Será que Bruxelas e Budapeste estão em rota de colisão? A questão assume nova relevância a poucos dias das eleições parlamentares.
No domingo a Hungria vai a votos para escolher um novo primeiro-ministro. No entanto, olhando para os últimos quatro anos não é possível ignorar as tensões entre Budapeste e Bruxelas.
"Estes debates têm dado visibilidade à Hungria. (...) Cada um deve escolher de acordo com o seu temperamento"
Comissário europeu para a Educação, Cultura, Juventude e Desporto
Existem quatro questões que têm marcado os debates no país:
Imigração: a Hungria recusou-se a aplicar as quotas de migrantes e organizou um referendo que rejeitou as propostas;
O estado de direito: o Parlamento europeu iniciou o processo que pode levar à aplicação do chamado Artigo 7º;
A Hungria lançou uma campanha de cartazes exteriores subordinada ao tema "Vamos parar Bruxelas" assim como uma campanha contra o bilionário norte-americano George Soros;
A luta contra a corrupção. A agência anticorrupção da UE começou recentemente a investigar a utilização indevida de fundos europeus. Alguns dos casos sob investigação envolvem a família de Viktor Orban.
Perante este quadro, há quem defenda uma posição mais dura face ao regime de Budapeste.
O líder dos liberais, Guy Verhofstadt, quer aplicar o Artigo 7º contra a Hungria.
"No caso da Polónia já o fizemos, este caso pode ser apresentado ao Conselho Europeu com base no Artigo 7º. Creio que em última instância o mesmo tem que ser feito com a Hungria. Ainda mais quando estão a surgir vários casos de corrupção que envolvem fundos europeus. Não podemos continuar de olhos fechados", afirma Guy Verhofstadt, belga e eurodeputado liberal.
Para outros contudo, o crescendo de tensões entre a UE e a Hungria pode acabar por empurrar o país para as margens do continente
Um eurodeputado socialista húngaro, István Ujhelyi, receia que a Hungria possa acabar na periferia do bloco.
"O objetivo de Viktor Orban é sobrepor-se à União Europeia. É óbvio que ele não se atreve a perguntar aos eleitores sobre se querem deixar de ser membros da UE por isso vai deixar a maioria dos estados membros ultrapassarem-nos no quadro de uma Europa a duas velocidades", afirma o eurodeputado húngaro.
Dentro do PPE, a maior família política no Parlamento Europeu e que inclui o partido de Viktor Orban, alguns criticam abertamente as políticas do líder húngaro. É o caso do conservador alemão Elmar Brok.
"Orban é mais inteligente e menos ideológico do que Kaczinsky por isso evitou aprofundar essa questão. Mas temos que ter cuidado com esse país e mantermo-nos vigilantes. Para que isto não avance", adianta Brok.
No entanto, o líder do grupo do PPE defende que apesar dos debates internos, o partido apoia Orban nestas eleições.
"O partido Fidesz está a fazer um bom trabalho na Hungria, temos bons níveis de crescimento económico. Por outro lado, Viktor Orban também contribuiu para interromper a imigração ilegal através da rota dos Balcãs. Isso foi bem recebido. É por isso que desejamos boa sorte e sucesso ao partido de Orban, o Fidesz, na Hungria. Esperamos que ele ganhe", disse Manfred Weber. O líder do PPE acrescenta "o PPE é a maior família política na União Europeia, temos poder e muita influência. Mas acolhemos também uma gama variada de ideias. Por isso é normal haver um debate interno sobre algumas das questões. Nós gostamos destas discussões abertas sobre a direção da família do PPE. Quanto ao resto, cabe aos eleitores húngaros decidirem a direção futura do seu país".
A extrema-direita no parlamento europeu está do lado de Orban. O eurodeputado britânico de extrema-direita Nigel Farage não esconde a sua admiração pelo líder húngaro.
"Penso que Orban é o líder europeu mais forte neste momento. Ele defende o estado-nação. Ele defende o que considera serem os valores judaico-cristãos do seu país. Teve a coragem de enfrentar Soros e outros como ele. As pessoas gostam disso. Se eu fosse húngaro saberia exatamente em quem votar", defende Farage.
Posição idêntica é defendida pela extrema-direita italiana.
"Penso que sob determinado ponto de vista, o governo húngaro fez o que foi necessário para defender os interesses dos húngaros, ao contrário de outros governos europeus", afirma o líder da Liga, Matteo Salvini.
Tibor Navracsics fazia parte do partido Fidesz antes de vir para Bruxelas. Enquanto ministro da Justiça é a ele que se devem algumas das leis mais controversas do país.
"Existem muitos debates entre a Hungria, a União Europeia e a Comissão Europeia. Neste aspeto, a Hungria não está numa situação excecionalmente difícil. Por outro lado, a Polónia ou a Roménia também estão envolvidas em muitos debates e as relações com as instituições europeias não são pacíficas. Também posso mencionar outros membros da Europa ocidental", afirma o comissário húngaro responsável pela Educação, Cultura, Juventude e Desporto. Navracsics termina dizendo "algo parece estar fora de dúvida; estes debates têm dado visibilidade à Hungria. Independentemente de ser bom ou mau, cada um deve escolher de acordo com o seu temperamento".