Funerais em tom de protesto na Nicarágua

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De  Antonio Oliveira E Silva  com EFE
Funerais em tom de protesto na Nicarágua

Tiveram lugar, na Nicarágua, os funerais das mais recentes vítimas do conflito que opõe manifestantes ao Governo do presidente Daniel Ortega e que já deixou pelo menos 350 mortos e cerca de dois mil feridos.

Forças do Executivo mantinham, no início da semana, isolada a cidade de Masaya, na região metropolitana de Manágua, a 27 quilómetros da capital. 

Patrulhas armadas levaram a cabo um intenso ataque que teve como a comunidade de Monimbó, numa das zonas onde mais se fez sentir resistência ao presiente Ortega, desde o início das convulsões sociais do passado mês de abril.

Os grupos armados levaram também a cabo ataques contra a localidade vizinha de Nindirí, situada entre Manágua e Masaya.

A Alta Representante para a Política Externa e de Segurança da União Europeia, Federica Mogherni, pediu ao Governo da Nicarágua para pôr fim à violência "de forma imediata" no país centro-americano.

De acordo com a delegação do bloco europeu na Nicarágua e perante o Sistema para a Integração Centro-Americana, SICA, a Alta Comissária escreveu ao ministro dos Negócios Estrangeiros (Relações Exteriores) da Nicarágua, Denis Moncada.

Mogherini lamentou "a morte de inocentes" e fez um chamamento para que a Justiça da Nicarágua não deixe de perseguir os responsáveis pelas "mortes de inocentes" pediu o fim do que definiu como "grupos armados fora da lei."

A Alta Comissária para a Politica Externa europeia disse que a União estava disposta a acompanhar o diálogo entre a Aliança Cívica, que representa a população, e o Governo de Daniel Ortega. 

Bruxelas tem destinados cerca de 300 mil euros para assistência médica às vítimas e para apoiar várias organizações de defesa dos Direitos Humanos.

A Comissão Interamericana dos Direitos Humanos, (CIDH) e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH) responsabilizam o Governo da Nicarágua por "assassinatos, execuções extra-judiciais, maus tratos, possíveis torturas e detenções arbitrárias contra a população mais jovem do país, acusações negadas pelo Executivo de Manágua.

Para o Governo de Daniel Ortega, os manifestantes são parte de "grupos terroristas."

A Nicarágua passa pela crise social e política mais violenta desde os anos 80. Os protestos contra Daniel Ortega começaram em abril, por causa de uma reforma da Segurança Social falhada. 

As manifestações subiram de tom, tendo a cidadania exigido que o presidente abandonasse o cargo, depois de 11 anos no poder.

Reuters
Desde o início da crise social e política que atravessa a Nicarágua, em abril, já morreram pelo menos 350 pessoas. O presidente Daniel Ortega fala na necessidade de controlar "terroristas e delinquentes."Reuters

O presidente Daniel Ortega é acusado de abuso de poder e de corrupção pela oposição e por movimentos de estudantes.

Esta terça-feira, o Ministério Público acusou o ativista Medardo Mairena de crime organizado, terrorismo e pelo assassinato de quatro agentes das autoridades.

A Justiça diz que Mairena, que participa no chamado diálogo nacional como interlocutor, juntamente com Pedro Mena, outro dos ativistas e dirigentes críticos com o Governo, é responsável pelos crimes de sequestro, roubo e danos à propriedade privada.