscientes junto a um cento comercial em Salisbury, no sul de Inglaterra. deixa as autoridades do Reino Unido a braços com uma investigação que se adivinha longa e complexa. Em entrevista à NBC News, Jerry Smith, antigo inspetor de armas nas Nações Unidas e atualmente consultor para situações de risco, explicou de que forma poderá o ataque ter sido levado a cabo.

NBC News: Não temos a certeza sobre qual será o agente químico, mas quais são as opções possíveis?

Jerry Smith: Como foi dito pelas forças anti-terrorismo, poderá ter sido um agente nervoso. Os mais conhecidos são os chamados fosfatos orgânicos. São sintéticos e químicos e os primeiros foram produzidos na Alemanha, nos anos 30 - são os chamados agentes G. Funcionam ao interromper o funcionamento normal do sistema nervoso. O que acontece é que o corpo humano chega a um estado de sobrecarga, porque todos os nervos disparam ao mesmo tempo e não param. A pessoa começa a suar e com movimentos musculares em excesso, mesmo incontroláveis. E há uma eventual quebra na capacidade respiratória e mesmo na morte. Este principalmente deste tipo que se fala neste momento. Mas há outra possibilidade, num sentido mais abrangente de agente nervoso, um agente biológico, mas que também ataca o sistema nervoso. Temos exemplos desse tipo em venenos que podemos encontrar na natureza, em animais venenosos. São sobre esses dois tipos de agentes que nos debruçamos.

NBC News: O facto de que nenhum dos alvos nem o polícia morreram pode querer dizer que não foi administrada uma grande dose?

Jerry Smith: Neste momento, não podemos chegar a grandes conclusões. A polícia disse que houve tentativa de homicídio, o que nos permite pensar que havia intenção de matar. A forma como foi administrado o envenenamento, no entanto, implica que analisemos diferentes variáveis. Por exemplo, se foi através de comida, talvez não tenham comido tanto quanto se esperava, se foi através de aerossóis, se calhar estavam a expirar quando foram atingidos com o spray, há realmente muitas variáveis. É algo muito positivo, o facto de que as pessoas continuem vivas. E, quando recuperarem, talvez seja possível que a polícia possa entender melhor as circunstâncias do que aconteceu.

NBC News: Ao estar exposto a este tipo de agente nervoso, há a possibilidade de recuprar totalmente? Ou sofre-se de mazelas permanentes no sistema nervoso?`

Jerry Smith: A forma como funcionam os chamados agentes nervosos é um processo químico que se encontra no sistema do agente nervoso. Na interface entre o músculo e o sistema elétrico do sistema nervoso. É um processo químico que funciona rapidamente. É possível recuperar, o que depende da rapidez com que é administrado o tratamento. Mas há casos em que o tratamento pode ser feito de forma acelerada.

REUTERS
Sergei Skripal vivia no Reino Unido depois de ter passado 13 anos na prisão, na Rússia. Moscovo acusou-o de traição, por ter revelado o nome de vários agentes secretos a operar na Europa.REUTERS

NBC News: Sei que estamos a especular, mas é possível que um grupo criminoso tenha tido acesso a este tipo de subtância ou é mais provável que falemos de um Estado soberano?

Jerry Smith: É possível que grupo criminoso tenha tido acesso a esse tipo de substâncias, mas teriam de as ter roubado a algué- A produção é difícil. O que teoricamente e possível é que alguém com a formação razoável em termos de Química e Física produza o material ao ter acesso ao material necessário e às instalações para o fazer. Algo que seria realmente complicado. Por isso, pensamos mais numa organização de peso, uma organização ligada a um Estado. Se nos recordarmos do ataque no metro do Japão, nos anos 90, sabemos que aquela organização tinham infraestruturas e vastos recursos, milhões de dólares e mesmo assim não tiveram muito êxito naqueles ataques, especialmente se tivermos em conta a escala em que foram perpetrados. Por isso, a utilização e a produção de um químico de fosfato orgânico implicaria a existência de umna organização grande e bem equipada e com os recursos adequados, o que nos faz pensar num Estado soberano e não apenas num indivíduo ou grupo de indivíduos.

NBC News: Tem a Rússia um passado de produção deste tipo de armas?

Jerry Smith: Bem, vários Estados soberanos produziram este tipo de agentes no passado, como é o caso do Reino Unido. E é o caso do agente nervoso conhecido como VX. Há vários Estados. É uma tecnologia bastante madura, especialmente nas substâncias conhecidas como agentes G. E o número de países que os podem produzir é realmente grande. Mas, se falarmos de agentes produzidos com tecnologia de ponta , essa lista é mais reduzida.

NBC News: Explique-me o que nos dizia há pouco. A Rússia tem algumas armas químicas, mas não são armas tecnicamente ilegais?

Jerry Smith: No ano passado, a Rússia declarou que todas as armas químicas que possuía, que mostrou ao mundo, ao abrigo da Convenção Contra as Armas Químicas, que assinou em 1997, foram destruídas. Houve depois alguma especulação, nas últimas décadas, relativamente ao desenvolvimento de agentes nervosos, conhecidos como novishoks, agentes nervosos com capacidade superior aos agentes conhecidos, algo que a Rússia sempre negou. Algumas publicações científicas sugerem que houve investigação nesse sentido, mas e mesmo produzidas em massa. Um elemento que a polícia terá em conta na sua investigação.

NBC News: De acordo com as provas que conhecemos até ao momento, o facto de que sobreviveram pode ser porque foi administrado o agente com um spray e não colocado na comida ou em bebidas? E o facto de que um agente também foi contaminado.

Jerry Smith: Não me parece que isso queira dizer que as coisas se tenham passado dessa forma. O que podemos dizer é que o facto de que o polícia tenha sido contaminado com a mesma substância, esta poderá ter sido transmitida pelas vítimas ao agente enquanto comunicavam. O que nos poderia fazer crer que a substância se encontrava na pele ou na roupa das vítimas, em vez de ter sido ingerida . Mas não temos mais respostas neste momento.

NBC News: Apesar de que claro, tudo depender das doses, é normal que a vítima manifeste sintomas de forma imediata ou pode demorar algum tempo? Penso que, por exemplo, no caso do ataque no aeroporto malaio, a vítima ainda circulou no local antes de ser levada para o hospital.

Jerry Smith: O tempo de reação desde do momento em que a substância é administrada até ao momento em que a vítima manifesta sintoma tem a ver com muitas variáveis. Como foi administrada, a reação do corpo, a idade e o estado físico e condições biológicas da vítima. Só o tempo o dirá.

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