Gado bovino atrapalha acordo entre União Europeia e Mercosul

Vacas irlandesas na frente da resistência contra abertura à América do Sul
Vacas irlandesas na frente da resistência contra abertura à América do Sul Direitos de autor REUTERS/ Cathal McNaughton/ Arquivo
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De  Francisco Marques com AFP, Reuters
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Produtores europeus questionam cedências de quotas aos concorrentes sul-americanos e apontam dedo à alegada concorrência desleal nas normas de produção

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As explorações de gado de bovino prometem ser um dos maiores obstáculos à aprovação do acordo comercial anunciado no final de junho entre a União Europeia (UE) e a Mercosul.

Os produtores europeus questionam as cedências incluídas nos termos do acordo com o mercado comum das maiores economias da América do Sul e apontam o dedo à alegada concorrência desleal devido aos critérios de produção exigidos pela UE e os permitidos pela Mercosur.

O acordo com Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai ainda terá de ser aprovado pelo novo Parlamento Europeu e pelos 28 Estados-membros.

Por isso, na Irlanda, cerca de 3000 produtores de gado (números da organização) concentraram-se em Dublin, diante do Parlamento nacional, para pressionar os respetivos deputados no sentido de rejeitarem o acordo.

Os profissionais irlandeses do setor da pecuária reclamam de "uma Europa de duas faces" perante o gado bovino.

"Por um lado, coloca restrições ambientais aos agricultores por toda a Europa e obrigam-nos a trabalhar de uma forma mais ecológica. Por outro, de repente, aceitam um acordo com um país que desrespeita totalmente esses princípios", afirmou Hugh Doyle, um produtor de gado irlandês e copresidente do Movimento "BeefPlan", citado pela France Press (AFP).

Portugal atento

Em Portugal, a Federação Nacional das Cooperativas de Produtores Pecuários também já se mostrou "profundamente preocupada com as concessões feitas no capítulo agrícola", em especial "no setor da carne de bovino e aves".

O presidente da Fenapecuária denuncia "o que está em cima da mesa neste acordo entre a UE e o Mercosul" como "demasiado penalizador para toda a fileira da pecuária a nível Europeu".

"Se nada for alterado, estamos a falar de concorrência desleal, pois não competimos com as mesmas regras quanto à forma de produzir. A ideia que o acordo veicula é a de que os países europeus estão a oferecer a agricultura, o setor pecuário em particular, como moeda de troca de eventuais interesses em outras áreas industriais", afirmou Idalino Leão, apelando à proteção do setor pela Assembleia da República.

Em França, exige-se que o Brasil respeite os termos do Acordo de Paris e pare com a destruição da Amazónia. Mas também "as normas sanitárias" seguidas pelos países do Mercosul.

"Através deste acordo, esperamos ser capazes de garantir o respeito dos critérios europeus, não só nos produtos, mas também no processo de produção", expressou a porta-voz do governo francês, Sibeth Ndiaye.

20 anos a negociar

O acordo entre a União Europeia e a Mercosul está a ser negociado há 20 anos, foi anunciado a 28 de junho e abre a perspetiva de um mercado comum euro-sul-americano com quase 800 milhões consumidores.

O acordo prevê por exemplo ao Brasil e à Argentina uma quota de exportação para a Europa a rondar as quarenta mil toneladas de carne de bovino, com tarifa reduzida ou mesmo tarifa zero.

O Brasil é considerado o maior exportador mundial de carne bovina, com vendas estimadas só em 2018 na ordem dos €6,2 mil milhões. Embora a Europa não seja o principal destino da carne brasileira, é o cliente que melhor paga pela carne de primeira qualidade, sublinhou recentemente, em entrevista à Reuters, Antônio Camardelli, o presiente da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (ABIEC).

Camardelli perspetiva, pelo acordo com a União Europeia, um aumento das vendas de carne brasileira para a Europa até 42,5% da nova quota de 99 toneladas anuais de exportações de carne bovina do Mercosul para a UE, com uma taxa reduzida para 7,5% de outras atualmente em vigor entre os 12,8% e os 20%.

Os termos do acordo, se vier a ser aprovado na UE, prevê ainda a redução de 20% para zero o imposto sobre as importações europeias de carne bovina no âmbito da chamada "quota Hilton", pela qual Argentina e Brasil estão autorizados cada a exportar 10 toneladas de carne bovina e 29,5 toneladas de carne bovina de primeira qualidade anualmente para a UE.

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