Vitória de Orbán dificulta refundação europeia, sobretudo na migração

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Direitos de autor REUTERS/Leonhard Foeger
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De  Efi KoutsokostaIsabel Marques da Silva
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A retumbante vitória do ultranacionalista Viktor Orbán nas eleições legislativas na Hungria complica as relações com a União Europeia, que atravessa um processo de refundação, particularmente em relação à gestão dos fluxos migratórios.

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A retumbante vitória do ultranacionalista Viktor Orbán nas eleições legislativas na Hungria, em que a extrema-direita surgiu como segunda força politica, complica as relações com a União Europeia, que atravessa um processo de refundação, particularmente em relação à gestão dos fluxos migratórios.

O primeiro-ministro reeleito recebeu as felicitações de outros partidos ultraconservadores e de Manfred Weber, líder do Partido Popular Europeu, família politica a que o Fidesz pertence no Parlamento Europeu. Mas Weber alertou para a necessidade de respeitar os valores europeus, tendo o líder dos liberais, Guy Verhofstadt, feito a mesma advertência.

A política de asilo será muito difícil de reformar na União com líderes como Orban, que mandou construir vedações e que defende grandes restrições na entrada de pessoas.

"A crise migratória de 2015 mudou o panorama, aumentado a politização desse tema que, até então não tinha sido um problema aproveitado pelos populistas nessa região da Europa. A migração foi tornada uma arma para alimentar o euroceticismo, misturando tudo numa espécie de cocktail anti-sistema político, que combina fatores internos e externos", explicou, à euronews, Paul Taggart, analista político e professor na Universidade de Sussex (Reino Unido).

Apesar de França, Holanda e Alemanha terem conseguido travar a onda nacionalista nas suas mais recentes eleições, esta vitória na Hungria vem reforçar o círculo de países que querem impor essa agenda, incluindo República Checa e Áustria.

"O paradoxo é que o populismo se impôs utilizando as preocupações políticas internas, existentes no coração do país. Às vezes, essa agenda pode ser vista como estando contra a União Europeia e a a sua maior integração, mas não nasceu, necessariamente, como um projeto antieuropeu", refere o analista.

A Hungria é um das vozes mais dinâmicas do grupo de Visegrado que é composto, ainda, por Polónia, República Checa e Eslováquia. Um bloco pouco permeável ao projeto europeu mais federalista promovido pelo presidente francês, Emmanuel Macron.

"O fenómeno Macron é típico do sistema politico francês, mas há o risco de se tentar ver esse fenómeno como uma resposta geral para toda a Europa. Mas o facto é que há muitas questões especificamente francesas, ligadas à política interna, que permitiram o sucesso de Macron. Em segundo lugar, Macron foi muito bem-sucedido no processo para ser eleito, mas temos de ver quão bem-sucedido sera no seu governo", adverte Paul Taggart.

A Hungria é alvo de pressão por parte do Parlamento Europeu para que se aplique o artigo 7º do Tratado da União Europeia por violação do Estado de direito. 

"Há um debate político que talvez seja mais importante do que qualquer ação legal. Magoa-nos muito o facto de, nos últimos três anos, as instituições europeias não terem feito o suficiente para gerar um debate sobre valores europeus e sobre a necessidade de serem cumpridos por todos os Estados-membros", referiu, à euronews, Laszlo Andor, economista húngaro e ex-comissário europeu .

Apesar de sucessivas manifestações populares nas ruas contra Orban por causa do afastamento dos valores europeus e de suspeitas de envolvimento em casos de corrupção com fundos comunitários, a oposição de centro-esquerda revelou-se um fracasso nas urnas.

A Hungria segue, assim, os passos da Polónia no desafio a Bruxelas, mas será que o contágio vai continuar?

"O facto de a Hungria e da Polónia se terem desviado, de forma similar, do sistema europeu estabelecido e entrado deliberadamente em confrontação com as instituições da União Europeia ao nível das políticas, regras e valores europeus, não significa que essa atitude se vá espalhar como uma epidemia noutros países. Penso que houve outros países que enfrentaram crises sem que tal tivesse levado a um profunda mudança constitucional, tal como aconteceu na Hungria e se está, também, a passar na Polónia", afirmou Laszlo Andor.

A Comissão Europeia vai apresentar, em breve a proposta de orçamento para 2021-2027 e tem havido discussões sobre sancionar os países que se desviam dos valores europeus através do corte nos fundos comunitários.

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